Serviços prestados às famílias na liderança do setor de serviços catarinense em set/22

30/11/2022 13:01

Matheus Rosa*

Guilherme Ronchi Razzini**

A Pesquisa Mensal dos Serviços divulgada pelo IBGE nas últimas semanas com resultados referentes ao volume de serviços de setembro apresentou um cenário de manutenção do crescimento verificado nos últimos meses. Nacionalmente, o índice registrou a expansão de 0,9% em relação ao mês imediatamente anterior, mantendo a tônica expansiva e de ritmo reduzido. Em Santa Catarina o resultado mensal teve maior fôlego, com variação de 2,6% frente o nível de agosto, consolidando a terceira expansão consecutiva do índice pela perspectiva mensal.

Em termos os regionais, verificou-se uma predominância de variações positivas, com expansões consolidadas em 20 das 27 Unidades da Federação (UFs). Destacaram-se as altas em Roraima (7,4%), Sergipe (6,4%), Alagoas (5,1%) e Maranhão (4,9%), enquanto Rio Grande do Norte (-3%), Paraná (-2,3%), Rondônia (-1,6%) e Pernambuco (-1,6%) apresentaram os piores resultados.

Assim, o saldo do mês é de manutenção da tendência expansiva verificada desde o início do ano, sendo ainda os serviços as principais atividades motrizes da recuperação econômica no período pós-vacinação. Em maiores níveis de desagregação, como se mostrará ao longo do texto, é nítido que as atividades de serviços prestados às famílias, sobre as quais se abateram impactos potentes nos primeiros dois anos da pandemia, puxam as altas do setor em nível nacional e na maior parte das UFs, numa dinâmica que se explica, em parte, pela baixa sensibilidade desses serviços ao nível da taxa de juros e pelos impulsos de demanda ainda sustentados pelos programas estatais de fomento à demanda que marcaram o momento pré-eleitoral.

No texto que segue serão analisados os resultados nacionais e de Santa Catarina pelas perspectivas agregadas e desagregadas por atividades de serviços. Objetiva-se a construção de uma síntese do contexto para as atividades de serviços nessas duas localidades à luz da conjuntura econômica e do atual estágio da pandemia da Covid-19.

O setor de serviços no Brasil em setembro de 2022

O Gráfico 1 apresenta a trajetória do índice de volume de serviços ao longo do período de vigência da pandemia. Assim como nos demais setores, os meses de março e abril de 2020 foram responsáveis pelas maiores quedas nos níveis de atividade, o que se relaciona com a aplicação das medidas de isolamento social e com os impactos diretos que o elevado nível de incerteza ocasionou no mercado de trabalho. Na sequência, um movimento de recomposição das perdas se instalou e durou até janeiro/21. A superação efetiva do patamar pré-pandemia, porém, só foi se verificar em junho/21, quinze meses após a deflagração da pandemia e posterior à retomada da indústria (set/20) e do comércio (jul/20), o que indica que a demanda das atividades de serviços ficou represada durante um período relativamente longo, sendo a disseminação das vacinas o elemento viabilizador da retomada a partir do segundo semestre de 2021. O gráfico ilustra que durante o início do ano de 2022 existe uma leve queda no volume de serviços, porém nos períodos seguintes a curva apresenta uma trajetória de expansão, reforçada pelo resultado registrado no mês de setembro do corrente ano, solidificando os resultados positivos do setor no corrente ano.

Gráfico 1: Índice de volume de serviços com ajuste sazonal de janeiro de 2020 a setembro de 2022 (jan/20 = 100), Brasil

Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC

Em relação ao desempenho nos últimos doze meses, a Tabela 1 apresenta um sumário dos resultados a partir das bases de comparações presentes na pesquisa. Pela perspectiva mês a mês, o resultado de 0,9% representa a sexta variação positiva no ano, reforçando as ligeiras variações de agosto (1,1%) e julho (1,3%), meses imediatamente anteriores. No saldo do ano fica o registro de um pequeno crescimento, ainda que positivo e acelerado nos últimos meses da pesquisa, sendo de 4,5% a expansão do índice na comparação com o volume de serviços em dezembro de 2021.

Tabela 1: Variação do volume de serviços no Brasil em diversos períodos

Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC

A comparação com os resultados mensais de 2021 também retorna resultados positivos. Em setembro, a expansão de 9,7% na comparação com o mesmo mês do ano anterior mantém a tendência positiva nessa série, que registrou expansão em todos os meses. É de se destacar, contudo, que o ritmo dessas expansões vinha de ritmo de redução desde março, alterado agora pela expansão do atual mês e do mês anterior. Nas UFs, houve majoritariamente saldos positivos, com 25 das 27 UFs com expansão no índice, com destaque para Amapá (31,1%), Alagoas (23,4%) e Tocantins (23,2%). Em contraste, foram registradas retrações apenas nas UFs de Distrito Federal (-2,7%) e Mato Grosso do Sul (-0,1%).

