Produção industrial catarinense registrou estagnação no mês de maio de 2021 após três meses seguidos de queda

14/07/2021 14:58

Por: Matheus Souza Rosa[1]

Os novos dados da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE (PIM-PF), divulgados no início deste mês de julho e relativos ao desempenho industrial em maio, apresentam a primeira expansão da atividade industrial registrada em 2021[2]. Essa expansão, concernente a série mês a mês com ajuste sazonal, também foi verificada na comparação com maio de 2020, na série do acumulado do ano e no acumulado dos últimos doze meses. Após meses de estagnações e variações negativas, os dados de maio indicam um possível cenário positivo para a produção industrial do país no curto prazo, ainda que persistam setores com acumulados bastante negativos.

Nas UFs também foi possível visualizar esse desempenho positivo, sendo que das 14 pesquisadas apenas três delas registraram variações negativas na série mês a mês. Os destaques positivos ficaram por conta de Goiás (4,8%), Minas Gerais (4,6%) e Ceará (4,4%), enquanto o destaque negativo foi novamente a retração verificada na Bahia (-2,1%), estado que acumula quedas em todos os meses desde janeiro de 2021, além dos desempenhos negativos do Pará (-2,1%) e do Paraná (-1,4%).

Com base nos dados da pesquisa regional do setor industrial, apresenta-se uma breve análise do desempenho industrial no âmbito do país e, em especial, no estado de Santa Catarina.

A Produção Industrial do Brasil em Maio de 2021

A Tabela 1 apresenta uma síntese das séries que registram o desempenho da atividade industrial no Brasil. Em primeiro lugar, cabe destaque para a expansão de 1,4% verificada na série mensal com ajuste sazonal, resultado que se contrapõe às retrações de fevereiro (-1%), março (-2,3%) e abril (-1,5%), além da estagnação de janeiro (+0,3%). Ainda que esse seja um dado positivo, pois apresenta um primeiro indicativo de reversão da tendência de queda estabelecida desde o início do ano, é preciso sinalizar que sua efetivação não conseguiu reverter as quedas do ano, colocando o índice novamente no mesmo patamar registrado em março de 2020.

Na comparação com maio de 2020, por sua vez, foi registrada uma expansão da ordem de 24%. Esse quadro estendeu-se para os resultados estaduais, consolidando-se um cenário de variações positivas em 11 das 14 UFs pesquisadas. Amazonas (98,2%), Ceará (81,1%) e Santa Catarina (38,7%) obtiveram os melhores resultados, com altas expressivas. Por outro lado, nessa comparação também aparece o desempenho negativo da indústria no estado da Bahia, com retração de -17,7%, consolidando-se uma péssima situação para a atividade industrial do estado baiano durante o ano de 2021.

Tabela 1: Atividade Industrial no Brasil, 12 meses

T1

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC

No que concerne ao acumulado do ano, nota-se também uma expansão sustentada que se consolida no mês de maio. A alta de 13,1% é a quinta expansão seguida no ano, confirmando o cenário esperado de melhor desempenho em comparação com 2020. Nas UFs, essa expansão ocorreu em 11 das 14 pesquisadas, sendo os destaques positivos no Amazonas (27,1%), Santa Catarina (26,7%) e Ceará (25,3%), estados que apresentam desempenhos bastante superiores aos verificados em 2020. Por outro lado, continua vacilante o cenário em Bahia (-16,3%), Mato Grosso (-5,3%) e Goiás (-4,2%). É preocupante que as indústrias desses estados continuem apresentando resultados negativos e de grande magnitude, tendo em vista que a base de comparação com o ano anterior é muito baixa, uma vez que reflete o período com os impactos mais bruscos da pandemia no Brasil. A resiliência dos resultados negativos que se sucederam nos últimos meses coloca dúvidas sobre a capacidade de recuperação desses setores nessas unidades federativas.

