Setor de serviços apresentou importante crescimento no último mês de 2022

10/04/2023 12:22

Lauro Mattei*

Guilherme Ronchi Razzini**

A Pesquisa Mensal dos Serviços (PMS-IBGE), com informações referentes ao mês de dezembro de 2022 mostrou, no índice mês a mês com ajuste sazonal, que o setor de serviços registrou crescimento em relação ao volume de serviços prestados no mês de novembro, que tinha apresentado queda de 0,4%, após oito meses (fevereiro a setembro) de expansões consecutivas. Com esse resultado, o setor ficou 2,3% abaixo do patamar histórico registrado no mês de setembro/22, porém ainda se mantendo 19% acima do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020).

Regionalmente, na comparação com o mês imediatamente anterior, ocorreu aumento em vinte duas das 27 Unidades da Federação (UFs) pesquisadas, as quais acompanharam os avanços observados no país. As maiores expansões foram registradas no Rio de Janeiro (5,0%), Minas Gerais (4,6%) e Distrito Federal (13,4%). Do ponto de vista da retração, destaca-se que as maiores quedas se concentraram nos estados do Espírito Santo (-4,4%), Piauí (-4,0%), Acre (-3,8%) e Rondônia (-1,3%). Tais resultados indicaram um processo de aquecimento do setor diante do cenário negativo verificado nos últimos dois meses. Em outras palavras, tais resultados indicaram que o setor apresentou, mesmo com algumas oscilações, um processo contínuo de recuperação neste terceiro ano da pandemia. Tal fato é corroborado pelos resultados do acumulado dos últimos 12 meses, cujo patamar atingiu 8,3% em dezembro de 2022.

Na sequência serão analisados os resultados para o país e para o estado de Santa Catarina pela ótica do desempenho agregado e também de forma desagregada por todas as atividades que compõem a pesquisa do macrossetor de serviços. Desta forma, torna-se possível fazer uma síntese precisa do contexto atual das atividades desse setor nessas duas dimensões à luz da conjuntura econômica vigente no período.

O setor de serviços no Brasil em novembro de 2022

A Tabela 1 apresenta as quatro séries comparativas contidas na Pesquisa Mensal dos Serviços (PMS) ao longo dos últimos doze meses. No indicador do mês de dezembro/22 em relação ao mês imediatamente anterior com ajuste sazonal foi registrado aumento de 3,1% no volume de serviços. Já o índice que registra a variação na comparação com o mesmo mês do ano anterior apresentou expansão de 6%.

Tabela 1: Variação mensal do volume de serviços no Brasil no ano de 2022

Fonte: PMC-IBGE (2023). Elaboração NECAT-UFSC.

Notas:

1-Base:em relação ao mês imediatamente anterior; série com ajuste sazonal

2-Base:em relação a igual mês do ano anterior

3-Base:em relação a igual período do ano anterior

4-Base:em relação aos últimos 12 meses anteriores

Além disso, a variação no saldo acumulado no ano foi de 8,3% na passagem de novembro para dezembro/22, indicou uma leve oscilação para baixo do indicador na comparação com os meses anteriores. Finalmente, no acumulado de doze meses em relação aos 12 meses anteriores, houve variação de 8,7% para 8,3% no mês em apreço, indicando uma pequena queda em relação aos últimos meses.

A Tabela 2 apresenta o comportamento dos resultados por macrossetores, a partir da série mês a mês com ajuste sazonal, destacando-se que entre os cinco macrossetores de serviços, no último mês do ano foram registradas quatro variações positivas e apenas uma retração. No primeiro caso, os serviços prestados às famílias voltaram a apresentar resultados positivos da ordem de 2,4%, percentual fortemente influenciado pelo bom desempenho do subsetor de alojamento e alimentação, que cresceu 2,7% no mês, incorporando já os reflexos positivos da temporada de verão. A segunda variação positiva foi observada no macrossetor de serviços profissionais, administrativos e complementares, que cresceu 3,0%, sendo que tal comportamento foi influenciado pelos resultados do subsetor de serviços técnico-profissionais (+2,6%) e serviços administrativos e complementares (+2,7%). A terceira variação positiva ocorreu no macrossetor de transportes, serviços auxiliares de transportes e correio, que cresceu 2,5%, destacando-se os subsetores de transporte terrestre (+3,3%) e de transporte aéreo (+7,6%), movimentos claramente identificados com as festas de final de ano. A última variação positiva diz respeito ao macrossetor “outros serviços”, que apresentou um crescimento de 10,3% diante de um resultado negativo (-3,3%) no mês anterior. Já o único resultado negativo diz respeito ao macrossetor de serviços de informação e comunicação, que sofreu retração de 2,2%, puxada fundamentalmente pelo fraco desempenho do subsetor de tecnologia de informação e comunição, que teve queda de 3,4%.

