Produção industrial catarinense inicia o ano com expansão, mas resultado nacional é desanimador

26/04/2022 14:38

Matheus Rosa[*]

A produção física industrial catarinense registrou expansão nos primeiros dados divulgados em referência ao desempenho de 2022. É o que mostra a Pesquisa Industrial Mensal do IBGE divulgada em março. Oposto ao resultado catarinense – de 1,6% na série mensal com ajuste sazonal – o resultado nacional foi negativo, com queda de -2,2%. Já na comparação com janeiro de 2021 foram consolidadas retrações em ambos os casos – em Santa Catarina -9,4% e no Brasil -7,2% – ilustrando uma diferença relevante entre o cenário do início de 2021 e o contexto atual.

No âmbito das demais Unidades da Federação (UFs) o saldo também foi negativo. Das 14 UFs presentes na pesquisa, 10 registraram resultados negativos na série mensal com ajuste sazonal. As maiores fragilidades foram verificadas no Pará (-15,6%), Amazonas (-14,3%), Ceará (-8,1%) e Minas Gerais (-7,7%). Apenas Espírito Santo (3,2%), Santa Catarina (1,6%), Mato Grosso (1,0%) e Rio Grande do Sul (0,8%) iniciaram o ano com variações positivas.

Em termos gerais, esse contexto ilustra a manutenção do cenário negativo para o setor industrial em virtude da continuidade dos gargalos nas cadeias produtivas e da crise macroeconômica, a qual atualmente se caracteriza pelo elevado desemprego, pela corrosão inflacionária do poder de compra e pelo elevado nível dos juros, todos estes fatores que contribuem para o arrefecimento da atividade econômica doméstica. De modo que, em síntese, os fatores conjunturais que deprimiram a atividade industrial ao longo de todo o último ano continuam em voga e, como não poderia ser diferente, elencam perspectivas negativas para o setor no ano que se inicia. (IEDI, 2022).

A atividade industrial do Brasil em janeiro de 2022

A Tabela 1 apresenta uma síntese dos resultados da produção física nacional, na ótica das quatro séries de comparação presentes na pesquisa. Pela perspectiva da série mensal com ajuste sazonal, a produção física apresentou retração de -2,2% em janeiro. Esse resultado demonstra a manutenção da tônica registrada ao longo de 2021, ano no qual foram registradas retrações em 8 dos 12 meses do ano. Com essa nova retração, a expansão de 2,7% registrada em dezembro foi quase que totalmente revertida.

Tabela 1: Variação da atividade industrial do Brasil em vários períodos

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Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Na comparação com janeiro de 2021 também foi registrado um movimento retrativo, porém de magnitude bastante superior. A variação de -7,2%, representativa da sexta retração seguida nessa série, ilustra o considerável descompasso entre o contexto setorial no início de 2021 – ainda marcado pelo movimento expansivo dos últimos meses de 2020 – e a conjuntura atual. Enquanto o resultado de janeiro do ano passado, ainda que fosse de pouca monta, indicava uma possibilidade de recuperação ao longo do ano, o registro atual parece apontar para um novo período de fraco ritmo produtivo. Em termos regionais, 10 das 14 UFs registraram quedas na comparação com janeiro de 2021, confirmando a perspectiva negativa que aparece no resultado agregado.

O acumulado dos últimos doze meses apresenta sinal expansivo, na ordem de 3,1%. Esse resultado, contudo, precisa ser contextualizado nos termos de sua base de comparação para que tenha o sentido adequado. Isso pois a expansão diz respeito ao saldo do desempenho entre fevereiro de 2021 e janeiro de 2022 na comparação com o acumulado entre fevereiro de 2020 e janeiro de 2021, de modo que a base de comparação traz o carrego estatístico dos piores meses da pandemia. Regionalmente a mesma questão se manifesta, de modo que 10 das 14 UFs presentes na pesquisa apresentaram variações positivas.

Desagregando os resultados por setores de atividade se tem o cenário exposto na Tabela 2. O grupo das indústrias extrativas registrou retração de -5,1%, revertendo as altas de novembro e dezembro. Da mesma forma, o agregado da indústria de transformação apresentou a retração de -2%, revertendo em parte o resultado de dezembro. Em relação aos demais setores o saldo também foi hegemonicamente negativo, com retrações registradas em 25 dos 28 setores presentes na desagregação da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE).

