Quinta retração do volume de serviços brasileiro nos últimos sete meses: Brasil recua – 0,2% e Santa Catarina cai – 2% em fevereiro.

29/04/2022 15:02

Andrey Ide[*]

Após revisão, o setor de serviços brasileiro acumula queda de – 2% em 2022. Todavia, o setor permanece 5,4% acima do patamar pré-pandêmico.   

A retração de janeiro descrita como “pequena” foi revista pelo IBGE. O recuo de -0,1% no volume de serviços foi atualizado para -1,8%. Estas últimas duas taxas negativas, -1,8% em janeiro e -0,2% em fevereiro, contribuem com a sequência de cinco retrações auferidas desde agosto de 2021, demonstrando a perda de fôlego do setor que segue uma trajetória deficitária.

O recuo expressivo no primeiro bimestre afasta o setor 7,0% do pico da série histórica registrado em novembro de 2014, mas ainda o coloca 5,4% acima do nível de fevereiro de 2020. O Gráfico 1 mostra a nova sequência de déficits, anteriormente vistos entre agosto e outubro de 2021. A nova repetição de quedas logo após um período de superávits é vista neste 1º bimestre.

Outra revisão feita pelo IBGE no número índice se refere ao momento em que o volume de serviços ultrapassa o nível pré-pandêmico (102,31 p.p.). Os dados mais recentes revelam que o setor se recuperou apenas em abril de 2021 (102,46 p.p.) e não em fevereiro como apresentado na pesquisa anterior.

Gráfico 1: Índice do volume de serviços, Brasil (2018=100, com ajuste sazonal)

G1

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Na Tabela 1, desde março de 2021, o setor de serviços brasileiro expressou seis variações negativas e seis positivas na comparação mensal com ajuste sazonal. E, ao olhar para o último semestre, encontram-se quatro variações negativas e duas positivas. Um sinal inicial de acomodação do setor. A retração mensal mais expressiva é vista justamente em janeiro de 2022 (-1,8%), logo após a revisão feita pelo IBGE. Assim, o crescimento esperado após a recuperação segue atravancado.

Tal dificuldade também pode ser observada quando analisada a variação com o mesmo mês do ano anterior. Um ano atrás, entre janeiro e fevereiro de 2021, o setor ainda estava abaixo do nível pré-pandêmico, bem como entre novembro e dezembro de 2020. A diferença é que nos dois primeiros meses deste ano, o crescimento comparado com os dois primeiros meses de 2021 estão caindo; em janeiro de 2022 foi de 9,4% e em fevereiro foi de 7,4%. Já o crescimento comparado com novembro e dezembro de 2020 foi de 10,2% e 10,9% respectivamente. Claro    que as taxas mensais positivas de dezembro de janeiro de 2021 são a causa deste resultado e evidenciam a repetição da trajetória já comentada. Veja que entre abril e julho de 2021 quatro meses são superavitários e logo após três meses deficitários. O mesmo ocorre em novembro de dezembro de 2021, superavitários, seguidos de janeiro de fevereiro de 2022, deficitários.

Tabela 1: Variação (%) do volume de serviços no Brasil em diversos períodos

T1

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

No acumulado anual o setor expandiu 8,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. Já no acumulado dos últimos doze meses, o crescimento de 13% expressa a trajetória de crescimento ascendente e ininterrupta iniciada em fevereiro de 2021. Um mês após o outro as variações aumentam.

A Tabela 2 a variação negativa total de -0,2% é acompanhada por dois dos cinco grupos de atividades. Os serviços comunicação e informação retraíram -1,2% e outros serviços -0,9%. Na contramão das quedas os serviços prestados às famílias retomam a trajetória ascendente que fora interrompida em janeiro. No último mês da análise cresceram 0,1% enquanto os serviços profissionais, administrativos e complementares cresceram 1,4%.

