Indústria catarinense expande em agosto, mas ritmo ainda é débil

16/10/2023 19:10

Matheus Souza da Rosa*

A produção física industrial catarinense expandiu em 0,5% na passagem entre julho e agosto, revertendo em parte o resultado negativo que foi registrado no mês anterior. Na comparação com agosto de 2022 registrou-se a primeira expansão da série mensal em relação aos meses do ano anterior, com variação de 0,2%. Em termos acumulados, contudo, mantêm-se as quedas, com retrações de -3,1% e -3,8% nas séries anual e de doze meses, ainda não tendo sido registrado nenhum saldo positivo por essas perspectivas em 2023.

A trajetória do índice agora segue o exposto no Gráfico 1. Segue vigente o diagnóstico de estagnação que se observa no saldo do período 2020-ago/2023, a despeito da leve reação no resultado de agosto. Em 2023 a norma tem sido de instabilidade, com as variações mensais desenhando movimentos pendulares desde janeiro. Frente o nível produtivo de janeiro, a comparação agora retorna expansão líquida de 2,2%, mantendo-se também o descompasso apenas ligeiramente positivo na comparação com o índice nacional do mesmo período.

Gráfico 1 – Índice de produção física industrial com ajuste sazonal (jan/2020 = 100)

Fonte: IBGE – PIM-PF Regional. Elaboração: Necat/UFSC

Explicam esse movimento em 2023, principalmente, os desaquecimentos das demandas interna e externa. Internamente, o peso do juro real elevado segue deprimindo o consumo e o investimento, o que para indústria se reverte em desincentivo para o aumento da produção. Externamente, a desaceleração da economia chinesa e o movimento combinado de aumento dos juros na maior parte do mundo (OECD, 2023) diminui a demanda por exportações, o que afeta especialmente os setores industriais de forte conexão com o mercado externo.

Em termos regionais, os resultados se dispuseram conforme consta no Gráfico 2. Na série mês a mês houve expansões em 9 das 14 UFs presentes na pesquisa, com liderança das altas registradas no Amazonas (-11,5%), no Espírito Santo (5,2%), no Rio Grande do Sul (4,3%) e no Paraná (3,5%) Das 5 UFs que regrediram, por outro lado, destacaram-se as perdas no Pará (-9,0%), na Bahia (-4,1%), no Ceará (-3,8%) e em Pernambuco (-1,7%). Destaca-se que a expansão catarinense foi a que apresentou menor ritmo entre as variações positivas, ainda que tenha se mantido ligeiramente acima da média nacional (0,4%).

Gráfico 2 – Produção física industrial, mês/mês anterior, por UF (agosto de 2023)

Fonte: IBGE – PIM-PF Regional. Elaboração: Necat/UFSC 

No que concerne às variações por setores de atividades pode-se conferir o Gráfico 3. Na ótica mensal frente agosto de 2022 registraram-se 8 expansões e 6 retrações, sendo os destaques positivos por conta das atividades de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (14,7%), de produtos de borracha e de material plástico (13,8%), de produtos químicos (12,1%) e de produtos de minerais não-metálicos. Entre os setores que regrediram despontaram fabricação de móveis (-23,1%), mantendo-se a trajetória amplamente negativa que se verificou nos meses anteriores, artigos de vestuário e acessórios (-15,6%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-8,0%) e metalurgia (-5,3%).

Já em termos do acumulado anual o quadro é mais negativo, com variações concentradas em 10 das 14 atividades. Regrediram com especial velocidade na comparação com o acumulado do mesmo período de 2022 as atividades de fabricação de móveis (-17,3%), de artigos de vestuário e acessórios (-10,5%), de produtos de minerais não-metálicos (-10,5%) e de metalurgia, as mesmas que puxaram as retrações mensais. Contrariando a tendências das demais atividades, seguem com saldos positivos em relação ao acumulado de 2022 os segmentos de produto de borracha e de material plástico (6,4%), de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (3,7%), de máquinas e equipamentos (3,0%) e de produtos químicos (1,2%).

Vale destacar que as atividades que mais regrediram em ambas as séries possuem demanda fortemente vinculada ao setor interno, o que, como hipótese, parece indicar que o desaquecimento da demanda interna tem sido o principal vetor de desaceleração da produção física em Santa Catarina. Por outro lado, setores como máquinas aparelhos e materiais elétricos e produtos alimentícios, ambos que representam as maiores parcelas do valor dos produtos exportados no estado, possuem resultados positivos em relação a 2022, ainda que mais no primeiro do que no segundo, o que indica uma certa resiliência dessas atividades frente ao ritmo enfraquecido da economia mundial.

Gráfico 3 – Produção física industrial por setores de atividades, mês/mês ano anterior e acumulado anual, Santa Catarina (agosto de 2023)

Fonte: IBGE – PIM-PF Regional. Elaboração: Necat/UFSC

Como prognóstico para os próximos meses, podem-se esperar resultados ligeiramente melhores, especialmente porque se projeta a continuidade do ciclo de queda das taxas de juros e porque os resultados do PIB têm surpreendido positivamente (Agência Brasil, 2023). Em nível externo, contudo, mantém-se a previsão de manutenção do ritmo arrefecido, o que deverá contrabalancear a retomada via demanda interna. Parece-nos seguro afirmar que apenas quando ocorrer uma retomada conjunta das demandas interna e externa poderá ser superado o atual quadro de estagnação e ritmo débil.

Referências

AGÊNCIA BRASIL. FMI eleva para 3,1% previsão de crescimento para Brasil em 2023. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2023-10/fmi-eleva-para-31-previsao-de-crescimento-para-brasil-em-2023>. Acesso em 12 de outubro de 2023.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal Industrial. Produção Física Regional (PIM-PF Regional). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, agosto de 2023.

OECD – Organization for Economic Co-operation and Development. OECD Economic Outlook: confronting inflation and low growth, September 2023. Disponível em: <https://www.oecd.org/economic-outlook/september-2023/>. Acesso em: 29 de setembro de 2023.


*Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do Necat/UFSC. Email: matheusrosa.contato@outlook.com.

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