Mesmo com menor intensidade que no ano anterior, emprego formal catarinense volta a crescer em janeiro

07/04/2022 12:36

Andrey de Paula e Silva[*] 

Victor Hugo Azevedo Nass[**]

Dando sequência aos acompanhamentos mensais publicados no blog do Necat, o objetivo deste texto é analisar o comportamento do mercado formal de trabalho do Brasil e de Santa Catarina em janeiro de 2022, a partir dos resultados do Novo CAGED[1]. Para isso, serão analisados os saldos mensais e as variações relativas do emprego formal por grupamento de atividade econômica, gênero, escolaridade, faixa de remuneração e mesorregião geográfica.

De acordo com a Tabela 1, em janeiro o Brasil apresentou saldo positivo de 155,1 mil vínculos formais de trabalho, obtendo uma expansão dos estoques em 0,4% no mês. Já Santa Catarina teve saldo positivo de 23,3 mil vínculos, e uma alta de 1% em seu estoque de vagas formais. O mês de janeiro, tanto nacional quanto regionalmente, apresentou continuidade da expansão do emprego formal visto durante o ano passado. Porém essa expansão foi insuficiente para recuperar as perdas registradas em dezembro. Ainda além, o saldo de janeiro de 2022 é consideravelmente menor que o de janeiro de 2021.

Tabela 1 – Evolução mensal de estoque, admissões, desligamentos, saldo e variação percentual (Brasil e Santa Catarina, janeiro de 2021 a janeiro de 2022)

T1

Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

No acumulado de 12 meses[2] foram abertas no Brasil 2,6 milhões de vagas de trabalho formal, o que representa um crescimento de 6,9% do emprego formal no país. Já Santa Catarina abriu quase 160 mil vagas no último ano, crescendo até mais que o país, 7,5%.

Evolução do emprego formal no Brasil

Conforme os dados contidos na Tabela 2, o setor de serviços foi o setor onde se obteve o maior saldo em janeiro, com 102 mil novas vagas formais de trabalho, com destaque para as atividades administrativas e serviços complementares, que tiveram saldo de 34 mil. Em termos relativos, o setor teve alta de 0,5% no mês e de 7,0% no acumulado em 12 meses.

Tabela 2 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Brasil, janeiro de 2022)

T2

Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

O setor industrial obteve o segundo maior saldo mensal, com 51,4 mil novas vagas. Isso equivale a uma alta no mês de 0,7% e um acúmulo anual de 5,8%. Se destacam neste setor a preparação de couros e a fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem a calçados, que trouxe 6,4 mil novas vagas formais de trabalho, assim como a manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos, que representou 6 mil novas vagas formais.

A construção deu início a 2022 com o melhor desempenho acumulado, com alta de 11,3%, tendo uma alta de 1,6% no mês, com seu saldo de 36,8 mil vagas. O subsetor de construção de edifícios foi o protagonista desse desempenho positivo sendo responsável por 39% do saldo, possuindo 14 mil novas vagas.

A agropecuária obteve saldo de 25 mil vagas no mês, registrando um crescimento da ordem de 1,5%. Vale o destaque para a produção de soja e maçã, que somam em conjunto 21 mil novas vagas. O setor obteve um acréscimo de 1,5% no mês, e uma alta de 8,4% no acumulado do ano.

O  único setor em que houve queda foi o de comércio, apresentando um saldo negativo de 60 mil vínculos, com decréscimo de 0,6% nas suas vagas formais. Os desligamentos em comércios de varejo, em específico super e hipermercados, por conta do fim das ocupações de fim de ano, foram o principal fator para deprimir o saldo, considerando 18 mil demissões somente neste subsetor.

A Tabela 3 apresenta o saldo de vínculos formais de trabalho por sexo no Brasil. Houve uma maior participação da força de trabalho masculina tanto no mês de janeiro (saldo de 109 mil homens, face a 45 mil mulheres), como também no acumulado do ano (diferença de 147 mil vagas a mais para os homens).

Tabela 3 – Saldo por sexo (Brasil, janeiro de 2022)

T3

Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 4 apresenta a distribuição do saldo de empregos formais por nível de escolaridade. Em janeiro, não houve nenhum grau de escolaridade que apresentou saldo negativo. A faixa de trabalhadores que possuem ensino médio completo teve o maior saldo, chegando a 89 mil novas vagas. Obtendo o segundo maior saldo, as novas vagas formais para a faixa de ensino superior completo atingiram 26 mil. No acumulado do ano, a faixa de trabalhadores com ensino médio completo se sobrepõem diante das outras, possuindo mais de 70% de todo o acumulado.

