Quase 400 mil idosos deixaram de tomar a dose de reforço no estado de Santa Catarina

23/02/2022 11:17

Por: Lauro Mattei[1]

Desde o início da pandemia provocada pelo novo coronavírus o país tem convivido com muitas contradições, especialmente em relação às medidas necessárias para combater a doença. Foi assim quando ainda não existia qualquer antídoto para frear a contaminação das pessoas e continuou sendo de forma semelhante após a descoberta das diversas vacinas capazes de controlar a pandemia.

Após mais de um ano do início da imunização da população, ainda persistem dúvidas e inverdades sobre os efeitos dos imunizantes que estão sendo utilizados no país. Sem dúvida, tais fatos têm atuado negativamente no combate à doença, seja desincentivando parte das pessoas a cumprirem com seu dever social – porque em uma pandemia o interesse coletivo deve prevalecer sobre os interesses individuais -, seja relaxando com ações básicas, como é o caso de não se seguir o receituário prescrito pelas autoridades de saúde pública.

Neste caso, destacamos o cenário atual em que todos estão sendo conclamados a tomar diferentes doses das distintas vacinas para se manter imunizados e, com isso, pavimentar o caminho para se ter o controle efetivo da pandemia. Por isso, a ciência tem seguidamente confirmado a necessidade de doses de reforço dos imunizantes visando manter o maior número de pessoas protegidas, passo essencial para cortar o círculo virtuoso da virose. Além disso, a ciência também confirmou que as pessoas mais idosas e com comorbidades são os grupos sociais mais vulneráveis ao novo coronavírus. Por isso, esse foi o público prioritário desde o início do programa de imunização da população do país.

Neste sentido, o objetivo do artigo é apresentar o cenário atual da vacinação das faixas etárias mais vulneráveis, à luz das informações disponíveis no Vacinômetro da Secretaria Estadual de Saúde (SES-SC) até o dia 22.02.2022, conforme Tabela 1. Inicialmente é importante enfatizar que o ponto de referência analítico de cada faixa etária específica é a quantidade de pessoas imunizadas com a primeira dose em cada uma dessas faixas. Além disso, é importante destacar, ainda, que a população acima de 60 anos foi o primeiro grupo prioritário, sendo que a maioria recebeu as duas doses até o mês de setembro de 2021. Como o prazo do reforço é de 4 meses, significa que todas as pessoas que fazem parte das faixas etárias consideradas nesse estudo já deveriam ter recebido a dose de reforço.

Analisando as informações no sentido em que se iniciou o processo de imunização, verifica-se que na faixa etária de 80 anos ou mais aproximadamente 98% do público alvo (143.826 pessoas) tomou a primeira dose. Já o percentual vacinado com a dose de reforço caiu para 73,64%, significando que mais de 35 mil pessoas dessa faixa etária podem não estar mais imunizadas.

A faixa etária de 70 a 79 anos de idade teve um desempenho acima do programado em relação à primeira dose, uma vez que atingiu 103,84%, implicando na imunização de 330.957 pessoas. Já o percentual com a dose de reforço caiu para 83,17%, significando que mais de 65 mil pessoas dessa faixa etária também podem não estar mais imunizadas.

Tabela 1: Evolução percentual da vacinação das pessoas com idade acima 50 anos no estado de Santa Catarina, segundo as diferentes dosagens.

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Fonte: Vacinômetro – SES/SC. Elaboração do autor.

Finalmente, na faixa etária entre 60 e 69 anos de idade observa-se um grande problema, uma vez que das 656 mil pessoas que tomaram a primeira dose (104,46%) apenas 57,31% receberam a dose de reforço, implicando em um quantitativo de mais de 296 mil pessoas que podem não estar mais imunizados.

Em síntese, os dados da tabela 1 revelam que no primeiro público prioritário do programa de vacinação (composto por 1.131.270 pessoas idosas), aproximadamente 35% pode não estar mais imunizado.

As consequências desse retrocesso já são visíveis e estão oficialmente registradas no ano de 2022. Nos primeiros 53 dias do referido ano 1.057 pessoas perderam a vida para a Covid-19 no estado, implicando em média de mais de 20 óbitos diários. Registre-se que a grande maioria desses óbitos ocorreu exatamente nas faixas etárias do primeiro grupo prioritário (idosos).

Se considerarmos o mesmo indicador nos últimos três meses de 2021 (outubro com 387 mortes; novembro com 329 e dezembro com 194 óbitos), vemos que nos últimos 90 dias do ano anterior foram registradas apenas 910 mortes por Covid-19, o que dá uma média inferior a 10 óbitos diários.

Em suma, esse cenário anteriormente analisado está indicando que o sinal vermelho do programa de vacinação com doses de reforço está aceso no estado de Santa Catarina, particularmente para as faixas etárias dos idosos.


[1] Professor titular do curso de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador geral do Necat/UFSC, Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ e membro da Comissão de Monitoramento da Covid-19 da UFSC. E-mail: l.mattei@ufsc.br.