Indústria catarinense mantém trajetória de estagnação pelo terceiro mês consecutivo

10/11/2023 14:45

Matheus Souza da Rosa*

A produção física industrial de Santa Catarina, pelo terceiro mês consecutivo, registrou resultado próximo à estagnação. Com a variação de -0,2% registrada na passagem entre agosto e setembro, a indústria catarinense manteve a trajetória característica de 2023, consolidando a quinta retração do ano na série mensal com ajuste sazonal. Na comparação com setembro de 2022, por sua vez, houve registro de expansão em 0,9%, resultado esperado, dado que a base de comparação de setembro passado é bastante reduzida. Em termos acumulados, seguem os registros retrativos: pela perspectiva anual, variação de -2,6%; pela ótica dos doze meses, variação de -3,1%.

A trajetória recente da produção física industrial em Santa Catarina segue o exposto no Gráfico 1. Com o resultado de setembro, o índice mantém a tendência que está consolidada desde o início de 2023, caracterizada pela oscilação de resultados positivos e negativos, sem consolidação de movimentos disruptivos em qualquer direção. No saldo do período exposto pelo Gráfico, nota-se um saldo de estagnação, mesmo com as bruscas variações que decorreram da pandemia da Covid-19. Em termos gerais, a trajetória catarinense se assemelha ao movimento estabelecido nacionalmente.

Gráfico 1 – Índice de produção física industrial com ajuste sazonal (jan/2020 = 100)

Fonte: IBGE – PIM-PF Regional. Elaboração: Necat/UFSC

Seguem como condicionantes desses resultados os fatores de desaquecimento da demanda interna e externa. Internamente, ainda não se esgotaram os impactos do ciclo de alta da taxa de juros, os quais possivelmente continuarão ainda alguns meses por conta dos efeitos em defasagem. Além disso, fatores como o endividamento das famílias e o baixo nível da formação bruta de capital fixo devem continuam atuando como elementos de desaceleração da demanda agregada, com possíveis impactos sobre a produção industrial no curto e no médio prazo (IPEA, 2023). Externamente, segue-se o cenário de desaceleração que marcou os últimos anos e foi intensificado pelos choques causados pela pandemia e pela guerra na Ucrânia. O movimento combinado de aperto na política monetária que marca a conjuntura desde o segundo semestre de 2022, além disso, deve seguir por mais alguns meses, dadas as novas previsões de pressão inflacionária, o que promete alongar ainda mais o período de crescimento reduzido (Bloomberg, 2023).

No que concerne à manifestação regional do resultado de setembro, tem-se o exposto no Gráfico 2. Houve 6 registros expansivos, 8 negativos e 1 estagnação absoluta na comparação com o índice de agosto, configurando uma leve maioria retrativa. Lideraram as quedas Pernambuco (-12,8%), Amazonas (-6,1%), Rio Grande do Sul (-5,4%) e Espírito Santo (-4,8%). No polo oposto, apareceram positivamente as expansões no Pará (16,1%), no Rio de Janeiro (3,1%), no Ceará (2,2%) e no Paraná (1,8%). A variação catarinense, por sua vez, situou-se próxima ao registro nacional, com leve diferença negativa.

Gráfico 2 – Produção física industrial, mês/mês anterior, por UF (setembro de 2023)

Fonte: IBGE – PIM-PF Regional. Elaboração: Necat/UFSC

Do ponto de vista desagregado, o Gráfico 3 mostra a continuidade do quadro hegemonicamente negativo. Pela série acumulada no ano, 10 dos agrupamentos de indústria registram quedas a partir dos resultados de setembro, com liderança dos setores de fabricação de móveis (-18,5%), de artigos de vestuário e acessórios (-10,5%), de produtos de minerais não metálicos (-10,0%), de metalurgia (-8,9%) e de produtos de madeira (-8,9%). Apenas os segmentos produtores de produtos de borracha e de material plástico (7,0%), de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (5,5%), de máquinas e equipamentos (2,8%) e de produtos químicos (1,7%). Já pela série mensal, em relação a setembro de 2022, notaram-se resultados na mesma linha dos acumulados, sem nenhum movimento revelador de possibilidade de contratendência.

Gráfico 3 – Produção física industrial por setores de atividades, mês/mês ano anterior e acumulado anual, Santa Catarina (setembro de 2023)

Fonte: IBGE – PIM-PF Regional. Elaboração: Necat/UFSC

Como prognóstico para os próximos meses, consta a expectativa de manutenção do cenário, principalmente ao levar em consideração as novas projeções da demanda mundial. Com a resiliência da inflação e a provável retomada do ciclo de alta dos juros na economia norte-americana, pode-se esperar a continuidade da desaceleração da atividade econômica, além da piora das condições liquidez para novos investimentos no Brasil e no terceiro mundo em geral. No que concerne às expectativas nacionais, espera-se que os impactos positivos provenientes do relaxamento dos juros efetivem-se apenas a partir de 2024, de modo que para os três meses restantes de 2023 a expectativa é de manutenção da conjuntura.

Referências 

BLOOMBERG. Inflação persistente mantém a possibilidade de novo aumento de juros nos EUA. Disponível em: <https://www.bloomberglinea.com.br/mercados/inflacao-persistente-mantem-a-possibilidade-de-novo-aumento-de-juros-nos-eua/>. Acesso em: 8 de novembro de 2023.

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Indicador IPEA mensal de FBCF. Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2023/10/indicador-ipea-mensal-de-fbcf-resultado-de-agosto-de-2023/>. Acesso em: 8 d


* Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (Necat/UFSC). Email: matheusrosa.contato@outlook.com.

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