Produção industrial catarinense teve expansão em abril/22

21/06/2022 15:06

Matheus Rosa*

 A Pesquisa Industrial Mensal do IBGE (PIM-PF/IBGE), divulgada em junho e referente aos resultados de abril/22, mostrou a continuidade do cenário de estagnação da produção física da indústria nacional, uma vez que o resultado de 0,1% na série mensal com ajuste sazonal representa a terceira variação inexpressiva seguida registrada no ano. Em nível regional, o desempenho catarinense apresentou expansão com variação de 3,3%, resultado que reverte, em parte, a forte queda do mês anterior, ainda que não seja suficiente para superar o acumulado negativo do ano. Nas demais Unidades da Federação (UFs) os resultados foram desiguais, com retrações em 7 das 14 UFs pesquisadas. Os melhores resultados foram auferidos no Rio de Janeiro (5,9%), Santa Catarina (3,3%) e Bahia (3,0%), enquanto os piores foram observados estados do Mato Grosso (-4,7%), Paraná (-4,3%) e São Paulo (-2,8%).  

Em termos gerais, a manutenção do fraco ritmo produtivo nacional decorre da continuidade da crise macroeconômica, ou seja, da presença ainda marcante da aceleração inflacionária, do desemprego elevado, da queda nos níveis de renda da população e do ciclo de alta da taxa básica de juros. Corrobora, ainda, com esse cenário a instabilidade política mundial decorrente da Guerra na Ucrânia e de outras tensões regionais que têm deprimido a atividade comercial mundial, fator que impacta a demanda por produtos manufaturados e, consequentemente, desestimula a produção industrial local, além de intensificar os gargalos nas cadeias de fornecimento de insumos.

Neste artigo são analisados os resultados da produção física industrial no mês de abril, em nível nacional e estadual, com destaque para as principais tendências recentes, bem como os prognósticos para os próximos meses diante do atual estágio da pandemia e da crise econômica que se aprofunda.

A atividade industrial no Brasil em abril de 2022

A Tabela 1 sintetiza os resultados da atividade industrial nos últimos doze meses, a partir das quatro séries presentes na pesquisa do IBGE. A série mensal com ajuste sazonal registrou em abril variação de 0,1%, resultado característico de estagnação. É o terceiro resultado nesse patamar registrado nos últimos três meses, fato que revela um cenário da produção física industrial nacional muito débil. Como consequência, o saldo do índice no ano apresenta variação líquida de -0,5%, quando considerado o resultado consolidado em dezembro de 2021 como base de comparação. Ao observar os resultados registrados nessa série desde maio de 2021, nota-se também a fragilidade recente do ritmo produtivo, dado que apenas em maio e em dezembro/21 foram registradas variações expansivas, sendo que em todos os demais meses ocorreram retrações ou então percentuais claramente estagnados.

Tabela 1: Variação da atividade industrial do Brasil em vários períodos

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Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

A comparação com os mesmos meses do ano anterior, por sua vez, mostra a disparidade do ritmo registrado no início do ano passado e nos primeiros quatro meses do ano corrente. Em abril, novamente, foi registrada retração nessa série, com variação de -0,5%, dando corpo às retrações que se sucederam em janeiro, fevereiro e março. Num escopo mais amplo, todos os meses desde agosto de 2021 registraram retrações por esta ótica de comparação, indicador que denota a desaceleração de ritmo verificada desde o início de 2021[1].

O acumulado no ano, comparado ao acumulado do mesmo período do ano anterior, também registrou retração da ordem de -3,4%. Com isso, foram registradas retrações acumuladas em todos os meses do ano de 2022, fator que corrobora o diagnóstico de desaceleração do ritmo na comparação com o desempenho de 2021. Na mesma linha, o acumulado de doze meses registrou retração de -0,3%, a primeira dessa série desde março de 2021. Esse resultado é importante, pois mostra que a perspectiva de médio prazo para a indústria nacional passa a ser eminentemente negativa, haja vista a tendência de queda  visível nessa série e o fato de que, com a retração registrada, a pesquisa mostra que as altas registradas no segundo semestre de 2020 foram anuladas pelo desempenho de 2021 e de 2022[2].

Portanto, é nítido que o quadro geral desempenhado pela indústria nacional é de fragilidade e de tendência retrativa. Em larga medida, essa conjuntura é expressão das dificuldades econômicas nacionais, haja vista a aceleração inflacionária, a alta do desemprego e o ciclo de alta da taxa de juros interna. Fatores internacionais, como a Guerra na Ucrânia e a desaceleração da economia chinesa, também se somam nesse quadro, inclusive deteriorando-o. Além disso, a desorganização das cadeias de fornecimento de insumos, talvez a herança mais prejudicial da pandemia da Covid-19 na perspectiva da indústria, continua vigente e sem perspectiva de resolução.