Tabela 4 – Saldo por nível de escolaridade (Brasil, janeiro de 2022)

T4

Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 5 apresenta a distribuição do emprego formal por faixa de remuneração. Em janeiro, foram abertas 117,1 mil vagas com remuneração entre 1 a 2 salários mínimos, o que corresponde a 75% do saldo mensal. Complementarmente, foram geradas 19,9 mil novas vagas formais de trabalho na faixa de 2 a 3 salários mínimos, todavia esse saldo representa somente 12% do agregado, mesmo sendo o segundo maior saldo. A faixa de até 0,5 salários mínimos foi a única que apresentou retração no período, tendo 10,2 mil vagas fechadas no mês de janeiro. Em relação ao acumulado do ano, observa-se que as ocupações com remuneração entre 1 e 2 salários mínimos representaram quase a totalidade das vagas geradas (1,9 milhões de vagas), revelando uma forte concentração do emprego formal nessa faixa salarial.

Tabela 5 – Saldo por faixa de remuneração (Brasil, janeiro de 2022)

T5

Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

Nota: Faixas de remuneração em salários mínimos de 2022 (R$ 1.212).

Evolução do emprego formal em Santa Catarina

O único setor que sofreu queda no primeiro mês do ano foi o setor de Comércio. O principal fator que levou a essa baixa foi a grande quantidade de desligamentos dentro do subsetor de comércio varejista não especializado (com destaque para o segmento de supermercados e hipermercados); e  no comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios, com saldos negativos de 1,7 mil e 929 vagas, respectivamente. Esses desligamentos são decorrentes do fim das contratações sazonais de final de ano no setor. Mesmo com saldo negativo no mês, o setor obteve no acumulado de um ano um crescimento de 7,0%.

 Tabela 6 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Santa Catarina, janeiro de 2022)

T6

Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

Na tabela 6, observamos que a indústria obteve o maior saldo de janeiro, tendo destaque na confecção de artigos do vestuário e acessórios, que teve saldo positivo 2,8 mil vagas. Apesar do maior saldo mensal, o setor da indústria teve o segundo menor resultado acumulado anual, atingindo 6,5%.

O setor de serviços foi o que obteve o segundo maior saldo no mês de janeiro (6,4 mil), mas  teve a segunda menor variação mensal (0,8%). Subsetorialmente, o melhor resultado foi registrado nos serviços de seleção e agenciamento de mão de obra, o qual obteve saldo de 1,6 mil postos formais de trabalho. No acumulado em 12 meses o setor de serviços apresenta a segunda maior taxa de crescimento, de 8,3%.

Os setores de agropecuária e construção, coincidentemente, obtiveram saldos semelhantes no mês de janeiro, porém com diferentes variações em seus percentuais mensais e anuais. O setor da agropecuária, impulsionado pela colheita da maçã, apresentou saldo de 2,9 mil novas vagas e foi o setor que obteve a maior variação mensal, atingindo 7,9%. No entanto, teve a menor variação anual, com expansão de somente 2,1%. Já o setor de construção, impulsionado pela construção de edifícios, registrou saldo de 2 mil vínculos no mês, o que equivale a uma variação de 3,2%. No acumulado anual, o setor atinge a marca dos 12,6% de crescimento, sendo esta a maior taxa dentre todos os setores.

Conforme a Tabela 7, no mês de janeiro, em Santa Catarina, 2/3 das vagas formais geradas foram ocupadas por homens (15 mil). Já as mulheres ocuparam uma quantidade consideravelmente menor, de 8 mil vagas formais. Entretanto, no acumulado do ano as mulheres possuem uma leve vantagem diante dos homens, possuindo 4 mil vagas a mais.

Tabela 7 – Saldo por sexo (Santa Catarina, janeiro de 2022)

T7

Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

Conforme indicam os dados contidos na Tabela 8, o grau de escolaridade mais comum entre as novas vagas formais de emprego foi o de ensino médio completo, tendo sido criadas 7,9 mil vínculos somente nessa faixa. Em seguida, as faixas de ensino médio incompleto e ensino fundamental incompleto apresentam valores semelhantes, com 5,7 e 5,3 mil novas vagas cada, respectivamente. A faixa de analfabetos foi a que apresentou o menor valor, com somente 143 novos postos formais de trabalho. Analisando o panorama anual, a faixa de ensino médio completo representa 64% do acumulado, com saldo de 102 mil novos vínculos, apresentando grande concentração nessa faixa de escolaridade.

