Santa Catarina registra saldo de 13 mil empregos formais em julho

01/09/2021 10:01

Por: Victor Hugo Azevedo Nass[1]

Dando sequência aos acompanhamentos mensais publicados no blog do NECAT, o objetivo deste texto é analisar o comportamento do mercado formal de trabalho do Brasil e de Santa Catarina em julho de 2021, a partir dos resultados do Novo CAGED[2]. Para isso, serão analisados os saldos mensais e as variações relativas do emprego formal por grupamento de atividade econômica, gênero, escolaridade, faixa de remuneração e mesorregião geográfica.

De acordo com a Tabela 1, em julho o Brasil apresentou saldo positivo de 316.580 vínculos formais de trabalho, registrando alta de 0,8%. Já Santa Catarina criou 13.397 vínculos no mesmo período, com variação mensal de 0,6%. Com isso, ambas as regiões mantêm o crescimento do período anterior.

Tabela 1 – Evolução mensal de estoque, admissões, desligamentos, saldo e variação percentual (Brasil e Santa Catarina, julho a julho de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

No acumulado de 12 meses[3], o Brasil gerou quase 3,1 milhões novos postos formais de trabalho, o que representa uma variação de 8,1% no estoque de empregos formais. O mercado formal de trabalho catarinense seguiu as tendências nacionais durante todo o período analisado, todavia com um ritmo de geração de vagas mais intenso. O estado acumulou uma variação de 11,3% entre julho de 2020 e de 2021, com saldo de 234 mil vagas. Em grande medida, essas taxas elevadas ainda se devem ao fato de que os estoques de emprego formal estavam baixos durante o mesmo período em 2020, por conta da crise da Covid-19, No entanto, também demonstram uma recuperação consistente em 2021, uma vez que já é visível, tanto em nível nacional como regional, que o emprego formal está se expandindo para além do observado antes da pandemia.

Evolução do emprego formal no Brasil

Conforme os dados contidos na Tabela 2, em valores absolutos, os serviços foram novamente o setor com melhor desempenho no país em julho. Seu saldo foi de quase 128 mil vínculos, sendo puxado principalmente pelas contratações nos subsetores de: atividades administrativas e serviços complementares (37.011); alojamento e alimentação (28.224); e transporte, armazenagem e correio (14.548). Por outro lado, houve quedas no setor da educação, principalmente no ramo da educação superior, que perdeu mais de 5 mil vagas. Em termos relativos, os serviços tiveram alta mensal de 0,7% e de 6,3% no acumulado de 12 meses.

Tabela 2 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Brasil, julho de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Em termos relativos, a construção continua obtendo o melhor desempenho no acumulado em 12 meses, com crescimento de 14,3%. Seu saldo em julho foi de cerca de 30 mil vínculos, o que corresponde a uma alta de 0,8% no mês. Esse resultado foi bem distribuído entre os seus subsetores.

Quanto à variação mensal, a agropecuária obteve o melhor desempenho relativo, registrando alta de 1,4% em julho. Esse crescimento equivale a um saldo de cerca de 25 mil vínculos, localizados principalmente nos subsetores de: atividades de apoio à agricultura (5.060); colheita de soja (4.201); e pecuária (3.540). No acumulado de 12 meses, o setor registra o terceiro melhor resultado, com alta de 9,2%.

A indústria criou quase 89 mil empregos formais em julho, com destaque para os subgrupos de: fabricação de produtos alimentícios (10.271); preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para a viagem e calçados (6.694); confecção de artigos do vestuário e acessórios (6.259); fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (3.802); e fabricação de máquinas e equipamentos (3.721), que juntos correspondem por 50% do saldo mensal do setor. Tomado em seu conjunto, o crescimento do setor industrial foi de 0,7% no mês, e de 9,6% em comparação com o estoque de julho de 2020.

O setor de comércio gerou 74 mil vínculos formais de trabalho em julho, o que representou um crescimento de 0,8%. Esse resultado esteve muito concentrado no segmento varejista, que concentra 70% dos vínculos trabalhistas do setor. No  acumulado de um ano, o comércio registrou crescimento de 8,3%.

A Tabela 3 apresenta o saldo de vínculos formais de trabalho por sexo no Brasil. O resultado de julho foi positivo em 181 mil vínculos para os homens e em 135 mil vínculos para as mulheres, ou seja, pouco mais da metade dos postos gerados foram ocupados por homens. No acumulado de 12 meses, o cenário se repete.

