Produção industrial catarinense desacelera em maio

17/07/2023 09:03

Matheus Souza da Rosa*

A última Pesquisa Industrial Mensal do IBGE (PIM-PF/IBGE) indicou um cenário de leve recuperação para a produção física nacional e de desaceleração para o mesmo indicador estadual. Em Santa Catarina, houve retração de -2,7% em relação ao mês anterior e queda de -4,4% frente o mesmo mês de 2022. No cenário nacional, em contrapartida, registrou-se variação estagnativa de 0,3% frente abril, mas a comparação com maio de 2022 retornou expansão em 1,9%. Entre as Unidades Federativas (UFs), houve expansões em 9 das 15 pesquisadas na ótica mês a mês, sendo que a retração catarinense figurou como a pior do país.

Com isso, o índice de produção física catarinense regrediu para um nível inferior ao agregado nacional, conforme indica o Gráfico 1. No saldo, a queda de maio reflete a tendência de desaceleração que está posta desde o movimento inicial de recuperação dos impactos da pandemia, com raros meses de exceção. Na especificidade de 2023, essa retração constou como a terceira do ano, sendo positivos apenas os resultados de fevereiro e de abril, este último que a retração atual acabou por reverter na íntegra. Assim, a comparação com o acumulado do mesmo período de 2023 apresenta retração de -4,5%.

Gráfico 1 – Índice de produção física com ajuste sazonal, Santa Catarina, 2020-maio/23

Fonte: IBGE, PIM-PF Regional. Elaboração: Necat-UFSC

Parece seguir como vetor dessa desaceleração o desaquecimento da demanda interna motivado, principalmente, pelo aperto monetário. Isso porque a manutenção dos juros em 13,75% a.a. tem se refletido em queda do investimento produtivo (a FBCF regrediu em -3,4% na margem) e em aumento do nível de endividamento das famílias, fatores que, combinados, induzem a queda da produção industrial. Conforme aponta um recente relatório do IPEA, é bom indicativo dessa dinâmica a redução da demanda por bens industriais em 2023 (o indicador calculado pelo Instituto mostra redução de -0,3% frente o mesmo período de 2022), o que tem se convertido numa dificuldade crescente para a indústria de transformação escoar a produção e os estoques. (IPEA, 2023).

Entre as UFs o desempenho deu-se conforme o Gráfico 2. As maiores altas se concentraram em estados que haviam regredido fortemente em abril, de modo que se tratam de recomposições (Amazonas havia regredido -14,2% em abril e Pernambuco regrediu em -5,5%). Das UFs que regrediram, Santa Catarina obteve o pior resultado, como já citado. Na sequência, Bahia (-2,4%), Rio de Janeiro (-1,5%) e Rio Grande do Sul (-0,1%) também apresentaram variações negativas.

Gráfico 2 – Produção física industrial, mês frente mês anterior, por UF, abr/23

Fonte: IBGE, PIM-PF Regional. Elaboração: Necat-UFSC.

Em termos desagregados, houve hegemonia de retrações em Santa Catarina. Frente maio de 2022, registraram-se 10 retrações e 4 expansões, sendo as quedas concentradas nas atividades de metalurgia (-24,5%), móveis (-18,4%), produtos minerais não-metálicos (-13,9%) e artigos de vestuário e acessórios (-12,4%). Na perspectiva acumulada, similarmente, o saldo foi de 11 retrações e 3 expansões, com as atividades de produtos minerais não-metálicos (-16,8%), produtos de madeira (-15,1%), móveis (-13,1%) e metalurgia (-10,2%) liderando as perdas.

Na contramão desse movimento negativo e ainda capazes de mostrar bons indicadores frente as dificuldades atuais constam as atividades de produtos de borracha e de material plástico (6,2%), máquinas e equipamentos (2,0%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (1,1%). O resultado de máquinas, aparelhos e materiais elétricos, ainda que de menor magnitude, é especialmente positivo dada a elevada participação do setor na indústria estadual em termos de valor adicionado e de emprego.

Gráfico 3 – Produção física industrial, mês em relação ao mesmo mês do ano anterior e acumulado do ano, por setor de atividade da indústria, Santa Catarina, maio/23

Fonte: IBGE, PIM-PF Regional. Elaboração: Necat-UFSC.

Com isso, o cenário para o setor industrial catarinense segue sendo negativo. Esse quadro ecoa os condicionantes da conjuntura nacional no que concerne à indústria, sendo o setor, sem dúvidas, signatário do pior dinamismo entre os setores nos últimos anos. Para os próximos meses está no horizonte o início do afrouxamento monetário, mas considerando que esse movimento muito provavelmente será paulatino e que os impactos da política monetária, em geral, levam de seis meses a um ano para incidir sobre a produção, o cenário até o fim de 2023 provavelmente seguirá tendo a debilidade do ritmo produtivo como principal característica.

Referências

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Industrial Mensal. Produção Física Regional. (PIM-PF). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, maio de 2023.

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Visão Geral da Conjuntura, julho de 2023. Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2023/07/visao-geral-da-conjuntura-19/>. Acesso em: 13 de julho de 2023.


* Graduando em Ciências Econômicas na Universidade Federal de Santa Catarina e bolsista do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (Necat/UFSC). E-mail: matheusrosa.contato@outlook.com.