O destaque de fevereiro vai para os serviços de transporte, auxiliares aos transportes e correios que avançou 2 p.p. Esse subsetor se beneficia da mudança na forma de consumir produtos. O aumento nas entregas de produtos comprados online também beneficia as empresas como Amazon, Mercado Livre, Magazine Luiza e Via Varejo que diminuem seus custos de operação e buscam ampliar sua malha de última milha. A demanda do consumidor por entregas mais rápidas influi na expansão dos serviços de logística e transporte do setor privado. Há que se observar também que a queda de -1,2% nas atividades de informação e comunicação é a terceira seguida, desde dezembro de 2021.

No confronto com o mesmo mês de 2021 o Brasil cresce 7,4%, um avanço contínuo de doze taxas positivas iniciado em março de 2021. O destaque é do setor de transportes e correio (13,9%) beneficiado pelo aumento das receitas de empresas com mais de 20 funcionários que atuam nos ramos de transportes de passageiros e cargas, tanto marítimo como rodoviário.

Tabela 2: Evolução do volume de serviços no mês de fevereiro, segundo grupos de atividades no Brasil

T2

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Outras contribuições positivas estão nos serviços prestados às famílias (17,4%), nos serviços profissionais, administrativos e complementares (7,3%) e nos serviços de informação e comunicação (2,4%). A única retração fica com os outros serviços (-3,9%).

No acumulado anual o setor de serviços avança 8,4%, enquanto os serviços prestados às famílias seguem com um crescimento expressivo de 18,5%, os serviços de transporte e correio expandem 14,5%, os serviços profissionais, administrativos e complementares 7,4% e os serviços de informação e comunicação 3,7%. A retração segue nas atividades que compreendem outros serviços (-1,3%).

No acumulado dos últimos doze meses os superávits mais relevantes seguem com o setor de transportes e correios (18%) e com os serviços prestados às famílias (31,4%). Os serviços de informação e comunicação acumularam um crescimento de 9,7%, os serviços profissionais, administrativos e complementares avançaram 9,5% e outros serviços 4,9%.

Na pesquisa anterior o setor de serviços profissionais, administrativos e complementares segue acima haveria superado o nível pré pandêmico apenas em janeiro de 2022. Agora, com os dados revisados pelo IBGE, a série construída pelo NECAT (base 100 = 2018), pode-se constatar que esses serviços superaram o índice pré-pandêmico (97,52 p.p.) em dezembro de 2021 quando marcaram 99,07 p.p. Este mês de fevereiro (100,71 p.p.) é o terceiro mês em que o subsetor está acima dos níveis de fevereiro de 2020. No caso do setor de serviços prestados às famílias, a recuperação de fato ainda não aconteceu. Em fevereiro de 2020 o número índice do subsetor era 107,43 p.p. e dois anos depois ainda segue em 92,31 p.p.

Outro caso complexo é o setor de “outros serviços” que já havia se recuperado em agosto de 2020 quando marcou 114,94 p.p., ultrapassando fevereiro de 2020 (114,65 p.p.) Em agosto de 2021 alcançou seu pico com 126,40 p.p. e agora, dois anos após, volta a cair para 114,13 p.p. Um déficit que colocou o subsetor abaixo do índice pré-pandêmico novamente. Esse tipo de retração já ocorrera em janeiro (113,53 p.p.), outubro (112,33 p.p.) e novembro de 2021 (114,45 p.p.). Percebe-se uma oscilação que não permite afirmar se a atividade se recuperou.

Na contramão, estão os dois campos de atividade que sempre ganham destaque: serviços de informação e comunicação e serviços de transporte e correio. O primeiro ultrapassou o nível pré-pandêmico de fevereiro de 2020 (102,5 p.p.) em setembro do mesmo ano quando marcou 103,22 p.p. Desde então não regrediu novamente e em fevereiro de 2022 está marcando 112,69 p.p. O segundo ultrapassou o nível de fevereiro de 2020 (100,61 p.p.) apenas um ano após, em fevereiro de 2021 quando alcançou 103,46 p.p. Dois anos depois, em fevereiro de 2022 está marcando 114,93 p.p.