Tabela 2: Variação do volume de serviços por grupos de atividades de serviços, mês a mês com ajuste sazonal no Brasil.

Fonte: PMC-IBGE (2023). Elaboração NECAT-UFSC.

Neste contexto, é importante destacar a recuperação expressiva do macrossetor de serviços prestados às famílias – sem dúvida o de maior expressão no conjunto das análises – no mês em apreço, considerando-se que nos meses de outubro e novembro o mesmo apresentou resultados negativos. Ao mesmo tempo, destaca-se também o macrossetor de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correios, cuja recuperação também foi muita significativa no último, comparativamente aos resultados apresentados nos meses de setembro e outubro (ambos negativos) e em novembro praticamente estável. No sentido oposto, destaca-se o macrossetor de serviços de informação e comunicação que aprofundou a queda no corrente mês em relação ao mês anterior, cujo resultado já tinha sido negativo. Neste caso, novamente o subsetor de serviços de tecnologia de informação e comunicação (TIC) foi responsável pela retração, que só não foi maior devido à expressiva recuperação do subsetor de serviços audiovisuais.

A figura 1 apresenta o resultado acumulado de cada macrossetor ao longo do ano de 2022.  Quando se compara o período entre janeiro e dezembro de 2022 com igual período do ano anterior observa-se que no agregado o setor cresceu 8,3%. Diante da expressiva participação do setor no PIB nacional, esse bom desempenho foi decisivo para a recuperação dos níveis de emprego, especialmente no segundo semestre de 2022.

Figura 1: Desempenho acumulado dos macrossetores de serviços no Brasil entre janeiro e dezembro de 2022

Fonte: PMC-IBGE (2023). Elaboração NECAT-UFSC.

Além disso, quando se compara apenas o mês de dezembro de 2022 com igual mês do ano anterior, nota-se que no agregado o crescimento foi de 6%. Assim, com essa expansão de dezembro/22, o setor fechou o segundo ano seguido com crescimento e ampliou a diferença do nível pré-pandemia para 14,4% em relação ao mês de fevereiro de 2020.

Registre-se que o resultado agregado anual negativo de outros serviços foi determinado pelo subsetor de serviços financeiros auxiliares, em que as atividades imobiliárias e financeiras (corretoras de valores, administração de bolsas, administradoras) foram as que mais pesaram negativamente. Neste caso, observou-se uma mudança de comportamento das famílias de maior renda que passaram a realocar se gastos, especialmente após o fim das medidas restritivas para controle da pandemia.

A figura 2 apresenta o desempenho agregado de todas as Unidades da Federação (UFs) durante o ano de 2022. Do ponto de vista do país, nota-se um desempenho positivo no agregado de 8,3% , significando que, comparativamente ao ano anterior, ocorreu um aumento de 6,0% ao final do período considerado.

Um segundo aspecto a ser comentado diz respeito aos resultados expressivos obtidos por um grupo de UFs, cujos percentuais ficaram acima do patamar nacional. Neste caso, destacam-se os elevados percentuais obtidos por dez UFs, especialmente dos estados do Amapá (18,9%), Alagoas (17,1%), Tocantins (14,1%), Mato Grosso (13,8%) e Roraima (13,1%).

Em sentido oposto, observa-se que um grupo de doze UFs ficou com percentuais abaixo da média nacional. Neste caso, destacam-se os estados do Sergipe (com 7,7%, primeiro valor abaixo do agregado nacional) e Rondônia (com 1%, o último resultado positivo do país). Registre-se que o estado de Santa Catarina apresentou o vigésimo posto no desempenho do país, com valor positivo de 5,4%.

Finalmente, o único resultado negativo (-1,6%) foi registrado no Distrito Federal, local que já havia apresentado dificuldades também no ano anterior. Tal resultado desse espaço territorial não deixa de ser preocupante, considerando-se que a Capital Federal apresenta uma das maiores rendas per capita do país.

Figura 2: Acumulado no setor de serviços por Unidade da Federação em 2022.

 

Fonte: PMC-IBGE (2023). Elaboração NECAT-UFSC.