Tabela 8 – Saldo por nível de escolaridade (Santa Catarina, janeiro de 2022)

T8

Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 9 apresenta a distribuição do emprego formal por faixa de remuneração. A faixa de 1 a 2 salários mínimos teve o maior saldo, de 14 mil vínculos formais, representando 62% do saldo total. O segundo maior saldo ocorreu na faixa de 0,5 a 1 salário mínimo, com saldo de 6 mil vagas. A faixa de 3 a 5 salários mínimos teve o menor saldo do mês, com apenas 354 vínculos. No acumulado do ano a faixa de 1 a 2 salários mínimos concentra quase todo o saldo estadual, com 150 mil vínculos formais de trabalho.

Tabela 9 – Saldo por faixa de remuneração (Santa Catarina, janeiro de 2022)

T9

Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

Com relação à distribuição mesorregional dos empregos formais (Tabela 10), destaca-se inicialmente a região do Vale do Itajaí, que registrou o maior saldo do mês de janeiro, mediante a abertura de 8,3 mil vaga. Em termos relativos, esse foi o segundo maior crescimento regional, com 1,4%.O bom desempenho do Vale do Itajaí foi impulsionado novamente pelo setor de serviços, com destaque para o segmento de seleção e agendamentos de mão de obra. No acumulado anual, a região cresceu 8,8%.

Tabela 10 – Saldo por mesorregião (Santa Catarina, janeiro de 2022)

T10

Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

No Oeste, o saldo foi de 5,5 mil vagas em janeiro, o que representa uma expansão de 1,4% do estoque de vagas formais. Esse resultado foi muito influenciado pela indústria alimentícia, em especial o abate e fabricação de produtos de carne e a fabricação de produtos de madeira. O acumulado do ano da mesorregião foi de 4,9%.

Na sequência, a região Norte apresentou um saldo positivo de 3,6 mil vínculos, com crescimento de 0,8%. O setor que puxou esse saldo, assim como na região do Vale do Itajaí, foi o setor de serviços, com ênfase na seleção e agendamentos de mão de obra, mas também houve contribuição  significativa do setor industrial.

O Sul Catarinense abriu 311 vagas em janeiro, adicionando 1,4% em suas vagas formais de trabalho. A confecção de artigos do vestuário e acessórios foi o principal fator para este aumento. Com isso, a região atingiu um saldo anual de 18 mil vínculos formais de trabalho e um aumento de 7,0% no ano.

A Grande Florianópolis teve saldo de mais de 3 mil trabalhadores formais no primeiro mês do ano, um acréscimo de 0,7% no seu estoque de postos formais de trabalho. Esse crescimento foi causado principalmente pela administração pública, em específico o setor de saúde humana e serviços sociais. Seu acúmulo do ano foi o maior entre as mesorregiões, atingindo 9,1%.

Por último, a região Serrana foi a que obteve a maior variação percentual mensal, de 2,7%, acumulando alta de 7,2% nos últimos 12 meses. O crescimento mensal na região contou com participação intensa do setor agropecuário, em especial o cultivo de maçãs.

Em síntese, os dados de janeiro mostram que o emprego formal em Santa Catarina continua em expansão, após a queda em dezembro, devido às reestruturações das empresas. Regionalmente, os maiores destaques ficam por conta do desempenho das regiões do Vale do Itajaí e Serrana. A indústria e os serviços foram fundamentais para o saldo atingido no mês, bem como a agropecuária, devido ao início da colheita da maçã. Tais atividades compensaram o saldo negativo do comércio, que encerrou os vínculos temporários do fim de ano. Além disso, segue intocada a tendência de geração de empregos de baixa qualidade: de baixa remuneração (salários mínimos entre 1 e 2) e baixa escolaridade.


[*] Estudante de Economia na UFSC e bolsista do Necat.

[**]  Estudante de Economia na UFSC e bolsista do Necat.

[1] Todos os dados apresentados neste texto foram coletados junto à base de dados do Ministério da Economia em 16/03/2022. Em razão das declarações fora do prazo e das revisões periódicas da base de dados, os dados podem divergir ligeiramente dos divulgados nas análises anteriores.

[2] A variação acumulada em 12 meses refere-se ao crescimento do estoque de empregos formais entre fevereiro de 2021 e janeiro de 2022.