Entre os estados e o Distrito Federal, quase metade das unidades federativas apresentou déficit, foram 13 saldos negativos e 14 positivos. Dentre os maiores pesos no volume de serviços, Santa Catarina se destacou negativamente com -2,0%; São Paulo (-0,5%) e Distrito Federal (-3,4%) também retraíram. Os maiores saldos positivos, em volume, pertencem a Minas Gerais (2,0%) ao Rio de Janeiro (0,8%) e ao Mato Grosso (6,6%).

No confronto com o mesmo mês do ano anterior apenas Rondônia (-3,9%) e Distrito Federal (-0,1%) auferiram déficits e o estado catarinense ficou estagnado crescendo 0%. As outras 24 unidades da federação cresceram em relação a fevereiro de 2021 com destaques para São Paulo (8,4%), Minas Gerais (8,1%) e Rio Grande do Sul (14,4%).

Tabela 3: Variação (%) do volume de serviços entre os estados brasileiros no mês de fevereiro de 2022

T3

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

No acumulado anual, janeiro e fevereiro de 2022, apenas o Distrito Federal retraiu -0,9%.  São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul seguem sendo os estados com o maior peso no crescimento desse mês com 10,3%, 7,2% e 12,8% de superávit respectivamente. Santa Catarina cresceu apenas 2,7% enquanto o Paraná cresceu 6,3%, o Rio de Janeiro 1,2% e a Bahia 14,2%. Já no acumulado dos últimos 12 meses todos estados seguem com saldo positivo; Santa Catarina cresceu 13,8%, o Paraná 10,9% e o Rio Grande do Sul 15,9%. São Paulo acumula 13,8% de crescimento, Rio de Janeiro 8,6% e Minas Gerais 14,5%.

Nova revisão do IBGE diminui o resultado mensal de janeiro em Santa Catarina, antes -1,7% e agora -4,7%; fevereiro segue a sequência deficitária com -2,0%.

No segundo mês de 2022, o volume negociado do setor de serviços catarinense permanece deficitário. O estado decresceu -2,0% em fevereiro, sendo que a queda observada em janeiro de -1,7% foi revisada para -4.7%. Novamente este é o pior desempenho entre os três estados da região sul.

Ao visualizar o Gráfico 2 é possível observar a formação de um triângulo entre outubro de 2021 (114,99 p.p.) e fevereiro de 2022 (115,10 p.p.). Neste período de cinco meses o estado apresenta um pico em dezembro de 2021 (123,22 p.p.), mas até fevereiro de 2022 cai praticamente para o mesmo nível de outubro de 2021, avançando apenas 0,1%.

Gráfico 2: Índice do volume de serviços, Santa Catarina (2018=100, com ajuste sazonal)

G2

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Em setembro de 2020 (105,14 p.p) o setor de serviços catarinense já houvera se recuperado das perdas ocasionadas pela pandemia, superando o índice de fevereiro de 2020 (104,13 p.p.). Contudo, nesse início de 2022 observa-se uma desaceleração do setor de serviços e uma acomodação dos ganhos auferidos desde setembro. Ainda assim, os serviços catarinenses estão 10,97% acima do patamar pré-pandemico, em fevereiro de 2022 estão marcando 115,10 p.p. frente aos 104,13 p.p. de dois anos atrás.

Essa acomodação é vista no padrão de altas e baixas descrito na Tabela 4. Na variação mês a mês março e abril de 2021 apresentam resultados negativos, seguidos de dois resultados positivos em maio e junho; mais um déficit em julho e dois superávits em agosto e setembro, um déficit de -2,0% em outubro e dois superávits significativos em novembro (3,3%) e dezembro (3,7%), seguidos de dois déficits no primeiro bimestre de 2022 de -4,7% e – 2%.

Tal movimento de queda pode ser acompanhado também no comparativo com o mesmo mês do ano anterior. O mês de fevereiro de 2022 comparado com o do ano anterior chega com o pior resultado desde agosto de 2020 quando o índice havia marcava – 4 %. Uma variação nula significa que o resultado de fevereiro de 2021 comparado com o deste ano continua o mesmo. O que também é possível observar pela linha de tendência do Gráfico 1. Ou seja, em um ano, o setor de serviços voltou para o mesmo nível; entre altas e baixas permaneceu estagnado.

