Serviços continuam liderando a geração de empregos formais de Santa Catarina em setembro

10/11/2021 11:38

Por: Victor Hugo Azevedo Nass[1] e Allan da Cruz Lopes[2]

Dando sequência aos acompanhamentos mensais publicados no Blog do Necat, o objetivo deste texto é analisar o comportamento do mercado formal de trabalho do Brasil e de Santa Catarina em setembro de 2021, a partir dos resultados do Novo CAGED[3]. Para isso, serão analisados os saldos mensais e as variações relativas do emprego formal por grupamento de atividade econômica, gênero, escolaridade, faixa de remuneração e mesorregião geográfica.

De acordo com a Tabela 1, em setembro o Brasil apresentou saldo positivo de aproximadamente 314 mil vínculos formais de trabalho, já em Santa Catarina são quase 18 mil vínculos. As regiões mantêm o ritmo de crescimento, ambas com uma expressiva alta de 0,8% no mês.

Tabela 1 – Evolução mensal de estoque, admissões, desligamentos, saldo e variação percentual (Brasil e Santa Catarina, setembro de 2020 a setembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

No acumulado de 12 meses[4], o Brasil gerou quase 3,2 milhões de novos postos formais de trabalho, o que representa uma variação de 8,2% no estoque nacional. O mercado formal de trabalho catarinense seguiu as tendências nacionais durante todo o período analisado, todavia com um ritmo de geração de vagas mais intenso. O estado acumulou uma variação de 10,7% entre setembro de 2020 e de 2021, com saldo de 226 mil vagas. Ainda que esses resultados sejam influenciados pelo fato de que o nível de emprego estava baixo no mesmo período do ano anterior, eles demonstram uma recuperação consistente em 2021, uma vez que já é visível, tanto em nível nacional como regional, que o mercado formal de trabalho está se expandindo para além do observado antes da pandemia.

Evolução do emprego formal no Brasil

Conforme os dados contidos na Tabela 2, em valores absolutos, os serviços foram novamente o setor com melhor desempenho no país em setembro, com saldo de 143 mil vínculos. Esse resultado equivale a um crescimento mensal de 0,7%, o qual foi puxado principalmente pelas contratações nos subsetores que dependiam da volta da circulação de pessoas, e que, com quase 60% da população  nacional imunizada[5], voltaram a crescer, com destaque aos subsetores de: atividades administrativas e serviços complementares (32.858); alojamento e alimentação (31.763); e educação (14.631). Apesar da aceleração recente, vale notar que no acumulado de 12 meses os serviços seguem com o menor crescimento entre os setores, devido sobretudo ao desempenho de subsetores como os de atividades associativas e de transporte terrestre, que tiveram uma lenta recuperação dos postos de trabalho perdidos na fase inicial da pandemia.

Tabela 2 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Brasil, setembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A indústria criou mais de 76 mil empregos formais em setembro, com destaque para os subgrupos de: fabricação de produtos alimentícios (24.034); preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para a viagem e calçados (9.580); e confecção de artigos do vestuário e acessórios (7.598), que juntos correspondem por mais de 50% do saldo mensal do setor. Tomado em seu conjunto, o crescimento do setor industrial foi de 1,0% no mês, e de 8,5% em comparação com o estoque de setembro de 2020.

O setor de comércio gerou 61 mil vínculos formais de trabalho em setembro, o que representou um crescimento de 0,6%. Esse resultado foi fortemente influenciado pelos subsetores do varejo não especializado (6.921); e do comércio varejista de vestuário e acessórios (5.324). No  acumulado de um ano, o comércio registrou crescimento expressivo de 8,8%, tendo os super e hipermercados grande importância para tal.

Em termos relativos, a construção continua obtendo o melhor desempenho no acumulado em 12 meses, com crescimento de 11,7%. Seu saldo em setembro foi de 24,5 mil vínculos, o que corresponde a uma alta de 1,0% no mês, também o maior crescimento observado. Esse resultado ficou concentrado nos subsetores de serviços especializados para a construção (11.580) e na construção de edifícios (10.837).