Tabela 3 – Saldo por sexo (Brasil, julho de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 4 apresenta a distribuição do emprego formal por nível de escolaridade. Em julho, cerca de 70% dos postos formais de trabalho criados foram ocupados por pessoas que têm ensino médio completo (228.327). Embora em menor medida, outro nível de escolaridade que obteve crescimento considerável foi o ensino médio incompleto (29.751). No acumulado de 12 meses, é notável que a retomada do emprego foi puxada principalmente por vagas para ensino médio completo (2.306.990).

Tabela 4 – Saldo por nível de escolaridade (Brasil, julho de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 5 apresenta a distribuição do emprego formal por faixa de remuneração. Em julho de 2021, foram criadas mais de 290 mil vagas com remuneração entre 1 a 2 salários mínimos, o que corresponde a quase 90% do saldo mensal. A faixa de 2 a 3 salários mínimos também registrou crescimento notável, embora mais contido, de 24 mil vagas. A única faixa que registrou queda no mês foi mais uma vez a de meio a 1 salário mínimo, com a perda de 23 mil postos formais de trabalho. No acumulado de 12 meses, observa-se que a faixa entre 1 e 2 salários mínimos (2.949.936) representou quase a totalidade das vagas geradas, revelando uma tendência de concentração do emprego formal nessa faixa salarial.

Tabela 5 – Saldo por faixa de remuneração (Brasil, julho de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Nota: Faixas de remuneração em salários mínimos de 2021 (R$ 1.100).

Evolução do emprego formal em Santa Catarina

Em julho, os serviços voltaram a apresentar o maior saldo mensal no emprego formal do estado, com mais de 4 mil novas vagas e variação de 0,5%. O resultado mensal foi puxado pelos subsetores de: informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (1.924); e transporte, armazenagem e correio (1.183). No acumulado de 12 meses, o setor fechou com um importante crescimento, de 10,3%.

Tabela 6 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Santa Catarina, julho de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Logo atrás dos serviços, com um saldo de cerca de 4,5 mil novos vínculos formais de trabalho, temos a indústria, que registrou alta de 0,6% no mês. Esse resultado foi bem distribuído dentro da indústria de transformação, com saldos levemente maiores nos subsetores de: confecção de artigos do vestuário e acessórios (1.080); fabricação de produtos têxteis (657); e fabricação de produtos alimentícios (592). No acumulado em 12 meses, o setor industrial tem o maior crescimento do estado, com expressivos 13,4% de aumento no emprego formal.

A construção obteve novamente a maior taxa de crescimento do mês, com uma alta de 1,3% e saldo de 1.663 vínculos. Esse crescimento foi bem distribuído entre seus subsetores. No acumulado de um ano o número de empregos formais no setor cresceu 11,6%.

O comércio registrou um crescimento de 0,6% em julho, com criação de 2,7 mil vínculos. Mais de 2/3 desses vínculos estão concentrados no setor varejista, que apresentou um saldo de 1.826 vagas. Em 12 meses, o crescimento do setor comercial também foi de 10,3%, em linha com o desempenho dos serviços.

A agropecuária voltou a registrar saldo negativo em julho, dessa vez com perda de 218 vagas. Esse saldo se deve à baixa expressão do setor na estrutura do mercado formal de trabalho, à exceção de safras temporárias, como as observadas no início do ano. Com isso, a agropecuária registrou uma baixa de 0,5%, e tem a menor taxa de crescimento anual entre os setores, de somente 3,7%.

Conforme a Tabela 7, mais de 7 mil  das vagas abertas em julho foram ocupadas por mulheres e pouco mais de 6 mil por homens, ou seja, as mulheres tiveram novamente um saldo ligeiramente maior no mês. Esse desempenho está relacionado ao crescimento das vagas nos ramos têxtil-vestuário e no comércio. Apesar disso, no saldo de 12 meses os homens seguem com clara vantagem, com alta de 121 mil vagas, face às 112 mil  vagas femininas.

Tabela 7 – Saldo por sexo (Santa Catarina, julho de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Conforme indicam os dados contidos na Tabela 8, mais da metade dos empregos gerados em julho de 2021 foram ocupados por trabalhadores com ensino médio completo (9.168). Além disso, destaca-se o desempenho na faixa com ensino médio incompleto (2.099). No acumulado de 12 meses, segue a tendência de concentração do emprego na faixa de ensino médio completo, cujo saldo de quase 147 mil vínculos representa cerca de 2/3 do total de vagas geradas no período. Em seguida, aparece a faixa de ensino médio incompleto (31.724).

