Santa Catarina ultrapassou a marca de 22 mil óbitos por covid-19 ao final do mês de junho/22

07/07/2022 14:58

Lauro Mattei[1]

A Tabela 1 apresenta a evolução agregada a cada mês dos óbitos que ocorreram em Santa Catarina desde o início da pandemia. Inicialmente é importante registrar que as taxas de crescimento nos meses iniciais apresentam um percentual bastante elevado em função de que o número absoluto de ocorrências era extremamente baixo até o mês de julho de 2020. Com o surgimento do primeiro surto expressivo da doença nos meses seguintes, esse panorama se alterou, fazendo com que essas taxas refletissem mais adequadamente a realidade. Desta forma, nota-se que o aumento mais expressivo do número de óbitos só vai acontecer a partir do mês de julho de 2020, com forte expansão no mês seguinte. Em termos percentuais, essas ocorrências nesses dois meses (julho e agosto) representam 36% de todos os óbitos que ocorreram no ano de 2020.

Além disso, destaca-se que no mês de dezembro de 2020 houve um aumento de 40% do número de óbitos em relação ao mês anterior. Com isso, somente esse mês respondeu por 28% de todos os óbitos registrados em 2020. Se a esse percentual for agregada a participação das mortes que ocorreram no mês de agosto/20, nota-se que apenas em dois meses (agosto e dezembro) foram registradas 50% das mortes por Covid-19 relativas ao ano de 2020. Todavia, quando se considera os óbitos que ocorreram nos dez primeiros meses de pandemia (março a dezembro de 2020) eles representam apenas 23% do total de mortes registradas até o último mês considerado (junho/22).

A partir do início do ano de 2021 ocorreu um aumento expressivo dessas ocorrências fatais em relação ao total registrado nos meses anteriores. Assim, nota-se que os óbitos registrados no primeiro semestre de 2021 (janeiro a junho) atingiram a marca de 11.608 pessoas que perderam a vida para a Covid-19. Com isso, o primeiro semestre de 2021 respondeu por 78% das mortes registradas no ano de 2021 e por 54% de todos os óbitos oficiais decorrentes da pandemia. Ou seja, o primeiro semestre de 2021 é o período de maior incidência fatal da doença no estado.

Já no segundo semestre/21 ocorreu uma queda expressiva do número mensal de óbitos, destacando-se o mês de dezembro/21 cujo número de mortes somente superou os três meses iniciais da pandemia (março a maio/20). Com isso, os 3.325 óbitos registrados no referido semestre representaram apenas 22% de todas as mortes registradas no ano de 2021 e 14% de todos os óbitos ocorridos ao longo da pandemia. Essa escalada de óbitos registrada no ano de 2021 fez com que 14.933 pessoas perdessem a via para a Covid-19 apenas em um único ano. Em termos percentuais, isso significa que 70% de todas as mortes pela doença foram registradas no ano de 2021.

Tabela 1: Evolução mês a mês dos óbitos por Covid-19 em SC até Junho/22

tabela1lauro

Fonte: Boletins Epidemiológicos SES-SC. Elaboração do autor

No ano de 2022 observou-se a continuidade dos óbitos, exceto nos meses de janeiro e fevereiro quando foram registradas 1.182 mortes, as quais representam 5,5% do total de óbitos que ocorreram ao longo de toda a pandemia. De alguma forma, essa inversão da tendência que estava em curso desde o mês de outubro/21 ocorreu após o início de uma nova explosão da doença provocada pela variante Ômicron. Se considerarmos o primeiro trimestre de 2022, nota-se que foram registradas 1.476 mortes nesse período, ou seja, 80% do total dos óbitos ocorridos em 2022. Nesse trimestre ocorreu um aumento expressivo dos percentuais mensais de mortes, destacando-se o caso do mês de fevereiro/22 que atingiu 4%. Isso significa que 43% de todos os óbitos do primeiro trimestre de 2022 foram registrados em um único mês. Já no segundo trimestre de 2022 (abril a junho) foram registradas apenas 367 mortes, o que corresponde a 20% do total registrado no corrente ano, destacando-se que o percentual mensal desse período ficou abaixo de 1% em todos os meses. Com isso, o resultado agregado revelou que os óbitos relativos ao primeiro semestre de 2022 representam apenas 8,5% das 22.029 mortes ocorridas até então no estado.