A agropecuária obteve o menor saldo do mês, com cerca de 9 mil vagas criadas, registrando alta de 0,5% em setembro. Esses novos vínculos estão localizados principalmente nos cultivos de cana-de-açúcar (4.896) e de soja (2.857), porque ambos entraram no período de plantio. Porém, o setor apresentou queda expressiva no nível de emprego no subsetor de cultivo de café (-7.136), devido ao fim da safra do grão. No acumulado de 12 meses, o setor registra uma alta de 9%.

A Tabela 3 apresenta o saldo de vínculos formais de trabalho por sexo no Brasil. O resultado de setembro foi positivo em 174 mil vínculos para os homens e em 140 mil vínculos para as mulheres, ou seja, pouco mais da metade dos postos gerados foram ocupados por homens. No acumulado de 12 meses, o cenário se repete.

Tabela 3 – Saldo por sexo (Brasil, setembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 4 apresenta a distribuição do emprego formal por nível de escolaridade. Em setembro, 64% dos postos formais de trabalho criados foram ocupados por pessoas que têm ensino médio completo (201.765). Embora em menor medida, outros níveis de escolaridade que obtiveram crescimento considerável foram o de ensino médio incompleto (31.299) e o ensino fundamental incompleto (26.272). No acumulado de 12 meses, é notável que a retomada do emprego foi puxada principalmente por vagas para ensino médio completo (2.333.262).

Tabela 4 – Saldo por nível de escolaridade (Brasil, setembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 5 apresenta a distribuição do emprego formal por faixa de remuneração. Em setembro, foram criadas mais de 282 mil vagas com remuneração entre 1 a 2 salários mínimos, o que corresponde a 90% do saldo mensal. O segundo maior saldo por faixa salarial foi a de 2 a 3 salários mínimos. A faixa de meio a um salário mínimo continua sua tendência de queda. No mês, foram menos 28 mil postos formais de trabalho. Em relação ao acumulado de 12 meses, observa-se que a faixa entre 1 e 2 salários mínimos (3,2 milhões) representou quase a totalidade das vagas geradas, revelando uma tendência de concentração do emprego formal nessa faixa salarial.

Tabela 5 – Saldo por faixa de remuneração (Brasil, setembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Nota: Faixas de remuneração em salários mínimos de 2021 (R$ 1.100).

Evolução do emprego formal em Santa Catarina

Em setembro, os serviços continuam a apresentar o maior saldo mensal no emprego formal do estado, com 7,4 mil novas vagas e alta de 0,8%. O resultado mensal foi puxado pelos subsetores de: alojamento e alimentação (1.647); transporte, armazenagem e correio (1.107); e educação (585). Em grande medida, esse resultado é reflexo do avanço da vacinação, que contribui para a retomada da demanda por serviços presenciais, como os prestados por bares e restaurantes e o crescimento da demanda por transportes, com a volta do ensino presencial. No acumulado de 12 meses,  o setor fechou com um crescimento de 10,8%, aproximando-se da média estadual. Esse resultado difere enormemente do que é observado no restante do Brasil, indicando que em Santa Catarina os serviços estão se recuperando mais rápido. Quanto aos segmentos que compõem esse setor no estado, destaca-se que as atividades administrativas e os serviços complementares respondem por 23% das vagas criadas, enquanto as atividades de alojamento e alimentação apresentam taxas de crescimento modestas. Com isso, nota-se que a pandemia provocou um deslocamento das vagas dos serviços prestados às famílias para os prestados às empresas, mas que, com a volta da circulação do público geral,começa a ser revertido.