Por fim, a série do acumulado de doze meses mostra a expansão de 4,9%, consolidando a alta de 1,1% verificada em abril. Esse indicador talvez seja o mais importante para avaliar a capacidade de recuperação da produção industrial do país em relação aos impactos da pandemia, uma vez que abarca a comparação do desempenho dos últimos doze meses (maio de 2020 até maio de 2021) com os últimos doze anteriores (maio de 2019 até maio de 2020), sendo um indicador bastante útil para se analisar o desempenho industrial antes e durante a pandemia. Seu desempenho mostra que, ao menos nesse escopo de doze meses, as altas recentes compensaram as estagnações da segunda metade de 2020 e as leves quedas do início de 2021. Nas UFs o cenário também é similar, sendo novamente os destaques positivos por conta de Amazonas (13,3%), Santa Catarina (12%) e Ceará (10,8%).

Para aprofundar a compreensão sobre esse cenário, vale observar o Gráfico 1, que ilustra o desempenho da produção industrial por setores de atividade econômica, tendo como base o acumulado de doze meses. Em relação às categorias gerais da Indústria, notamos expansão das Indústrias de Transformação (5,7%) e retração das Indústrias Extrativas (-1,5%). A consolidação desses  percentuais resultado na expansão agregada de 4,9% na Indústria Geral.

Do ponto de vista setorial, nota-se que ocorreram expansões em 20 dos 25 setores pesquisados, sendo os melhores registros verificados em produtos de fumo (20,7%); máquinas e equipamentos (17%); produtos de minerais não-metálicos (16,3%) e produtos de metal (15,7%). A alta desses setores, além dos demais que também apresentaram expansões, é um indicativo da boa capacidade de resposta aos impasses da pandemia nos meses posteriores a maio de 2020[3]. Mesmo assim, é ainda preocupante a permanência das altas retrações nos setores de impressão e reprodução de gravações (-24,1%); manutenção e reparação de máquinas e equipamentos (-12,4%) e outros equipamentos de transporte (-6%), os quais continuam demonstrando pouca capacidade de obtenção de bons resultados na atual conjuntura de incerteza econômica e retomada apenas parcial das atividades em decorrência da pandemia.

Portanto, é importante observar os resultados dos próximos meses para ver se eles de fato consolidam o bom desempenho verificado em maio, o que poderia sinalizar como sendo uma retomada sustentável das atividades industriais do Brasil. Para tanto, é imprescindível que ocorram recuperações expressivas daquelas UFs que vêm mantendo trajetória de queda (notadamente Bahia, Mato Grosso e Goiás), bem como dos setores atualmente deprimidos.

Gráfico 1: Produção Física Industrial por setores de atividade, acumulado 12 meses (Brasil, 2021)

G1

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC

A Produção Industrial de Santa Catarina em Maio de 2021

Considerando-se apenas o contexto específico de Santa Catarina, é possível observar diversas similaridades em relação desempenho nacional, ainda que algumas particularidades precisem ser destacadas. De início, é necessário apontar a estagnação ligeiramente positiva de 0,1% na série mensal com ajuste sazonal, fato que reverte apenas parcialmente a tendência de queda verificada desde fevereiro. Esse é o segundo dado de estagnação do ano, registrado após as quedas de fevereiro (-1%), março (-2,3%) e abril (-1,5%). Com isso, a variação de 0,1% é inferior ao percentual de expansão (1,4%) verificado no âmbito nacional. Isso indica que o ritmo da produção industrial catarinense no mês de maio de 2021 foi bastante inferior ao verificado para o conjunto do país.

Gráfico 2: Produção Física Industrial em Santa Catarina, mês contra mês imediatamente anterior com ajuste sazonal (Brasil, 2021)

G2

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC

A Tabela 2 faz a síntese desse cenário, apresentando o desempenho da atividade industrial catarinense a partir das quatro séries de comparação disponibilizadas pela pesquisa. Assim, na comparação com o mesmo mês do ano anterior observa-se uma expansão da ordem de 38,7%, indicando uma boa resposta da atividade industrial catarinense quando a comparação é feita com meses que ainda estavam sob fortes impactos dos estágios iniciais da pandemia. Nessa série, Santa Catarina tem o terceiro melhor desempenho entre todas as UFs, inclusive com saldo superior ao agregado nacional.

