Recuperação do emprego formal acelera em outubro com retomada dos serviços e do comércio

12/12/2020 18:32

Por: Maria Eduarda Munaro[1]

Conforme apresentamos em artigo recentemente publicado na Revista NECAT, a crise associada à pandemia da Covid-19 impactou de forma intensa o mercado formal de trabalho em Santa Catarina e no Brasil[2]. O objetivo deste texto é atualizar a análise do processo de recuperação do emprego formal no estado à luz da dinâmica nacional, dando atenção aos resultados do Novo CAGED do mês de outubro.

De acordo com os dados contidos na Tabela 1, no mês de outubro o Brasil apresentou saldo de 394.989 vínculos formais de trabalho, enquanto Santa Catarina gerou 32.911 novos vínculos. Com isso, o Brasil acumulou a perda de 171.139 vínculos desde o início do ano, o que representa uma queda de 0,4% no total de empregos formais ativos. Em geral, o mercado formal de trabalho catarinense permanece seguindo as tendências nacionais, no entanto o ritmo de sua recuperação tem sido mais intenso do que a média do país. Com o resultado de outubro, o estado retomou o patamar atingido ao final de 2019, acumulando uma variação de 1,7% no estoque de vínculos formais de trabalho desde o início de 2020.

Tabela 1 – Evolução mensal de estoque, admissões, desligamentos e saldo (Brasil e Santa Catarina, janeiro a outubro de 2020).*

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Fonte: Novo Caged (2020); Elaboração: NECAT/UFSC.

*Dados extraídos em 29/11/2020.

A evolução do emprego formal no Brasil

A Tabela 2 apresenta o saldo de vínculos formais de trabalho por grupamento de atividade econômica no Brasil no mês de outubro de 2020 e no acumulado do ano. No mês, o melhor resultado foi o do setor de serviços, que puxou o resultado global mediante a geração de 156.766 novos vínculos. Embora os serviços tenham acelerado enormemente seu ritmo de retomada, esse saldo ainda não foi suficiente para recuperar todos os vínculos perdidos na fase mais aguda da pandemia, de modo que o estoque do setor segue com 268.049 vínculos a menos do que possuía no início do ano.

Tabela 2 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Brasil, outubro de 2020)

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Fonte: Novo Caged (2020); Elaboração: NECAT/UFSC.

O segundo melhor resultado mensal ficou por conta do comércio, que também apresentou um resultado expressivo, com saldo de 115.647 vínculos. Esse é o melhor resultado do ano para o grupamento, indicando um ritmo maior de recuperação em relação aos períodos anteriores. Apesar disso, o comércio ainda registra a perda de 231.245 vínculos no acumulado do ano.

Embora tenha seguido com saldo positivo de 86.426 vínculos em outubro, o ritmo de recuperação da indústria desacelerou em relação a setembro. Ao contrário dos setores de serviços e comércio, entretanto, o patamar de empregos da indústria é maior do que o registrado no início do ano, acumulando crescimento de 89.991 vínculos.

A construção apresentou saldo de 36.296 vínculos no mês, o que não deixa de representar um saldo expressivo, todavia também pode indicar o início de uma tendência de desaceleração. No acumulado do ano, o setor aparece com um dos melhores resultados, com saldo de 138.409 vínculos.

Por fim, agropecuária apresentou resultado negativo de 120 vínculos formais de trabalho no mês de outubro, refletindo o baixo desempenho do setor desde agosto. Ainda assim, o setor apresenta o melhor desempenho relativo desde janeiro, quando acumulou 102.911 novos vínculos.

De acordo com a Tabela 3, os resultados de outubro indicam que a retomada do emprego formal segue ampliando as desigualdades entre homens e mulheres. No acumulado, os homens apresentaram saldo de 123.643 vínculos, enquanto as mulheres apresentaram saldo negativo de 294.782 vínculos. No mês, os homens apresentaram 234.491 vínculos formais de trabalho, e as mulheres apenas 160.498 vínculos. O resultado de outubro não foi suficiente para retirar as mulheres do acumulado negativo, como aconteceu com os homens.

Tabela 3 – Saldo por gênero (Brasil, outubro de 2020)

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Fonte: Novo Caged (2020); Elaboração: NECAT/UFSC.

A heterogeneidade da retomada do emprego formal também aparece no indicador de faixa etária, segundo indicam os dados contidos na Tabela 4. Por um lado, a faixa dos trabalhadores com idades entre 18 a 24 anos permanece em destaque, com saldo de 185.015 vínculos, o que representa quase a metade de todas as admissões líquidas do mês. Por outro lado, as faixas de 50 a 64 anos e 65 anos ou mais permanecem com saldos negativos, de 5.893 e 4.343 vínculos, respectivamente.

Tabela 4 – Saldo por faixa etária (Brasil, outubro de 2020)

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Fonte: Novo Caged (2020); Elaboração: NECAT/UFSC.

No acumulado do ano, apenas as duas faixas etárias com os trabalhadores mais jovens (até 24 anos) registram saldos positivos, enquanto em todas as demais ainda não houve uma retomada dos postos de trabalho perdidos.

Conforme a Tabela 5, todos os grupamentos ocupacionais identificados apresentaram saldos positivos em outubro de 2020. Os melhores resultados do mês ficaram por conta dos trabalhadores da produção de bens e serviços industriais, trabalhadores dos serviços, vendedores do comércio em lojas e mercados e trabalhadores de serviços administrativos, com saldos de 150.580, 113.027 e 84.719 vínculos, respectivamente.

Tabela 5 – Saldo por grupamento ocupacional (Brasil, outubro de 2020)

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Fonte: Novo Caged (2020); Elaboração: NECAT/UFSC.