Tabela 4: Variação (%) do volume de serviços de Santa Catarina em diversos períodos

T4

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

A queda também é descrita nos últimos resultados do acumulado anual, em janeiro ele foi de 5,4% e diminui para 2,7% em fevereiro de 2022. No acumulado dos últimos doze meses o volume de serviços também aparenta estar perdendo fôlego, em janeiro havia alcançado 14,7% e neste mês de fevereiro caiu para 13,8%.

Como apontado nas pesquisas anteriores, o crescimento e os resultados positivos de 2021 não seguem o mesmo caminho em 2022. Ainda que acima do patamar pré-pandêmico, a inflação segue corroendo o poder de consumo e, consequentemente, afetando o setor de serviços. Em fevereiro de 2022, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 1,01%, a maior variação para um mês de fevereiro desde 2015 quando o índice inflacionário chegou a 1,22%. Nos últimos doze meses, até fevereiro, o IPCA acumulou uma alta de 10,54% (IBGE e CRELIER, 2022).

Analisando o panorama geral, desde o início da recuperação do setor iniciada em maio de 2020, o número de variações positivas mensais em Santa Catarina continua sendo maior do que o de variações negativas. São quatorze superávits frente a oito déficits, encontrados em novembro e dezembro de 2020, março, abril, julho e outubro de 2021 além de janeiro e fevereiro de 2022.

Pelo segundo mês seguido, Santa Catarina obteve o pior resultado da região sul. A queda de -2,0% coloca o estado atrás dos superávits paranaense (1,4%) e gaúcho (1,6%). Nos últimos três meses, após a revisão do IBGE, Santa Catarina acumula um déficit de -3,0%, estando -4,7 p.p. atrás do Rio Grande do Sul e -2,5 p.p. atrás do Paraná e que acumulam +1,7% e -0,5% de expansão trimestral respectivamente.

A variação mensal também foi positiva para os outros dois estados na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Já o volume de serviços catarinenses ficou estagnado (0%); o Paraná avançou 7% e fevereiro e o Rio Grande do Sul 14,4%. Até o mês de janeiro todos os estados apresentavam saldo positivo no comparativo com o mesmo mês do ano anterior, este é o primeiro resultado em que o setor de serviços catarinense aparece estagnado.

Tabela 5: Comparação da variação (%) do volume de serviços na região sul e no Brasil

T5

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

No acumulado do ano o resultado mais expressivo fica com o Rio Grande do Sul (12,8%) enquanto o Paraná avança 6,3% e Santa Catarina apenas 2,7%. E, considerando uma comparação mais extensa, nos últimos doze meses o Rio Grande do Sul se destaca com 15,9% de crescimento e Santa Catarina ainda acumula uma variação maior do que o Paraná, são 13,8% frente a 10,9% de superávit.

Dentro deste cenário de estagnação do volume de serviços catarinense, houveram duas atividades com desempenho abaixo dos 0%. A Tabela 6 mostra na série “variação do volume de serviços do mês comparado com o mesmo mês do ano anterior” que os serviços de informação e comunicação decresceram -2,7%. Esta é a primeira variação negativa desde outubro de 2020; foram quinze meses sem retrações. No caso dos serviços profissionais, administrativos e complementares, também há uma queda paulatina; desde abril de 2021 (43,4 %) estas atividades vêm caindo nos resultados e este já é o quinto resultado negativo consecutivo do subsetor: -19,6%.

Na contramão, com resultados positivos, mas todos abaixo dos dois dígitos, estão “outros serviços” cuja expansão foi de 9,7%, “serviços de transportes, auxiliares aos transportes e correios” cresceram, 7,7% e os serviços prestados às famílias lograram a menor taxa de crescimento positiva: 2,3%. Sem nenhuma exceção, todos os cinco subsetores avaliados obtiveram resultados inferiores aos meses de dezembro de 2021 e janeiro de 2022.