O setor de serviços em Santa Catarina em dezembro de 2022

A tabela 3 apresenta o volume de serviços prestados em Santa Catarina no mês de dezembro/22, na série mensal com ajuste sazonal. Inicialmente, notou-se uma forte recuperação em relação ao mês imediatamente anterior (2,7%) e, principalmente, em relação ao mês de outubro/22, cujo resultado negativo tinha sido da ordem de 2,1%, mês em que se interrompeu uma trajetória positiva de três meses seguidos (julho a setembro/22). Já quando se analisa esse resultado (dezembro/22) com o mesmo mês do ano anterior, nota-se que, apesar de um resultado positivo de 5,3%, a desaceleração do ritmo percentual de crescimento que vinha sendo mantido nos meses anteriores, particularmente entre os meses de agosto a outubro. Todavia, quando se observa o resultado do setor nos últimos doze meses, verifica-se o mesmo percentual dos últimos quatro meses (5,4%). Finalmente, somente quando se analisa o resultado no ano (janeiro a dezembro/22) é que se verifica uma estabilidade nos percentuais de desempenho ao longo de todos os meses, porém com uma clara desaceleração nos últimos meses de 2022, considerando-se que nos primeiros meses do referido ano, particularmente no primeiro trimestre, esses percentuais se encontravam acima de 10% ao mês.

Tabela 3: Variação do volume de serviços em Santa Catarina no ano de 2022

Fonte: PMC-IBGE (2023); Elaboração NECAT-UFSC.

Notas:

1-Base:em relação ao mês imediatamente anterior; série com ajuste sazonal

2-Base:em relação a igual mês do ano anterior

3-Base:em relação a igual período do ano anterior

4-Base:em relação aos últimos 12 meses anteriores

Adicionalmente, quando se analisa o conjunto das informações num período de um ano, nota-se que há um cenário com cinco resultados negativos e sete resultados positivos, na comparação do mês com o mesmo mês imediatamente anterior, com ajuste sazonal. Já quando se analisa o mês em relação ao mesmo mês do ano anterior, verificou-se resultado negativo apenas no mês de fevereiro/22. Isso indica que a retomada do setor de serviços, após fortes impactos dos dois primeiros anos de incidência da pandemia, se consolidou no terceiro ano da pandemia, inclusive com um ritmo bastante consistente, particularmente nos primeiros sete meses de 2022. Tal contexto está amparado no fato de que no momento o volume de serviços catarinenses encontra-se 2,8% acima do patamar existente em fevereiro/20, quando teve início a pandemia da Covid-19.

A tabela 4 apresenta a variação acumulada no ano em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo o comportamento dos macrossetores de serviços considerados pela pesquisa do IBGE. Inicialmente destaca-se que, dos cinco macrossetores, apenas um vem apresentando resultados negativos. O grupo dos serviços prestados às famílias vem se firmando como o principal ponto de referência, ao apresentar as mais elevadas taxas de variação, as quais vêm se mantendo num patamar acima de 20% desde março de 2022, sendo que atingiram seu ápice entre os meses de abril e agosto/22. Todavia, a partir de então entraram em processo de desaceleração, sendo que no último mês do ano regrediram ao patamar de março/22. Registre-se que esses tipos de serviços são a base do setor no estado, inclusive tendo sido um dos mais afetados pela pandemia, especialmente durante o primeiro ano de incidência da doença no estado. Por isso, essa tendência é extremamente relevante, considerando-se que os serviços continuam sendo a força motriz da economia catarinense, ao responder atualmente por 64% do PIB estadual.

Além disso, merecem destaques os macrossetores de transportes, serviços auxiliares de transportes e correios e de serviços de informação e comunicação. No primeiro caso, ocorreu a manutenção de um ritmo bastante expressivo de crescimento do setor, especialmente em função da recuperação do transporte aéreo que, devido ao controle maior da pandemia, passou a ter uma demanda mais aquecida, situação que pode ter melhorado ainda mais com início da temporada de férias e de verão. Já o segundo setor vem alternado bons resultados com outros baixos ou até mesmo negativos, como ocorreu no primeiro semestre de 2022. Em grande medida, esse comportamento decorre das constantes oscilações registradas nos microssetores de serviços de tecnologia da informação e de serviços audiovisuais.

Por fim, deve-se mencionar que o macrossetor “outros serviços” (todos os serviços prestados e que não são enquadrados nos quatro macrossetores mencionados anteriormente) vem mantendo um desempenho bastante razoável ao longo de todo o período considerado, destacando-se os aumentos percentuais verificados nos meses finais de 2022, inclusive com valores superiores ao início do ano. Decorre daí sua importante contribuição para a recuperação geral do macrossetor “serviços”.