 Tabela 6 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Santa Catarina, setembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Com saldo de mais de 4,5 mil vínculos formais de trabalho, a indústria obteve um crescimento mensal de 0,6%. Os maiores saldos se deram nos subsetores de: confecção de artigos do vestuário e acessórios (841); fabricação de produtos alimentícios (655); fabricação de produtos têxteis (449); e fabricação de produtos de minerais não-metálicos (403), que juntos correspondem por metade do saldo mensal. Já no crescimento em 12 meses, o setor apresenta alta de 12,4%, onde a confecção de artigos do vestuário e a fabricação de produtos têxteis correspondem por 1/4 do saldo total.

O comércio registrou um crescimento de 0,9% em setembro, com criação de mais de 4 mil vínculos. Os subsetores que mais se destacaram foram o de hiper e supermercados varejistas (956 vínculos) e o atacado em geral (832 vínculos), que juntos representam 40% do saldo mensal. Em 12 meses, o crescimento do setor foi de 10,3%.

A construção, com crescimento de 0,8%, contou com um saldo de 1,1 mil vínculos. Esse crescimento foi concentrado nos subsetores de construção de edifícios (654) e serviços especializados para a construção (436). No acumulado de um ano, o setor foi o que mais cresceu, com uma taxa de 11,4%.

A agropecuária criou 571 novas vagas no mês. Esse saldo é sustentado principalmente  pelo cultivo de maçã,  do qual Santa Catarina é o maior produtor nacional. O setor abriu 373 vagas em setembro, devido ao início da brotação da fruta e ao aquecimento do setor, favorecido pela depreciação cambial do real, que impulsiona as exportações[6]. Para além, nota-se que a agropecuária registrou a maior taxa de crescimento no mês (1,4%), mas a menor na comparação com setembro de 2020 (5,5%).

Conforme a Tabela 7, mais de 10 mil das vagas abertas em setembro foram ocupadas por mulheres e quase 8 mil por homens, ou seja, as mulheres tiveram novamente um saldo ligeiramente maior no mês. Esse desempenho está relacionado ao crescimento das vagas nos ramos dos serviços, notadamente as atividades administrativas e serviços complementares, onde as mulheres ocuparam cerca de 70% das vagas criadas. As mulheres acumulam saldo maior que os homens no agregado anual, com alta de 117 mil vagas, face às 109 mil vagas masculinas, o que mostra como foi importante a mão de obra feminina para a recuperação da crise.

Tabela 7 – Saldo por sexo (Santa Catarina, setembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Conforme indicam os dados contidos na Tabela 8, mais da metade dos empregos gerados em setembro de 2021 foram ocupados por trabalhadores com ensino médio completo (11.184). O segundo maior saldo é o da faixa de ensino médio incompleto, com um saldo de 1.220 vagas. No acumulado de 12 meses, segue a tendência de concentração do emprego na faixa de ensino médio completo, cujo saldo de mais de 141 mil vínculos representa cerca de 2/3 do total de vagas geradas no período. Em seguida, aparece a faixa de ensino médio incompleto (31 mil vagas no acumulado).

Tabela 8 – Saldo por nível de escolaridade (Santa Catarina, setembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 9 apresenta a distribuição do emprego formal por faixa de remuneração. Em setembro, quase 14 mil vagas formais foram criadas na faixa entre 1 e 2 salários mínimos, que concentrou cerca de 75% do saldo mensal. Na sequência, a faixa de 2 a 3 salários mínimos foi a segunda com maior saldo (2,4 mil vagas). Com relação ao acumulado de 12 meses, percebe-se que Santa Catarina tem um comportamento muito similar ao visto nacionalmente, com um crescimento das vagas extremamente concentrado na faixa entre 1 e 2 salários mínimos (208 mil vagas), que corresponde a mais de 90% do saldo total.

Tabela 9 – Saldo por faixa de remuneração (Santa Catarina, setembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Com relação à distribuição mesorregional dos empregos formais (Tabela 10), podemos observar que a região do Vale do Itajaí novamente apresentou a melhor performance em setembro, em termos absolutos. Puxado pelo bom desempenho no setor dos serviços – com destaque para as atividades administrativas e serviços complementares e de alojamento e alimentação –  a região registrou alta expressiva, da ordem de 1%, correspondente ao saldo de 6 mil novos postos formais de trabalho. Em 12 meses, o Vale do Itajaí acumula um saldo de mais de 70 mil vagas, com alta de 12,4%. Com isso, a região já concentra 30% de todas as vagas geradas em Santa Catarina ao longo desse período.