A Tabela 2 apresenta a evolução dos óbitos por Covid-19 segundo as faixas etárias das pessoas. Inicialmente nota-se que as mortes por essa doença registradas nas faixas etárias jovens, ou seja, até 40 anos de idade, são inferiores a 5% do total documentado no primeiro semestre de 2022, o que não quer dizer que elas não estejam ocorrendo também nesses grupos de pessoas.

Tabela 2: Evolução dos óbitos pela Covid-19 por faixa etária ocorridos em 2022

tabela2lauro

 Fonte: Boletins Epidemiológicos da SES-SC. Elaboração do autor.

Considerando-se o recorte de 70 anos ou mais de idade, observa-se que 63% do total de óbitos ocorridos no primeiro semestre de 2022 foram registrados nessas faixas etárias, destacando-se que somente a faixa etária de 70-79 anos foi responsável por 28% de todas as mortes ocorridas no corrente ano. Se a essas faixas fora agregada a faixa etária de 60-69 anos, chega-se a 82%, ou seja, a grande maioria dos óbitos por Covid-19 no ano de 2022 está localizada nas pessoas com 60 anos ou mais de idade. Por fim, se considerarmos as pessoas acima de 50 anos de idade, chega-se ao percentual de 92%. Isso indica que a maioria absoluta das mortes pela Covid-19 que estão em curso no momento diz respeito às pessoas com idade entre 50 anos ou mais de idade.

Estudo recente relativo aos meses de março e junho/22 divulgado pela plataforma de monitoramento da Covid-19 da USP e UNESP revelou que, de um total de 7.547 óbitos por Covid-19, 67% não haviam tomado a dose de reforço e 26% estavam sem a proteção da vacina há mais de 7 meses. Com isso, concluiu-se que 93% das pessoas que vieram a óbito no período citado não estavam imunizados, sendo que a maioria das mortes dizia respeito à pessoas de faixas etárias acima de 60 anos.

Decorre desse indicador a importância de se manter a vacinação em dia contra a doença. Neste caso, seria importante uma análise mais qualificada em relação a esses óbitos, ou seja, a realização de uma verificação in loco da condição vacinal de cada pessoa dessas respectivas faixas etárias que veio a óbito em Santa Catarina. Infelizmente, não foi possível ter acesso a essas informações qualificadas para ampliar o horizonte de nossas análises.

Considerações Finais

As informações analisadas neste artigo revelaram que houve alternâncias no comportamento do indicador (óbitos) nos diversos períodos considerados. Sem dúvida, esses comportamentos díspares guardam uma relação direta com os distintos surtos contaminatórios que ocorreram no estado, como está sendo o caso atual da nova onda provocada pela variante Ômicron.

Mesmo diante de novos surtos contaminatórios, é importante registrar que a partir da ampliação da vacinação da população (início de 2021), os benefícios da imunização das pessoas apareceram, especialmente a partir do segundo semestre de 2021 e, particularmente, no primeiro semestre de 2022, quando a população foi afetada pela variante Ômicron. Tal variante, apesar de ser altamente transmissível, tornou-se menos letal exatamente por causa da vacinação em massa das pessoas.

Todavia, quando se observa o quadro atual de vacinação no estado, nota-se uma situação preocupante, uma vez que milhares de pessoas de todas as faixas etárias não estão tomando a dose de reforço ou nem sequer completaram o ciclo primário de vacinação. Mais preocupante ainda é verificar que a vacinação das crianças de 5 a 11 anos de idade, que já deveria ter concluído o primeiro ciclo (aplicação da primeira dose), sequer atingiu 44% desse público. Tais fatos expõem a fragilidade atual do processo de imunização da população catarinense. Por isso, insistimos na importância da população manter sua vacinação em dia, de acordo com programa estadual de vacinação contra a doença. Esse cenário de relaxamento da vacinação está propiciando que novas mutações do vírus continuem aparecendo recorrentemente, de tal forma que o fim da pandemia permaneça cada vez mais incerto e distante.


[1] Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador Geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. Email: l.mattei@ufsc.br  Artigo escrito em 06.07.2022