No saldo acumulado no ano, o cenário é positivo, apesar da continuidade das quedas no saldo desde março, o setor ainda apresenta saldo de 8,6% de expansão na comparação com o mesmo período do ano anterior. No acumulado dos últimos doze meses, o saldo é de expansão de 8,9%, o resultado representa uma ligeira redução do saldo em comparação com o mês anterior quando estava em 9%.

Com isso, é claro que a tendência traçada pelo setor é positiva e capaz de manter a estabilidade que viabilizou o melhor resultado relativo das atividades de serviços no pós-pandemia na comparação com os demais setores da atividade econômica. A falta de tração do ritmo mensal, contudo, indica que os obstáculos macroeconômicos, com destaque para a manutenção dos juros elevados, têm desacelerado as expansões.

A distribuição setorial dos resultados é ilustrada pela Tabela 2, a partir da série mensal com ajuste sazonal. Entre os cinco macrossetores de serviços foram registradas três variações positivas, e duas retrações, sendo positivos os destaques de serviços de informação e comunicação (2%), serviços prestados as famílias (1%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (0,2%). Em contraste, houve retração nas atividades de outros serviços (-0,3%), e transportes, serviços auxiliares aos transportes e correios (-0,2%).

Tabela 2: Variação do volume de serviços por atividades de serviços, mês a mês com ajuste sazonal

Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

Ao analisar os resultados das atividades de serviços pela desagregação dos macrossetores. Por essa perspectiva, aparecem como destaques positivos de agosto os desempenhos outros serviços prestados as famílias (4,4%), serviços de tecnologia e informação (2,3%) e transporte aéreo (2,1%), conforme mostra a Tabela 2. Entretanto, transporte aquaviário (-1,3%), serviços administrativos e complementares (-0,3%) e transporte terrestre (-0,3%), por outro lado, apresentaram os piores resultados. A correspondência de cada uma dessas atividades com os macrossetores do setor de serviços está também presente na Tabela 2.

O desempenho fraco do comércio e da indústria tem afetado e freado alguns dos setores de serviços como a atividade de serviços administrativos e complementares que registrou leve retração em setembro na comparação com o mês imediatamente anterior, além de registrar sua terceira retração consecutiva.

As altas mais intensas são justamente sobre os ramos que diretamente foram favorecidos pelo controle da pandemia do Covid-19, o desempenho de transportes tem sido influenciado pela volta da mobilidade, todas as atividades do setor registraram expansão de dois dígitos no 3º trimestre do corrente ano.

Gráfico 2: Volume de serviços por atividades de serviços, acumulado no ano, Brasil

Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

O Gráfico 2 ilustra o desempenho do volume de serviços por atividades de serviços no acumulado no ano no mês de setembro de 2022, no mês apenas dois setores registram saldo de retração na comparação com o mesmo período do ano anterior, sendo as atividades de telecomunicações (-6,9%) e outros serviços (-4,1%). Por outro lado, os restantes das atividades registraram saldo de expansão durante o corrente mês, com destaque para os maiores saldos nas atividades de transporte aéreo (37,7%), serviços de alojamento e alimentação (31,4%) e serviços prestados à família (30,3%).

Tais resultados podem ser explicados em parte pela alta demanda registrada no ano anterior em comparação com o atual período, como no setor de telecomunicações, ou pela demanda represada nos últimos meses que impulsionaram o setor como na atividade de transporte aéreo.

O setor se consolida como o único a apresentar expansão no acumulado do período jan-set/22 ante jan-set/21 com saldo de expansão de 8,6%, outros setores da economia apresentam retração, ainda que com melhora nos últimos meses, -0,6% no varejo ampliado e -1,1% no caso da indústria.

O setor de serviços em Santa Catarina em setembro de 2022

A trajetória recente do volume de serviços prestados em Santa Catarina segue o exposto no Gráfico 3. Durante a pandemia, o período de quedas mais bruscas se concentrou nos meses de março e abril de 2020, como consequência das medidas de isolamento social então efetivadas e do pânico ocasionado pela rápida disseminação do vírus. Ainda em outubro de 2020, porém, o volume de serviços já havia recuperado o nível de fevereiro após meses seguidos de recuperação. Com a distribuição das vacinas entre as faixas etárias de maior participação na força de trabalho, o que ocorreu a partir do segundo semestre de 2021, o setor pôde, enfim, retomar um desempenho próximo à normalidade, ainda que no contexto das dificuldades macroeconômicas causadas pela pandemia. Assim, em 2022 a trajetória do setor em Santa Catarina é eminentemente expansiva, porém com instabilidades verificadas em meses localizados.

