Na linha dos resultados regionais, indústria catarinense retraiu em julho de 2023

18/09/2023 14:51

Matheus Souza da Rosa*

A produção física industrial de Santa Catarina regrediu -1,5% na comparação com o nível produtivo de junho, mês imediatamente anterior. Frente julho de 2022, houve retração de -3,1%, ampliando as perdas já consolidadas nos meses anteriores. Diante disso, o saldo perante o acumulado do mesmo período do ano passado agora registra retração de -3,6%, restando ainda pendente um primeiro resultado positivo por essa perspectiva em 2023.

Assim, o índice de produção física industrial com ajuste sazonal agora segue a trajetória exposta pelo Gráfico 1. Em 2023, com a instabilidade que consolidou retrações do nível produtivo em janeiro, março, maio e julho, o índice catarinense se aproximou da trajetória nacional, anulando na íntegra o descompasso relativamente positivo que foi produzido durante o segundo semestre de 2020.

Seguem como as hipóteses mais razoáveis para explicar essa desaceleração fatores como: 1) a manutenção do patamar elevado das taxas de juros, o que incide negativamente no nível de consumo agregado e no incentivo ao investimento produtivo; 2) o recorde histórico do índice de endividamento, cujo reflexo é o desaquecimento do consumo das famílias; e 3) a recente desaceleração da demanda do setor externo, especialmente proveniente da China, que introduz um incentivo negativo à produção industrial exportadora, especialmente em setores fortemente vinculados ao comércio internacional (Observatório FIESC, 2023).

Gráfico 1 – Índice de produção física industrial com ajuste sazonal (jan/2020 = 100)

Fonte: IBGE – PIM-PF Regional. Elaboração: Necat/UFSC

A retração catarinense não foi uma exceção no escopo dos resultados regionais. Em julho, regrediram 13 das 14 UFs presentes na PIM-PF Regional, sendo os destaques negativos por conta de Amazonas (-8,8%), Bahia (-6,0%), Pará (-4,4%) e Espírito Santo (-2,1%). Apenas no Ceará houve um resultado positivo, com variação de 1,2%. Esse quadro ilustra que, longe de ser um ponto fora da curva, a trajetória de desaceleração catarinense acompanha o movimento nacional e das demais unidades de federação, o que é esperado, uma vez que os fatores inibidores da expansão produtiva na indústria possuem escala nacional, ainda que não necessariamente na mesma medida.

Gráfico 2 – Produção física industrial, mês/mês anterior, por UF (julho de 2023)

Fonte: IBGE – PIM-PF Regional. Elaboração: Necat/UFSC

Em relação ao desempenho por atividades da indústria de transformação, tem-se o ilustrado no Gráfico 3. Pela perspectiva mensal frente julho de 2022, houve retrações em 8 dos 14 setores pesquisados, sendo os destaques negativos por conta da indústria moveleira (-27,0%), de veículos automotores, reboques e carrocerias (-16,5%), da indústria metalúrgica (-11,1%) e das atividades produtoras de artigos de vestuário e acessórios (-11,0%). No polo oposto, expandiram as indústrias de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (8,2%), produtos de metal (2,9%), produtos de borracha (2,2%) e produtos alimentícios (1,8%).

No que concerne ao acumulado anual o balanço é ainda mais negativo, com 11 retrações entre os 14 setores. Destacaram-se especialmente as quedas da indústria moveleira (-16,4%), de produtos minerais não metálicos (-12,9%), de metalurgia (-10,9%), de produtos de madeira (-10,7%) e de artigos de vestuário e acessórios (-9,6%). As atividades de produtos de borracha (5,5%), máquinas e equipamentos (2,9%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (2,0%), por outro lado, registraram ganhos frente o acumulado do mesmo período de 2022.

Essa disposição de resultados revela aspectos importantes sobre o desempenho da indústria de transformação catarinense em 2023. Por um lado, nota-se uma concentração de resultados negativos em alguns dos setores mais intensivos em mão de obra no estado. As indústrias de produtos alimentícios, artigos de vestuário e acessórios e de produtos têxteis, que são os segmentos da indústria de transformação que mais empregam em Santa Catarina[1], por exemplo, apresentam quedas na comparação com 2022, o que pode inclusive significar um sinal de alerta para a sustentabilidade desses empregos no curto prazo. Por outro lado, chama atenção o bom desempenho da indústria de máquinas, aparelhos e materiais elétricos frente 2022, mesmo no contexto do desaquecimento da demanda externa – a qual possui elevada significância para o desempenho desse agrupamento[2].

Gráfico 3 – Produção física industrial por setores de atividades, mês/mês ano anterior e acumulado anual, Santa Catarina (julho de 2023)

Fonte: IBGE – PIM-PF Regional. Elaboração: Necat/UFSC

Com isso, os resultados da PIM-PF Regional de julho mostram a manutenção do cenário de desaceleração da atividade industrial que tem sido a norma em 2023. Para os próximos meses, espera-se que essa conjuntura se mantenha relativamente inalterada, especialmente porque é provável que os fatores repressores da demanda agregada sigam vigentes até o fim do ano. Caso se mantenha o ciclo de relaxamento da política monetária (o que ainda não se tem por certo) e ocorra uma reação da demanda no setor externo, pode-se tomar como possível uma efetiva reversão da tendência atual, porém o cenário mais provável é que esses eventuais efeitos positivos sobre a produção física industrial só se façam sentir a partir de 2024.

Referências bibliográficas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal Industrial. Produção Física Regional (PIM-PF Regional). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, julho de 2023.

MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. COMEX STAT. Disponível em: <http://comexstat.mdic.gov.br/pt/home>. Acesso em: 15 de setembro de 2023.

MT-PDET – Ministério do Trabalho – Programa de disseminação das estatísticas do trabalho. Novo CAGED. Disponível em: <http://pdet.mte.gov.br/novo-caged>. Acesso em: 14 de setembro de 2023.

OBSERVATÓRIO FIESC. Perda de fôlego da economia chinesa afeta exportações catarinenses em agosto. Boletim de Comércio Exterior, agosto de 2023. Disponível em: < https://observatorio.fiesc.com.br/publicacoes/perda-de-folego-da-economia-chinesa-afeta-exportacoes-catarinenses-em-agosto>. Acesso em: 14 de setembro de 2023.


[*] Graduando em Ciências Econômicas pela UFSC e bolsista do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (Necat/UFSC). Email: matheusrosa.contato@outlook.com.

[1] Segundo o CAGED, em julho de 2023 a indústria de transformação catarinense empregava 745 mil e 93 pessoas (745.043). Dessas, 149.487 (20,06%) localizavam-se nas atividades de produtos alimentícios, 106.758 (14,32%) empregavam-se nas indústrias de artigos de vestuário e 62.621 (8,40%) encontravam-se nas atividades têxteis. (MT-PDET, 2023).

[2] Em 2023, as exportações derivadas da indústria de máquinas, aparelhos e materiais elétricos representam cerca de 15% do valor das exportações (FOB) catarinenses (MDIC, 2023).