Evolução dos casos e óbitos por Covid-19 em Santa Catarina até o mês de julho de 2021

05/08/2021 10:53

Por: Lauro Mattei[1]

Esse texto faz uma breve análise da evolução agregada dos casos e óbitos por Covid-19 em Santa Catarina desde o início da pandemia. A tabela 1 apresenta a evolução dos casos oficiais a cada mês entre março de 2020 e julho de 2021. Inicialmente destacam-se alguns indicadores relativos ao primeiro surto que ocorreu entre os meses de junho e agosto 2020. Em termos da velocidade de circulação da doença no estado, nota-se que se passaram 113 dias para se atingir a marca de 30 mil casos (início do mês de julho), patamar que foi reduzido para 20 dias em meados de julho e para 11 dias no auge do primeiro surto epidêmico ocorrido entre o final de julho e primeira quinzena de agosto de 2020. Além disso, a média móvel semanal atingiu seu pico máximo no final de julho ao se situar no patamar de 2.500 casos/dia.

Tabela 1: Evolução mês a mês dos casos oficiais da Covid-19 em SC entre março de 2020 e julho de 2021

T1

Fonte: Boletins Epidemiológicos. SES-SC. Elaboração: NECAT-UFSC

Após uma ligeira arrefecida nos meses de setembro e outubro de 2020, os casos voltaram a crescer fortemente nos meses de novembro e dezembro de 2020, sendo que nesse último mês foi registrado o segundo maior patamar de casos oficiais ocorridos até o momento. Quando somados, esses dois meses representavam 48% de todos os casos registrados no ano de 2020.

O segundo surto contaminatório – iniciado ainda em novembro de 2020 – teve forte continuidade nos sete primeiros meses de 2021, sendo que entre janeiro e julho foram notificados 621.174 casos, o que corresponde a 56% do total de casos documentados até o final de julho. Assim, quando se soma os registros do segundo grande surto (novembro/20 a julho/21) chega-se a 854.817 registros, o que corresponde a 77% do total de pessoas contaminadas pela doença no estado.

Esse avanço da doença, especialmente durante o segundo surto epidêmico no ano de 2021, mantém correspondência também com o crescimento expressivo do número de óbitos, indicador que sofreu uma expansão explosiva em 2021, particularmente entre os meses de março e junho, conforme veremos na sequência.

A Tabela 2 apresenta a evolução agregada a cada mês dos óbitos que ocorreram em santa Catarina desde o início da pandemia. Inicialmente é importante registrar que as taxas de crescimento nos meses iniciais apresentam um percentual bastante elevado em função de que o número absoluto de ocorrências era extremamente baixo até o mês de junho de 2020. Com o surgimento do primeiro surto expressivo da doença nos dois meses seguintes, esse panorama se alterou, fazendo com que essas taxas refletissem mais adequadamente a realidade. Desta forma, nota-se que o aumento mais expressivo do número de óbitos só vai acontecer a partir do mês de julho de 2020, com forte expansão no mês seguinte. Em termos percentuais, essas ocorrências nesses dois meses (julho e agosto) representam 10,5% de todos os óbitos que ocorreram no estado até o momento.

Outro aspecto importante a ser mencionado é que nos oito primeiros meses (março a outubro de 2020) os óbitos registrados representam apenas 17,5% do total de mortes que ocorreram durante toda a pandemia. Se a esse percentual for somada a participação dos óbitos ocorridos no mês de novembro, chega-se ao patamar de 21%, ou seja, em nove meses de pandemia (de março a novembro de 2020) ocorreram apenas 21% do total de mortes registradas no estado.

Além disso, observa-se que no mês de dezembro de 2020 houve um aumento de 40% do número de óbitos em relação ao mês anterior. Com isso, somente esse mês responde por 8,5% do total dos óbitos ocorridos até 31.07.2021. Isso significa que nos 10 primeiros meses de pandemia (março a dezembro de 2020) ocorreram 29,5% do total de mortes registradas até o momento. Ou seja, os óbitos ocorridos por Covid-19 em SC no ano de 2020 representam menos de 30% do total de mortes registradas pela doença até 31.07.2021.

Tabela 2: Evolução mês a mês dos óbitos por Covid-19 em SC

T2

Fonte: Boletins Epidemiológicos SES-SC. Elaboração: NECAT-UFSC

A partir da virada do ano observou-se um aumento expressivo dessas ocorrências em relação ao total registrado nos meses anteriores. Nos dois meses iniciais de 2021 (janeiro e fevereiro) os óbitos registrados passaram a responder por aproximadamente 11,5% do total de mortes ocorridas no estado. Já no mês de março de 2021 foi registrada uma grande explosão do número de óbitos, uma vez que somente nesse mês foram registradas 19,5% do total de mortes que ocorreram no estado em 13 meses de pandemia. Isso significou um crescimento de 48% em relação ao total existente até o mês anterior. Essa escalada de óbitos continuou nos quatro meses seguintes (abril a julho), quando foram registradas mais 7.093 mortes, o que corresponde a 39,5% do total. Com isso, nota-se que somente em cinco meses de 2021 (março a julho) ocorreram 59% do total de óbitos registrados no estado. Se a este percentual for somado os percentuais dos meses de janeiro e fevereiro, verifica-se que aproximadamente 71% de todos os óbitos registrados no estado ocorreram nos sete primeiros meses de 2021.

Comentários Finais

As informações consideradas neste breve artigo revelam que, tanto o número de casos como de óbitos, apresentaram uma redução expressiva no mês de julho de 2021. Assim, observa-se que os casos tiveram uma redução da taxa de crescimento de 20% ao mês, registrada em março/21, para 6% no mês de julho/21. Já os óbitos tiveram uma redução de 48% ao mês para 6,5%, no mesmo período.

Para se analisar esse comportamento da doença recentemente, devem ser considerados dois importantes fatores. Por um lado, registre-se que recentemente o governo estadual promoveu uma flexibilização geral das medidas preventivas que estavam em curso há meses e, por outro, observa-se certa normalização da doença por parte do conjunto da população.

Tais fatores poderiam ter induzido a uma nova escalada de contaminação no estado. Todavia, a média semanal móvel, tanto de casos como de óbitos, apresentou uma tendência de queda consistente ao longo de todo o mês de julho, ainda que ambas se mantenham em patamares elevados.

Com isso, uma possível explicação recai sobre o processo de vacinação da população catarinense, uma vez que o avanço verificado recentemente, principalmente nos meses de junho e julho de 2021, pode ser um dos fatores determinantes desse comportamento positivo do controle da pandemia no momento. Se essa hipótese ficar constatada como verdadeira, será possível creditar ao atraso no início da vacinação a responsabilidade por um número elevado de óbitos, os quais poderiam ter sido evitados.


[1] Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais e do Programa de PósGraduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador Geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. Email: l.mattei@ufsc.br  Artigo escrito em 05.08.2021