Tabela 10 – Saldo por mesorregião (Santa Catarina, setembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

O segundo melhor desempenho mensal ficou por conta da região Norte, que apresentou um saldo de 3,2 mil e cresceu 0,7% em relação a agosto. Esse saldo é sustentado principalmente pelo bom desempenho dos serviços, com destaque para os subsetores de: informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas; e atividades administrativas e serviços complementares. Joinville e Jaraguá do Sul acumulam 70% das vagas criadas na mesorregião em setembro. Em relação ao desempenho em 12 meses, a região Norte acumula um crescimento de 10,3%.

Na sequência fica a região da grande Florianópolis, com um saldo de 3 mil vagas no mês. Em termos relativos, a região apresentou alta mensal de 0,7%. No acumulado de 12 meses, a Grande Florianópolis apresenta um crescimento de 10,9%.

Já a região Sul registrou saldo de 2,3 mil vagas no mês, uma alta de 0,8%. Os setores industrial e de comércio foram os principais responsáveis pelo saldo. Em 12 meses, a região apresentou um importante crescimento,  da ordem de 11,4%,

A região Oeste obteve um saldo de mais de 2,2 mil vagas em setembro, equivalente a uma alta de 0,6% no seu estoque de empregos formais. Os principais destaques positivos ficaram por conta dos serviços de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas e o comércio varejista em geral. A agropecuária já começa a criar novos vínculos na região, especialmente por conta do início da safra da maçã, que é muito forte em Fraiburgo. Em relação aos últimos 12 meses, a região obteve um crescimento consideravelmente inferior à média estadual, de 8,4%, muito por conta do lento crescimento da indústria – notadamente a alimentícia – e o comércio voltado a itens de recreação e de informática.

A região Serrana apresentou um crescimento da ordem de 1% em setembro, representando um saldo de 916 vagas, sem nenhum grande destaque setorial. No acumulado de 12 meses, a região apresenta alta de 8,8%, sendo este o menor resultado entre as mesorregiões catarinenses. Tal resultado indica a continuidade da tendência de empobrecimento relativo da serra catarinense, que ostenta os piores indicadores sociais do estado.

Em síntese, os dados de setembro indicam que o emprego formal em Santa Catarina continua em expansão, com destaque para o forte desempenho da região do Vale do Itajaí e para a região Norte. Os setores da indústria e de serviços têm papel muito importante nesse processo. Outro dado importante é a distribuição do emprego entre os sexos, que favorece mais as mulheres nos últimos meses, em compasso com a aceleração das contratações no setor de serviços. Além disso, é importante destacar a baixa qualidade dos postos de trabalho gerados, dada sua concentração em vagas com baixa remuneração (na faixa entre 1 e 2 salários mínimos) e de baixa escolaridade.


[1] Estudante de Economia na UFSC e bolsista do Necat.

[2] Estudante de Economia na UFSC e bolsista do Necat.

[3] Todos os dados apresentados neste texto foram coletados junto à base de dados do Ministério da Economia em 30 de setembro de 2021. Em razão das declarações fora do prazo e das revisões periódicas da base de dados, os dados podem divergir ligeiramente dos divulgados nas análises anteriores.

[4] A variação acumulada em 12 meses refere-se ao crescimento do estoque de empregos formais entre setembro de 2020 e setembro de 2021.

[5] https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2021-1/outubro/reflexos-da-vacinacao-setembro-e-o-mes-com-o-menor-numero-de-obitos-por-covid-19-em-2021-1

[6] Para mais detalhes, ver EPAGRI. Boletim Agropecuário, n. 100. 2021.