Tabela 6: Variação (%) do volume das atividades de serviços em Santa Catarina entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022

T6

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Nos resultados acumulados de 2022 a mesma tendência de queda se repete, no último trimestre a cada mês as expansões diminuíam, com exceção dos serviços prestados às famílias que expandiu 13,7% em dezembro, 14,8% em janeiro e agora expande 8,9%. Os demais resultados, a cada mês caem abaixo do nível do mês anterior. Serviços profissionais, administrativos e complementares obteve o pior resultado, -19,3%, serviços de informação e comunicação -0,5%. Cresceram os serviços de transportes e correio (11,4%) e outros serviços (10,2%).

No acumulado dos últimos doze meses até fevereiro de 2022 todos os resultados ainda são positivos, muito em razão do crescimento de 2021. As quedas do primeiro bimestre de 2022 ainda não conseguiram contrabalancear negativamente a expansão positiva do ano passado. Até fevereiro de 2022 os serviços prestados às famílias acumulam o maior ganho, um total de 22,5%. Em segundo lugar estão os serviços de transportes, auxiliares aos transportes e correio que expandiram 18,8%, depois outros serviços que cresceram 14%, serviços de informação e comunicação cresceram 10,9% e a menor taxa de expansão ficou com os serviços profissionais, administrativos e complementares 2,4%. Após cinco déficits consecutivos, o menor acumulado em doze meses claramente ficaria com este subsetor.

Considerações Finais

Os resultados negativos do primeiro bimestre de 2022 surpreenderam até mesmo as expectativas de instituições financeiras que atuam no mercado. A projeção da Rio Bravo Investimentos era de que o volume do setor de serviços avançasse 0,8% em fevereiro (AZEVEDO, 2022). Já os analistas consultados pela Bloomberg projetavam um avanço de 0,7% (VIECELI, 2022). A persistência de uma taxa básica de juros alta e acima dos dois dígitos, bem como da inflação calculada pelo IPCA não eram esperados. Os gargalos no fornecimento e a alteração nos preços de insumos, além das mudanças nas cestas e padrões de consumo desafiam os modelos e projeções utilizados para predizer o avanço do setor em 2022. A instabilidade do ambiente político também pode influenciar na perda da capacidade estimativa.

Essas mudanças nas expectativas também podem ser alteradas conforme o IBGE revisa os dados divulgados pela PMS como faz todos os meses e como fez em fevereiro de 2022. O padrão histórico também influencia nas projeções presentes. Tomando em conta que os serviços contribuem com mais de 70% para o valor total do Produto Interno Bruto (PIB), uma mudança negativa nos resultados do setor refletirá também nas estimativas para o PIB. Mirella Hirakawa, economista da AZ Quest diz que sua organização não projeta um crescimento do Produto Brasileiro acima dos 0,6% em 2022, sendo que antes essa estimativa era de 0,6%. Já a XP Investimentos que projetava um crescimento de 0,4% no primeiro trimestre, acabou diminuindo para 0,3% frente a última divulgação de dados do IBGE (AZEVEDO, 2022).

Segundo o índice de confiança nas atividades de serviços (ICS) divulgado pela Fundação Getúlio Vargas, as últimas expectativas dos consumidores para os próximos meses de 2022 não foram positivas. Dado o cenário de inflação persistente e juros em alta, a confiança da população para consumir mantém-se num patamar baixo. No relatório da FGV de abril de 2022, observa-se que os dados do relatório anterior, de março, foram todos revisados para cima. O ICS caiu -1,4 p.p. em novembro e subiu 0,6 p.p. em dezembro de 2021, continuou caindo -1,4 p.p. em janeiro e aumentou 3,8 p.p. em fevereiro de 2022, retraindo -3,1 p.p. em março, e subindo 3,8 p.p. em abril. Apesar deste último resultado ser positivo, nota-se a instabilidade (FGV, 2022).