A desagregação do setor industrial de acordo com suas atividades fins ajuda a complementar a análise. Neste sentido, a Tabela 2 apresenta os resultados de abril pela divisão por Grandes Categorias Econômicas (CGCE-IBGE), mostrando a importância das retrações nos setores produtores de bens de capital e de bens de consumo duráveis para o resultado geral da indústria nacional. Na série mensal com ajuste sazonal, esses setores apresentaram quedas de -9,2% e -5,5%, enquanto nos resultados acumulados no ano foram consolidadas as retrações de -3% e -17%, respectivamente[3].

Tabela 2: Variação da atividade industrial do Brasil em vários períodos, por Grande Categoria Econômica

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Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

Desagregando ainda mais, pode-se observar o desempenho industrial pelos setores de atividades, conforme mostra a Tabela 3. Em abril, as indústrias extrativas e de transformação registraram resultados de estagnação, com variação de 0,4% e 0,1%, respectivamente.

Tabela 3: Produção Física Industrial do Brasil por Setores de Atividades, mês a mês com ajuste sazonal

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Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

Nos subsetores da indústria de transformação, por sua vez, houve considerável disparidade entre os resultados. Dos 25 subsetores, 9 deles apresentaram variações eminentemente negativas, sendo as mais relevantes concentradas nos setores de produtos de fumo (-12%), outros equipamentos de transporte (-8,4%), produtos diversos (-5,1%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-4,2%). Destacaram-se positivamente as atividades de impressão e reprodução de gravações (8,4%), manutenção e reparação de máquinas e equipamentos (5,7%) e produção de bebidas (5,2%). Vale ressaltar, ainda, o resultado de fabricação de produtos alimentícios, setor mais importante para o Valor da Transformação Industrial (VTI) nacional, o qual registrou queda de -4,1% em abril, consolidando a retração de -2,7% que já havia sido registrada em março.

Por fim, o Gráfico 1 resume esses resultados setoriais na perspectiva do acumulado anual. Nessa série, as indústrias de transformação e extrativas apresentaram quedas da ordem de -3,7% e -1,3%, respectivamente. Nos subsetores, as retrações são dominantes, uma vez que estão presentes em 18 das 25 atividades pesquisadas.

Gráfico 1: Produção física industrial do Brasil por setores de atividade, acumulado no ano

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Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

As indústrias de móveis (-25%), produtos têxteis (-19,2%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-18,6%) e produtos de metal estão entre os setores com os piores resultados. Já produtos derivados do petróleo (9,4%), produtos de fumo (9,2%) e outros equipamentos de transporte tiveram as maiores altas.

A atividade industrial de Santa Catarina em abril de 2022

O Gráfico 2 apresenta a trajetória recente da produção física industrial em Santa Catarina, pela ótica da série mensal com ajuste sazonal. Nessa série, o resultado catarinense foi expansivo em abril, na magnitude de 3,3% em relação ao resultado de março. Com isso, a indústria estadual registrou a terceira expansão mensal do ano, mostrando que, ao menos comparativamente, se registra um cenário bem mais positivo comparativamente aos resultados nacionais. No bojo dessa conjuntura, o saldo do índice no ano apresenta expansão de 2,95%.

Gráfico 2: Produção Física industrial em Santa Catarina, mês contra mês imediatamente anterior com ajuste sazonal

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Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

A comparação com os períodos do ano anterior, contudo, não é animadora, como mostra a Tabela 4. Na comparação com abril de 2021, a retração é de -5,6%, resultado que repete a tônica anterior da série que consolidou variações negativas em todos os meses do corrente ano. Da mesma forma que no contexto nacional, se verifica em Santa Catarina um forte descompasso entre o nível produtivo atual e aquele registrado no início de 2021. O resultado de -8,1% no acumulado do ano corrobora esse quadro indicado pela comparação mensal interanual. Também nessa série foram registradas retrações em todos os meses do ano.

O acumulado de doze meses, similarmente, apresentou continuidade na tendência de redução das expansões, consolidando resultado de 0,1%. Mantendo-se esse movimento, é de se esperar retrações nessa série nos próximos meses, fator que indicaria uma reversão tendencial para o médio prazo, uma vez que as quedas acumuladas em 2021 e 2022 serão superiores ao ritmo positivo que foi registrado a partir de setembro de 2020.

Tabela 4: Variação da atividade industrial de Santa Catarina em vários períodos

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Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Setorialmente, o quadro geral apresentado pela Tabela 5 elenca o desempenho dos setores de atividades pela perspectiva da comparação mensal interanual. Dos 12 setores presentes na pesquisa regional catarinense, 10 apresentaram retrações na comparação com abril de 2021. Foram expressivas as retrações de produtos têxteis (-25,6%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-15,5%), produtos de borracha e de material plástico (-12,9%) e produtos de minerais não-metálicos (-10,6%), com quedas acima de dois dígitos. Apenas artigos de vestuário (7,7%) e produtos alimentícios (1,4%) registraram resultados positivos.