O grande destaque negativo diz respeito ao macrossetor de atividades de serviços profissionais, administrativos e complementares, as quais apresentaram resultados negativos durante todos os meses do ano considerado. Em grande medida, essas taxas negativas estão associadas aos efeitos diretos e indiretos causados pela pandemia, uma vez que a forma tradicional de execução dessas atividades está diante de um processo de profundas mudanças, tanto em termos do subsetor de serviços técnico-profissionais como dos próprios serviços administrativos.

Tabela 4: Variação acumulada no ano do volume de serviços por grupos de atividades mês a mês com ajuste sazonal, em Santa Catarina.

Fonte: PMC-IBGE (2023); Elaboração NECAT-UFSC.

Considerações Finais

Segundo análises divulgadas pelo IBGE (2022) para o conjunto do país, o mês de dezembro/22 registrou uma reação bastante expressiva em relação aos dois meses anteriores, os quais haviam apresentado resultados negativos. Isso fez com que o acumulado dos últimos doze meses atingisse o percentual de 8,3%. Mesmo com esse comportamento positivo, nota-se que esse resultado acumulado apresentou uma redução, especialmente nos últimos quatro meses de 2022. Isso pode estar indicando uma perda de fôlego do setor diante do dinamismo que vinha sendo apresentado até recentemente. Em grande medida, notou-se que nos últimos meses os subsetores de tecnologia da informação e de transportes reduziram seus ritmos de atuação. Particularmente no primeiro caso, foram registrados resultados negativos em cinco meses do ano em apreço, sendo que novembro e dezembro foram os meses que apontaram uma tendência mais consistente de baixa desse setor.

Todavia, no âmbito geral, verificou-se o setor de serviços fechou o mês de dezembro de 2022 com aumento de 8,3% em relação ao fechamento do ano anterior. Com isso, o setor se encontra atualmente no patamar de 14,4% acima dos resultados registrados em fevereiro de 2020, quando teve início a pandemia. E isso se deve, em especial, a dois subsetores. Por um lado, com o avanço da vacinação da população e flexibilização das regras de contenção da Covid-19, o macrossetor de serviços prestados às famílias se tornou o carro chefe da recuperação setorial. Por outro, e de forma semelhante ao anterior, o macrossetor de transportes, particularmente o setor de transportes aéreos, se recuperou das quedas acentuadas do primeiro momento da pandemia e passou a se expandir fortemente, sobretudo a partir do segundo semestre de 2022. Esses dois cenários setoriais bastante positivos foram decisivos para a recuperação do nível geral de emprego do país a partir do ano de 2022.

No caso de Santa Catarina, o ano de 2022 (período de janeiro a dezembro) fechou com aumento de 5,4% em relação ao ano anterior. Porém, com um sinal claro de desaceleração do ritmo de crescimento no segundo semestre do referido ano. Essa retomada consolidou o processo de recuperação do setor e, ao mesmo tempo, o colocou num patamar de 2,8% acima do período pré-pandemia. Para tanto, o comportamento do macrossetor de serviços prestados às famílias – que manteve taxas de crescimento positivas ao longo de todo o ano de 2022 – juntamente com os bons resultados do macrossetor “outros serviços”, foi decisivo para os resultados alcançados no estado. Isso foi importante porque esses setores conseguiram compensar o desempenho muito ruim das atividades do macrossetor de serviços profissionais, administrativos e complementares, as quais apresentaram resultados negativos durante todo o ano de 2022.

Assim, com o controle mais efetivo da pandemia, via vacinação em massa da população, observa-se uma conjuntura muito favorável ao setor de serviços, uma vez que os desafios da retomada da normalidade de circulação de pessoas estão sendo superados. Mesmo assim, não podem ser desconsiderados os efeitos negativos sobre o setor de outros fatores econômicos conjunturais (aceleração da inflação, aumento geral do custo de vida, patamar elevado das taxas de juros, desemprego ainda em níveis elevados, etc.), os quais deprimem a demanda das distintas atividades ofertadas pelo macrossetor. Tal situação, a nosso ver, somente será contornada com uma nova política macroeconômica que tenha capacidade de impulsionar o crescimento econômico de forma mais sustentada, com geração de emprego e melhorias nos níveis de renda da população, em especial das camadas mais vulneráveis da sociedade.

Referências

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal de Serviços. Rio de Janeiro (RJ): IBGE, novembro de 2022.


* Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador Geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. Email: l.mattei@ufsc.br

** Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. E-mail: guilhermerazzini33@gmail.com