Já na série do acumulado do ano, registrou-se a expansão de 26,7%. Tal patamar confirma as expectativas de que o desempenho da atividade industrial catarinense seria consideravelmente superior em 2021, comparativamente ao verificado no último ano. Da mesma forma, a expansão de 12% no acumulado de doze meses consolida as expansões anteriores e sugere a continuidade do cenário positivo para os próximos meses. Nessa série em particular, também é positivo a localização do estado no cenário nacional, sendo responsável pelo segundo melhor desempenho dentre as UFs pesquisadas.

Tabela 2: Atividade Industrial em Santa Catarina, 12 meses

T2

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC

Em relação aos desempenhos setoriais, também foi registrado um cenário positivo, como pode ser visto por meio do Gráfico 3. Dos 12 setores pesquisados em Santa Catarina, apenas produtos alimentícios apresentou retração da ordem de -7,3%. Todos os demais setores apresentaram dados positivos, merecendo destaque máquinas e equipamentos (40,5%); máquinas, aparelhos e materiais elétricos (33%); metalurgia (25,6%) e produtos têxteis (24,4%). Ainda que o resultado geral seja positivo, merece destacar o desempenho negativo do setor de produtos alimentícios, devido a sua importância no Valor de Transformação Industrial do estado. Sua recuperação, portanto, torna-se necessária para a garantia de um maior desempenho do conjunto da indústria catarinense.

Gráfico 3: Produção Física Industrial por Setores de Atividades, Santa Catarina, 12 meses

G3

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC

Assim, os dados de maio mostraram um cenário positivo para a produção industrial em Santa Catarina, sendo os principais indicadores disso a boa expansão na série de doze meses e o desempenho setorial em nível positivo. Segue como alerta, contudo, o baixo ritmo de desempenho mensal que se expressa na ligeira estagnação positiva de 0,1%, indicando que apenas nos próximos meses poderemos saber se as altas de maio fazem parte de um início de reversão de tendência ou se foram apenas um ponto fora da curva.

Considerações Finais

Os dados do mês de maio apresentaram um saldo positivo para a atividade industrial do país, fato registrado por todos os comparativos: série mês a mês; série mensal; acumulado no ano e acumulado de doze meses. O principal destaque recaiu sobre a reversão da tendência de queda da série mês a mês, uma vez que foi registrada a expansão de 1,4% na passagem de abril para maio de 2021. Se esse indicativo se confirmará como uma reversão efetiva apenas a observância dos dados dos próximos meses poderá dizer, e isso dependerá da intensificação das políticas de vacinação da população e de políticas que combatam a queda de emprego e o aumento da desigualdade que se verificaram durante o período da pandemia.

Em relação aos setores, os dados mostraram uma evolução em comparação aos níveis verificados em abril. Contudo, ainda há espaço para melhorias em diversos setores que continuam sustentando um desempenho oscilante no início de 2021, como são os casos de impressão e reprodução de gravações e manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos.

No caso do desempenho da indústria catarinense, observou-se uma reversão de um cenário negativo por três meses seguidos. Com isso, o quadro constituído relativo ao mês de maio foi positivo, registrando-se expansões nas séries mensais, no acumulado no ano e nos doze meses. Continua preocupando, contudo, o baixo ritmo da série mês a mês, tendo em vista que a variação registrada pode ser considerada apenas uma estagnação positiva e de baixa magnitude. Os próximos meses serão decisivos para compreender se esse dado de maio realmente representou um início de recuperação mais sólida, ou se apenas manterá o desempenho dentro dos limites registrados a partir de fevereiro.


[1] Graduando em Ciências Econômicas da UFSC e Bolsista do NECAT. Email: matheusrosa.contato@outlook.com.

[2] Aqui se considera como expansões as variações acima de 1,0%. Já variações positivas, porém abaixo de 1,0%, denomina-se como estagnações positivas.

[3] É importante destacar que isso não indica que esses setores passaram ilesos durante a pandemia, já que os meses de março e abril de 2020 representaram os piores meses para a economia em geral, e para a Atividade Industrial em particular, se encontram fora do escopo dessa série de acumulado de doze meses. Por isso, o bom resultado é indicativo apenas do cenário registrado no período pós maio de 2020.