Tabela 8 – Saldo por nível de escolaridade (Santa Catarina, julho de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 9 apresenta a distribuição do emprego formal por faixa de remuneração. Em julho, 9.569 vagas formais foram criadas na faixa entre 1 e 2 salários mínimos, que concentrou cerca de 70% do saldo mensal. Além disso, parte expressiva do saldo mensal também localizou-se na faixa de 2 a 3 salários mínimos (2.156 vagas). Com relação ao acumulado de 12 meses, percebe-se que Santa Catarina tem um comportamento muito similar ao visto nacionalmente, com um crescimento das vagas extremamente concentrado na faixa entre 1 e 2 salários mínimos (196.979 vagas), que corresponde a mais de 80% do saldo total.

Tabela 9 – Saldo por faixa de remuneração (Santa Catarina, julho de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Com relação à distribuição mesorregional dos empregos formais (Tabela 10), podemos observar que a região do Vale do Itajaí novamente apresentou o melhor desempenho em julho, em termos absolutos. Puxado pelo bom desempenho da indústria metalúrgica e os serviços de transporte, armazenagem e correio, a região registrou alta da ordem de 0,7%, correspondente ao saldo de 4 mil novos postos formais de trabalho. Em 12 meses, o Vale do Itajaí acumula um saldo de mais de 70 mil vagas, com alta de 12,8%. Com isso, a região já concentra 30% de todas as vagas geradas em Santa Catarina ao longo desse  período.

Tabela 10 – Saldo por mesorregião (Santa Catarina, julho de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

O segundo melhor desempenho mensal ficou por conta da grande Florianópolis, com um saldo de 3 mil  vagas no mês. Em termos relativos, a região registrou o melhor desempenho estadual, com alta mensal de 0,8%. Em grande medida, esse resultado se deve à retomada do setor de serviços – que tem uma forte presença na região. No acumulado de 12 meses, a Grande Florianópolis apresenta um crescimento de 10,1%.

Já a região Norte cresceu 0,5%, com quase 3 mil vagas criadas em julho. Esse saldo é sustentado principalmente pelo bom desempenho da indústria da região, destacadamente nos subsetores da fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias; e de máquinas e equipamentos. Além disso, os serviços também tiveram uma contribuição importante, notadamente o subsetor de atividades administrativas e serviços complementares. Em relação ao desempenho em 12 meses, a região Norte acumula um crescimento de 11,4%.

A região Oeste obteve um saldo de mais de 1,5 mil vagas em julho, equivalente a uma alta de 0,4% no seu estoque de empregos formais. Os principais determinantes desse desempenho são o crescimento da indústria de alimentos e os serviços de correios e administração pública, principalmente em Chapecó, que sustenta 1/3 dos postos criados no mês. Em relação aos últimos 12 meses, a região obteve um crescimento de 9,3%, concentrado na indústria de alimentos.

Com o segundo melhor acumulado em 12 meses, de expressivos 12,6%, a região Sul registrou saldo de 730 vagas no mês. Apesar do crescimento abaixo da média (0,4%), a região ainda manteve essa posição em julho. Criciúma sozinha foi responsável por 493 vagas no mês, concentradas nos setores de atividades administrativas e serviços complementares (160 vagas) e confecção de artigos do vestuário e acessórios. Esse saldo compensou as quedas registradas em outros municípios importantes da região, com destaque a Tubarão e Araranguá.

A região Serrana apresentou o menor crescimento do estado, da ordem de 0,2% em julho, representando um saldo de 377 vagas. Esse resultado se deve em grande medida às quedas registradas na agropecuária, que contribuíram para seu baixo dinamismo na comparação com as outras regiões. No acumulado de 12 meses, a região apresenta alta de 7,7%, sendo este o menor resultado entre as mesorregiões catarinenses.

Em síntese, os dados de julho indicam que o emprego formal em Santa Catarina continua em expansão, em ritmo semelhante ao observado nos últimos meses, com destaque para o forte desempenho da região do Vale do Itajaí e para a Grande Florianópolis. Os setores da indústria e de serviços têm papel muito importante nesse processo. Outro dado importante é o saldo superior de empregos femininos no estado em julho, ainda que as tendências recentes do mercado formal de trabalho tenham favorecido mais os homens. Por fim, é importante destacar a baixa  qualidade dos postos de trabalho gerados, dada sua concentração em vagas com baixa remuneração (na faixa entre 1 e 2 salários mínimos) e de baixa escolaridade.


[1] Estudante de Economia na UFSC e bolsista do Necat.

[2] Todos os dados apresentados neste texto foram coletados junto à base de dados do Ministério da Economia entre 26 e 27 de agosto de 2021. Em razão das declarações fora do prazo e das revisões periódicas da base de dados, os dados podem divergir ligeiramente dos divulgados nas análises anteriores.

[3] A variação acumulada em 12 meses refere-se ao crescimento do estoque de empregos formais entre julho de 2020 e julho de 2021.