Nos demais grupamentos, o crescimento foi mais contido, com destaque para o saldo reduzido dos trabalhadores agropecuários, florestais e da pesca (881 vínculos), membros superiores do Poder Público, dirigentes de organizações de interesse público e de empresas e gerentes (3.090) e trabalhadores em serviços de reparação e manutenção.

A evolução do emprego formal em Santa Catarina

A exemplo do que ocorreu no conjunto do país, em Santa Catarina o grupamento que apresentou melhor resultado foi o de serviços, com saldo de 12.128 vínculos formais no mês de outubro (Tabela 6). Com isso, o setor também logrou retomar o patamar obtido ao final de 2019, acumulando saldo de 10.146 empregos desde o começo de 2020. Esse desempenho foi puxado sobretudo pela geração de novos postos de trabalho nas atividades administrativas e serviços complementares, além de uma incipiente retomada do segmento de alojamento e alimentação.

Tabela 6 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Santa Catarina, outubro de 2020)

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Fonte: Novo Caged (2020); Elaboração: NECAT/UFSC.

O segundo melhor resultado foi o da indústria, que sustentou seu ritmo de crescimento, com saldo de 11.256 vínculos formais de trabalho em outubro. No acumulado do ano, o setor apresentou o melhor resultado, mediante a geração de 28.488 novas vagas.

Em seguida, aparece o comércio, que também acelerou seu ritmo de recuperação com saldo de 7.891 vínculos em outubro. Apesar disso, o setor ainda acumula a perda de 9.321 vínculos desde o início do ano.

Após quatro meses de estagnação, a agropecuária apresentou resultados positivos, com saldo de 1.002 vínculos formais de trabalho. No acumulado do ano, as vagas do setor aumentaram em 772.

No caso da construção, o saldo de outubro foi de 634 vínculos. Com isso, o setor segue sua tendência de retomada, acumulando crescimento de 5.125 vínculos desde o início do ano.

Conforme a Tabela 7, em outubro foram gerados 15.440 vínculos formais de trabalho masculinos e 17.471 femininos. Apesar disso, em Santa Catarina também se expressa a tendência de concentração dos empregos formais recuperados entre os homens, uma vez que, no acumulado do ano, os homens apresentaram saldo de 25.444 vínculos, face a 9.766 vínculos no caso das mulheres.

Tabela 7 – Saldo por gênero (Santa Catarina, outubro de 2020)

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Fonte: Novo Caged (2020); Elaboração: NECAT/UFSC.

Em termos de faixa de etária, a Tabela 8 indica que o emprego formal também segue se concentrando entre os mais jovens no estado. Em outubro a faixa de 18 a 24 anos liderou novamente, mediante a geração de 12.796 novas vagas. O pior resultado permanece na faixa de 65 anos ou mais, embora seu saldo tenha sido menos negativo (-133 vínculos) no último mês.

Tabela 8 – Saldo por faixa etária (Santa Catarina, outubro de 2020)

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Fonte: Novo Caged (2020); Elaboração: NECAT/UFSC.

Conforme a Tabela 9, os melhores resultados por grupamento ocupacional no estado foram o dos trabalhadores da produção de bens e serviços industriais (13.062 vínculos), trabalhadores dos serviços, vendedores do comércio em lojas e mercados (8.802), e trabalhadores de serviços administrativos (6.232). Os demais grupamentos também apresentaram saldos positivos para outubro. Os crescimentos mais contidos foram dos trabalhadores em serviços de reparação e manutenção e dos membros superiores do Poder Público, dirigentes de organizações de interesse público e de empresas e gerentes, com saldos de 325 e 315 vínculos, respectivamente.

Tabela 9 – Saldo por grupamento ocupacional (Santa Catarina, outubro de 2020)

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Fonte: Novo Caged (2020); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 10 apresenta o saldo de vínculos formais para os dez municípios catarinenses com melhor desempenho em outubro. Joinville apresentou o melhor resultado, registrando alta de 2.756 empregos formais. Em seguida, aparecem os municípios de Florianópolis (2.622), Blumenau (2.294), Itajaí (1.652), São José (1.646), Joaçaba (1.415), Balneário Camboriú (1.033), Chapecó (795), Palhoça (765) e Brusque (725).

Tabela 10 – Saldo nos dez municípios com melhor desempenho mensal (Santa Catarina, outubro de 2020)

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Fonte: Novo Caged (2020); Elaboração: NECAT/UFSC.

Em geral, os municípios que apresentaram melhores resultados em outubro são aqueles cuja estrutura do emprego encontra-se mais concentrada nos setores de serviços e comércio, que consolidaram sua retomada no último mês. Como essa composição estende-se à maioria dos municípios, os maiores saldos tenderam a se concentrar justamente nos municípios de maior porte. Em alguns casos, como Joinville e Brusque, o desempenho desses setores ainda foi complementado pela indústria, que continua em processo de (re)abertura de vagas.

Tendo em vista que os estoques de empregos nos serviços e no comércio ainda se encontram deficitários no acumulado do ano, os municípios que são mais dependentes desses setores tendem a apresentar resultados negativos no conjunto do período. Dentre os municípios selecionados, esse é o caso particularmente de Florianópolis e Balneário Camboriú, que ainda acumulam a perda de 10.885 e 4.096 postos formais de trabalho desde janeiro, respectivamente. Nos demais casos listados, o bom resultado de outubro serviu para consolidar a retomada dos empregos perdidos, com destaque para Chapecó, São José e Itajaí.


[1] Estudante de Economia na UFSC e bolsista no NECAT.

[2] Cf. MATTEI, L.; HEINEN, V. L.; MUNARO, M. E. Impactos da Covid-19 sobre o mercado formal de trabalho em Santa Catarina até setembro de 2020. Revista Necat, v. 9, n. 17, 2020.