Tabela 2: Produção Física Industrial do Brasil por Setores de Atividades, mês a mês com ajuste sazonal

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Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Veículos automotores (-14,9%) e equipamentos de informática (-11,7%) registraram as piores retrações, consolidando indicadores de contraposição às altas que foram registradas em novembro e dezembro. Vale destacar que esses dois setores – integrantes de uma indústria de alta densidade tecnológica – sofreram retrações expressivas nos seus ritmos produtivos ao longo da pandemia, principalmente em 2021. A retração de janeiro, com isso, parece indicar uma retomada da tendência retrativa que era consolidada até outubro e que foi interrompida com as reações de novembro e dezembro. Foram registradas expansões apenas nas atividades de impressão e reprodução de gravações (5,2%) e coque, produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (3,1%). Produtos alimentícios (0,7%), o setor mais relevante para o parque industrial brasileiro em termos de produção física, apresentou variação levemente positiva próxima à estagnação, além de redução de ritmo na comparação com as altas de novembro e dezembro.

Em relação ao acumulado do ano[1] por setores de atividade, tem-se o exposto no Gráfico 2. Assim como nos resultados agregados, esses dados ilustram a diferença de cenário entre o início do ano passado e o início do ano vigente, agora, porém, numa perspectiva intrasetorial. Dos 25 setores pesquisados, 17 apresentaram retrações na série anual acumulada até janeiro, sendo as piores retrações registradas em fabricação de móveis (-33%), produtos têxteis (-26,7%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-23,5%). Já as indústrias de impressão e reprodução de gravações (17,8%), coque, produtos derivados de petróleo (10%) e outros equipamentos de transporte (9,8%) registraram os melhores resultados.

Sinteticamente, esses resultados ilustram que o primeiro mês de 2022 mantém a tônica verificada no ano anterior: tendência retrativa, instabilidade setorial e descompasso entre os resultados regionais. Não poderia ser muito diferente disso, afinal de contas, a problemática macroeconômica de 2021 continua atuando com força considerável, principalmente em decorrência do problema inflacionário, da manutenção do desemprego elevado e pelos juros altos. Todos estes fatores que deprimem o poder de compra do consumidor e a atividade econômica, afetando o nível de produção industrial em consequência. (IEDI, 2022).

Gráfico 2: Produção física industrial do Brasil por setores de atividade, acumulado no ano

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Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

A atividade industrial de Santa Catarina em janeiro de 2022

A produção física industrial em Santa Catarina iniciou o ano em posição relativamente favorável, quando comparada ao resultado nacional. Isso porque a série mensal com ajuste sazonal registrou expansão de 1,7%, variação modesta, mas que, ao menos, reverteu parte da queda registrada em dezembro. Numa perspectiva mais ampla, contudo, é mister destacar que os últimos dois anos da atividade industrial catarinense foram acometidos pela mesma instabilidade que caracterizou o contexto nacional, como mostra o Gráfico 3, de modo que o resultado positivo de janeiro só poderá ser consolidado efetivamente se nos próximos meses ocorrer uma considerável reversão tendencial.

Gráfico 3: Produção Física industrial em Santa Catarina, mês contra mês imediatamente anterior com ajuste sazonal

g3

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

No escopo das demais séries de comparação da pesquisa o resultado da série mensal ganha outra dimensão. Na comparação com janeiro de 2021 foi registrada a considerável retração de -9,4%, a quarta seguida na série, ilustrando que também no estado se verifica o grande diferencial entre o desempenho registrado no início do ano corrente e a capacidade de produção física que marcou o primeiro mês do ano passado. É certo que a conjuntura de 2021 era amplamente favorável na comparação com o cenário atual, haja vista a vigência, à época, dos saldos positivos registrados ao final de 2020. Contudo, a magnitude da retração é suficiente para acender um sinal amarelo em relação ao ritmo industrial atual em Santa Catarina e sua capacidade de expansão ao longo do ano. Em termos regionais, o resultado catarinense foi o quarto pior da série, melhor apenas que Pernambuco (-11,9%), Pará (-24,3%) e Ceará (-24,9%)

Na perspectiva do acumulado nos últimos doze meses, na comparação com os doze meses imediatamente anteriores, foi registrada expansão de 8,5%. Novamente, aqui ainda são vistos os impactos de março e abril de 2020 na configuração da série estatística, de modo que o desempenho possui considerável grau de distorção. Nos próximos meses esse carrego estatístico se dissipará e a série poderá indicar um quadro de médio prazo um pouco mais realista. Apenas em nível de comparação, vale ressaltar que em termos regionais a expansão catarinense é a maior entre as UFS, seguida de perto por Minas Gerais (8,3%), Paraná (7,8%) e Rio Grande do Sul (7,4%).