O otimismo da última pesquisa de abril deve-se à antecipação do pagamento de 13º de aposentados, a facilitação do acesso ao crédito, a melhora nos índices de emprego formal no mercado de trabalho, a liberação de saques do FGTS e o anúncio de um pacote de medidas para conter a inflação e os juros altos – é o que relata Viviane S. Bittencourt, coordenadora da pesquisa (FGV, 2022). Entretanto, é fundamental entender que a confiança dos consumidores em comprar diverge do cenário de expansão real. Analisando as informações apresentadas nesta última PMS de fevereiro pelo IBGE, percebe-se que o cenário brasileiro retraiu o volume de serviços em -0,2% ao passo em que a confiança para consumir serviços obteve alta de 3,8 p.p.

Em suma, esta é a quinta variação negativa no volume de serviços brasileiro nos últimos sete meses; o ritmo de expansão visto entre junho de 2020 e agosto de 2021 vem caindo. Entre todas atividades a que mais impactou negativamente o índice de fevereiro foram os serviços de informação e comunicação (-1,2%) e o estado com maior peso na queda da atividade total foi São Paulo (-0,5%). Além disto, de todas as 166 diferentes atividades pesquisadas, 65,7% desses serviços apresentaram saldos positivos.

No acumulado deste primeiro bimestre a expansão de 8,4% foi impulsionada pelos setores de transportes, locação de automóveis, hotéis e consultoria em tecnologia da informação. Na contramão, os que impactaram negativamente foram os setores de telecomunicações, logística de transportes, operadoras de TV por assinatura, atividades de vigilância e segurança privada e recuperação de materiais plásticos (IBGE, 2022).

Santa Catarina acompanha a desaceleração. Em janeiro de 2022 a variação mensal foi de -4,7% e em fevereiro de -2,0%. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior os déficits também chegam a um patamar de estagnação: em dezembro de 2021 a variação foi de 13,2%, em janeiro de 2022 foi menor ainda, 5,4 % e agora em fevereiro o setor seguiu estagnado, 0%. Os dados mostram que após um ano, o setor de serviços catarinense voltou ao seu mesmo patamar de fevereiro de 2021. As retrações conseguiram suprimir o efeito dos superávits.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AZEVEDO, Vitor. Setor de serviços decepciona em fevereiro e deve frear revisões otimistas do PIB brasileiro. Disponível em < https://www.infomoney.com.br/mercados/setor-de-servicos-decepciona-em-fevereiro-e-deve-frear-revisoes-otimistas-do-pib-brasileiro/ >. Acesso em: 20 abr. 2022.

FGV – Fundação Getúlio Vargas. Confiança dos consumidores avança 3,8 pontos em abril. FVG IBRE, Sondagem de Serviços, 2022. Disponível em: < https://portalibre.fgv.br/sites/default/files/2022-04/sondagem-do-consumidor-fgv_press-release_abr22-revisado_0.pdf>. Acesso em 25 abr. 2022

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, janeiro de 2022. Disponível em: < https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=72419 >. Acesso em: 14 abr. 2022

IBGE, CRELIER, Cristiane. Inflação é de 1,01% em fevereiro, maior para o mês desde 2015. Editoria de Estatísticas Econômicas. Disponível em: < https://censoagro2017.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/33176-inflacao-e-de-1-01-em-fevereiro-maior-para-o-mes-desde-2015#:~:text=A%20inflação%20registrou%20alta%20de,alta%20de%201%2C56%25 >. Acesso em 13 abr. de 2022.

SIDRA IBGE – Sistema IBGE de Recuperação Automática. Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, janeiro de 2022. Disponível em: < https://sidra.ibge.gov.br/home/pms/brasil >. Acesso em: 14 abr. 2022.

VIECELI, Leonardo. Setor de serviços recua 0,2% em fevereiro e frustra expectativas. Edição impressa da Folha de São Paulo, 2022. Disponível em:  < https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/04/setor-de-servicos-frustra-expectativas-e-recua-02-em-fevereiro.shtml >. Acesso em 20 abr. 2022.


[*] Graduando em Ciências Econômicas na UFSC, bolsista do NECAT, Internacionalista. Email: ide.andrey@gmail.com