Gráfico 3: Índice de volume de serviços com ajuste sazonal de janeiro de 2020 a setembro de 2022 (jan/20 = 100), Santa Catarina

Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC

O quadro dos resultados mensais pode ser conferido na Tabela 3. Pela perspectiva mensal frente o mês imediatamente anterior, a expansão dos serviços em Santa Catarina foi de 2,6%, consolidando as variações positivas de 0,1% e 3% registradas nos meses anteriores. Assim, o setor tem saldo de 5 expansões e 4 retrações no ano, ilustrando que a tônica, ainda que expansiva, é também signatária da instabilidade supracitada. Em comparação com as demais UFs, esse resultado mensal é o sexto melhor em nível nacional, como mostra o Gráfico 4, atrás apenas de Roraima (7,4%), Sergipe (6,4%), Alagoas (5,1%), Maranhão (4,9%) e Tocantins (3%).

Tabela 3: Variação do volume de serviços em diversos períodos, Santa Catarina

Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC

Aa comparação com setembro de 2021 também foi positiva, registrando variação de 9,8%. Nessa série o setor registrou expansões em todos os meses, à exceção de fevereiro, o que ilustra que o ritmo de serviços prestados em 2022 em Santa Catarina é razoavelmente superior ao verificado em 2021, demonstrando a tendência positiva vigente. É de se destacar, contudo, que esse é um sinal verificado na maior parte das UFs e no agregado nacional, de modo que o resultado catarinense nessa série não é nenhum ponto fora da curva, sendo a variação de setembro apenas o décimo quinto melhor resultado entre as UFs.

Pela perspectiva acumulada, por fim, e confirmando o sinal positivo a partir da comparação com os meses de 2021, se registram expansões. Na base anual o resultado é de 5,4% frente o acumulado do mesmo período de 2021, enquanto pela perspectiva dos doze meses o resultado é de 6,6%. Em ambas as séries ainda não foi registrada nenhuma retração, o que muito provavelmente se manterá como tal até o encerramento do ano, mostrando que a tendência expansiva verificada no índice dá sinais de sustentabilidade, a despeito das oscilações mensais.

Gráfico 4: Variação do volume de serviços por UF, mês a mês, set/22

Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

Em relação à desagregação por atividades de serviços, em setembro os bons resultados foram disseminados. Como mostra a Tabela 4, quatro dos cinco agrupamentos registraram altas pela perspectiva acumulada, mantendo-se como destaque a expansão verificada nas atividades de serviços prestados às famílias, o motor dos bons resultados para o setor em Santa Catarina, as quais registraram alta de 26,5% frente o acumulado do mesmo período de 2021. Outros serviços (9%), serviços de informação e comunicação (7,7%) e transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (7,7%) também expandiram, auxiliando na formação da tendência positiva consolidada no agregado estadual. Serviços profissionais, administrativos e complementares, por outro lado, mostra retração de -17,2%, corroborando o péssimo cenário para essas atividades que tem se confirmada desde o início do ano.

Tabela 4: Variação do volume de serviços por atividades de serviços, acumulado no ano, Santa Catarina

Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

Considerações Finais

O saldo dos resultados do índice de volume de serviços prestados em setembro é de continuidade em relação aos meses anteriores. Nacionalmente, o resultado de 0,9% mantém as expansões de pouca magnitude que se apresentam desde o início do ano, consolidando um quadro positivo, porém de debilidade aparente. Em Santa Catarina o resultado de maior fôlego na série mensal se dá em relação a uma base inferior, dado que a variação de agosto foi bastante reduzida, porém também preserva a tendência positiva verificada no ano.

Em termos gerais, no Brasil e em Santa Catarina, o setor de serviços segue como principal setor na reação do nível de atividade econômica aos impactos provocados pela pandemia em 2020 e em 2021. Essa dinâmica é positiva, dentre outras coisas, quando se considera a alta intensividade em mão de obra do setor, fator que faz com que os índices produtivos positivos resultem em decréscimos da taxa de desemprego, o que de fato se verifica desde o segundo semestre de 2021.

Por fim, é nítido que o fôlego da atual tendência positiva se concentra nas atividades de serviços prestados às famílias, agrupamento que segue em expansão desde o segundo semestre de 2021, momento no qual a vacinação foi disseminada entre as faixas de idade economicamente ativas e viabilizou a retomada quase total das atividades presenciais. Resta saber a duração dessas expansões que, em larga medida, se amparam no desafogo da demanda reprimida construída nos dois primeiros anos do vírus, bem como o sinal que as atividades de serviços como um todo poderão apresentar quando esse agrupamento mostrar indícios de desaceleração.

Referências

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal de Serviços. Rio de Janeiro (RJ): IBGE, setembro de 2022.


* Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (Necat-UFSC). Email: matheusrosa.contato@outlook.com

** Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (Necat-UFSC). Email: guilhermerazzini33@gmail.com