Tabela 3: Variação da atividade industrial de Santa Catarina em vários períodos

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Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Setorialmente, o desempenho da indústria catarinense pode ser representado pelos resultados expostos na Tabela 4, constituídos a partir da comparação com janeiro de 2021.[2] Dos 12 setores registrados na pesquisa regional, 8 atingiram retrações, sendo as de maior monta localizadas nas atividades de fabricação de produtos têxteis (-27,9%), máquinas e equipamentos (-23,8%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-20%). Apenas as indústrias de produtos de madeira (15%), metalurgia (4,8%), veículos automotores, reboques e carrocerias (1,6%) e produtos de minerais não-metálicos (0,8%) atingiram resultados positivos. Além disso, vale ressaltar o desempenho de produtos alimentícios, com retração de -1,6%, enunciando a probabilidade de um novo ano de desempenho vacilante, na tônica do verificado em 2020 e 2021 para o setor.

Tabela 4: Produção Física Industrial de Santa Catarina por Setores de Atividades, variação mensal em relação ao mesmo mês do ano anterior

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Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Com isso, o saldo geral da atividade industrial catarinense é bastante similar ao contexto nacional. Isso porque, a despeito da variação positiva na série mensal, se verificam também o descompasso em relação ao ritmo do início de 2021 e a considerável disformidade intrasetorial. O motivo dessa semelhança é de fácil constatação: a crise macroeconômica que hoje dita o contexto nacional também se abate em Santa Catarina e, por isso, dita resultados similares. Adicionalmente, é digno de destaque que setores como máquinas e equipamentos e máquinas, aparelhos e materiais elétricos, que no estado registraram retrações expressivas, são também afetados pela manutenção dos gargalos nas cadeias produtivas em nível mundial, impacto este consequente direto da pandemia e que aparentemente ainda terá vida longa.

Considerações Finais

Os resultados da Pesquisa Industrial Mensal de janeiro mostram que, inequivocadamente, o setor industrial inicia o ano com a manutenção do contexto negativo que deu a tônica durante todo o ano passado. Em nível nacional, a retração de -2,4% registrada na série mensal com ajuste sazonal reverteu em partes a queda de dezembro e a comparação com janeiro de 2021 registrou considerável regresso. Em Santa Catarina, a expansão de 1,7% na série mensal foi positiva, porém acabou por contrastar com a retração de -9,4% na comparação com janeiro de 2021, o pior resultado regional dessa série.

Essa diferença entre o ritmo produtivo de janeiro atual e janeiro de 2021 acaba por ser o resultado mais importante da pesquisa, demarcando a forte diferença entre os períodos. O fato explicativo desse descompasso é o agravamento da crise macroeconômica que se verificou ao longo do ano passado, principalmente em sua vertente inflacionária, de desemprego e de juros elevados. Frente esse cenário, a produção industrial não encontra motivo razoável para expansão, haja vista que a capacidade de demanda do consumidor parece se deteriorar mês após mês. Adicionalmente, se impõe também a dinâmica do comércio exterior, ainda cambaleante em decorrência da pandemia e mais recentemente impactada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, fatores que também deprimiram a demanda externa.

Para os próximos meses, uma reversão tendencial só poderá ser delineada mediante o enfrentamento da crise macroeconômica e de políticas que busquem reconstituir o poder de compra da ampla maioria da população. Além disso, é mister a recuperação de setores com forte potencial gerador de ganhos para a dinâmica das cadeias produtivas, como veículos automotores e equipamentos de informática. Fabricação de produtos alimentícios, da mesma forma, tem papel importante na recuperação agregada do setor, em consequência de sua elevada participação no parques industriais nacionais do Brasil e de Santa Catarina.

Referências Bibliográficas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal da Indústria. Produção Física (PIM). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, janeiro de 2022.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal da Indústria. Produção Física Regional (PIM Regional). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, janeiro de 2022.

IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. Carta IEDI  1133. São Paulo (SP). Disponível em: <https://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_1133.html>.

IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. Carta IEDI  1135. São Paulo (SP). Disponível em: <https://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_1135.html>.


[*] Graduando em Ciências Econômicas e bolsista no NECAT-UFSC. E-mail: matheusrosa.contato@outlook.com

[1] Nesse caso, por ser o primeiro mês do ano, o acumulado corresponde a comparação de janeiro de 2022 com janeiro de 2021.

[2] Infelizmente, os resultados regionais da Pesquisa Industrial Mensal não apresentam os dados dos setores de atividades pela série mensal com ajuste sazonal, indicador que seria mais bem utilizado para interpretar a dinâmica setorial de curto prazo.