Tabela 5: Produção Física Industrial de Santa Catarina por Setores de Atividades, variação mensal em relação ao mesmo mês do ano anterior

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Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Como resultado dessas variações setoriais, temos o acumulado do ano apresentado no Gráfico 3. Assim como na taxa agregada da série, o quadro geral é hegemonicamente negativo, com retrações em 10 dos 12 setores de atividades presentes na pesquisa. Produtos têxteis (-25,1%), máquinas e equipamentos (-16,3%), produtos de borracha e de material plástico (-16,2%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-15,1%) são os principais vetores da queda acumulada, cujos percentuais são expressivos e preocupantes. Nenhum setor apresentou taxas expansivas, sendo as variações positivas de produtos de madeira (0,9%) e fabricação de produtos alimentícios (0,5%) signatárias de um contexto de estagnação produtiva.

Gráfico 3: Produção física industrial de Santa Catarina por setores de atividade, acumulado no ano

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Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

Com isso, pode-se dizer que as variações de curto prazo do ritmo produtivo catarinense são ligeiramente mais promissoras do que os resultados consolidados nacionalmente, haja vista o comportamento da série mensal com ajuste sazonal. Todavia, numa perspectiva mais ampla a conjuntura se caracteriza por uma tendência de retração da produção física agregada e por desigualdade entre os desempenhos setoriais. Evidentemente, que esse cenário também pode ser explicado pelas dificuldades macroeconômicas e pelo contexto internacional desfavorável já citados na análise geral, cujas consequências também não passam ao largo das atividades industriais catarinenses.

Considerações Finais

Os resultados da PIM-PF de abril/22 mostram que a atividade industrial nacional segue fortemente impactada pela crise macroeconômica e pelos elementos complexificadores advindos do contexto internacional. Tal situação se expressa na continuidade de resultados estagnados na série mensal com ajuste sazonal e nas comparações retrativas com os períodos anteriores, tanto pela ótica mensal interanual como pelos acumulados no ano e nos últimos doze meses.

A indústria catarinense, por sua vez, trilha um caminho bastante similar, acompanhando em larga medida os movimentos da indústria nacional. Contudo, os indicadores de curto prazo que se expressam na série mensal com ajuste sazonal mostram que a conjuntura no estado é ligeiramente favorável, como indicam as expansões em três dos quatro meses do ano nessa série, as quais consolidaram um saldo de 2,95% no índice de produção física com ajuste sazonal na comparação com dezembro de 2021.

Todavia, setorialmente foram observados problemas na grande maioria das atividades consultadas pela pesquisa. Em nível nacional, destacam-se as retrações acumuladas nos setores de fabricação de móveis e produtos têxteis, enquanto são positivas as variações de produtos de petróleo e produtos de fumo. Já no âmbito estadual as retrações mais expressivas se concentraram nos setores de produtos têxteis e máquinas e equipamentos, porém sem registros de expansões muito significativas, sendo que os subsetores de produtos de madeira e produtos alimentícios acumularam resultados que revelam um processo de estagnação.

Em termos prospectivos, verifica-se que a conjuntura para o setor industrial nos próximos continuará dependendo do comportamento das variáveis macroeconômicas, especialmente da inflação e do desemprego. A continuidade ou não do ciclo de alta da taxa de juros, da mesma forma, condicionará os rumos da atividade produtiva, especialmente do nível de investimentos na esfera produtiva. A resolução da instabilidade internacional, por sua vez, também será decisiva, uma vez que afeta diretamente os níveis de demanda externa que condicionam os estímulos para parte importante da produção física industrial do país.

Referências

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal da Indústria. Produção Física (PIM). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, abril de 2022.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal da Indústria. Produção Física Regional (PIM Regional). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, abril de 2022.


* Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (Necat/UFSC).

[1] Nesse caso, os meses de março, abril, maio e junho de 2021 ainda sofriam forte influência das bases de comparação historicamente baixas registradas em 2020, fator que explica as elevadas expansões. Nos demais meses, contudo, aparece a tônica de desaceleração produtiva.

[2] O período do acumulado de doze meses é formado pela comparação do desempenho acumulado dos últimos doze meses (abr-2022 até mai-2021) em relação aos doze meses imediatamente anteriores (abr-2021 até mai-2020). A retração atual indica que as quedas acumuladas ocorridas entre os doze meses mais recentes já são superiores aos resultados positivos obtidos no período anterior.

[3] É consensuado que o setor de Bens de Capital possui importância estratégica para a sustentabilidade da atividade industrial, dadas suas características como difusor do progresso técnico e como alavanca da produtividade da economia. As quedas concentradas nesse setor, portanto, são preocupantes.