Setor de serviços inicia 2022 em queda: Brasil recua -0,1% e Santa Catarina -1,7%

13/04/2022 12:10

Andrey Ide[*]

No Brasil, apesar do setor crescer 9,5% em relação a janeiro de 2021, três dos cinco subsetores recuaram de dezembro para janeiro. 

Logo após terminar 2021 com a maior taxa histórica de fechamento anual (10,9% em dezembro), o setor de serviços recuou -0,1% entre dezembro e janeiro de 2022. É o que revelam os dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) disponibilizada pelo IBGE. Apesar do pequeno recuo, o setor de serviços ainda se encontra 7,1 pontos percentuais (p.p.) acima do patamar pré-pandêmico. Segundo o Gráfico 1, este ainda é um dos resultados mais expressivos desde 2018.

Em janeiro de 2021 o setor estava muito próximo da recuperação, alcançando um número índice de 99,32 p.p. No próximo mês, em fevereiro de 2021, ele já ultrapassaria os resultados obtidos antes da pandemia de Covid-19, marcando 103,3 p.p.; nível acima de fevereiro de 2020 (102,05 p.p.).

Gráfico 1: Índice do volume de serviços, Brasil (2018=100, com ajuste sazonal)

GRA1

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Comparados o resultado do mês atual com o de janeiro do ano passado, também a partir do Gráfico 1, é possível depreender um crescimento de 9,9%. E na série sem ajuste sazonal, confrontando o mesmo período, o volume de prestação de serviços cresceu 9,5%. Vale ressaltar que o IBGE revisou o crescimento mensal de dezembro que deixou de ser 1,4% e foi atualizado para 1,7%. Com isso, antes do presente déficit de -0,1%, os dois últimos meses do ano passado teriam acumulado um ganho de 4,7%.

Observe o Gráfico 1, desde janeiro de 2021 há crescimento com alguns reveses momentâneos, mas a linha é ascendente e continua crescendo. Tal trajetória pode ser observada com mais clareza na Tabela 1.

A variação mês a mês vista na Tabela 1 exibe três meses retrações e três meses de avanços nos últimos seis meses, desde agosto de 2021. Se considerado apenas este semestre, depreende-se um crescimento pós-recuperação ainda atravancado. Agora, se considerada a evolução acumulada no ano o Brasil vem crescendo de maneira consistente; e se considerada a evolução acumulada em doze meses, desde junho de 2021 são encontrados resultados positivos e crescentes, chegando ao seu ponto máximo agora em janeiro (12,2%)

Tabela 1: Variação (%) do volume de serviços no Brasil em diversos períodos

T1Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

A pequena retração de -0,1% reflete as perdas de três das cinco atividades que compõem o indicador do volume de serviços elaborado pelo IBGE. Após nove meses seguidos de superávits, os serviços prestados às famílias recuaram -1,4% neste mês. Além desses, outros serviços encolheram em -1,1% e, pelo segundo mês consecutivo os serviços de informação e comunicação também retraíram (-4,7%). Os bons resultados advieram do setor de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (1,4%) e dos serviços profissionais, administrativos e complementares que cresceram 0,6%. Para a categoria de transportes e correio, esta é terceira taxa positiva consecutiva, ou seja, neste último trimestre o avanço foi de 6,5% para o subsetor. Já para serviços profissionais, administrativos e complementares, o trimestre representou uma expansão de 5,2%.

No confronto com o mesmo mês do ano anterior os dados mostram que já são onze meses consecutivos de taxas positivas. Desde março de 2021 o índice só vem resultando superávits no Brasil e chegou a 9,5% em janeiro de 2022. O destaque fica com os serviços prestados às famílias, que mesmo com um resultado mensal não favorável, ainda se destacou frente ao mesmo mês do ano passado; cresceu 19,4% enquanto as atividades de transporte cresceram 15,2%. Percebe-se na Tabela 2 que os serviços de informação e comunicação vem diminuindo suas taxas de crescimento desde novembro quando marcaram 11,2%; em dezembro caíram para 9,9% e agora 4,9%. A menor taxa de crescimento ficou com outros serviços (3,1%) e no caso de serviços profissionais, administrativos e complementares o crescimento foi de 7,7%.

No acumulado anual temos os mesmos resultados da série “mesmo mês do ano anterior”. Claro, o ano apenas inicia e o único mês possível de ser contabilizado para o acumulado é justamente janeiro. Já no acumulado de doze meses, novamente, o destaque vai para os serviços prestados às famílias que cresceu 25,1%. No mesmo lapso temporal os serviços de transporte e correio cresceram 16,8%, serviços de comunicação e informação 9,7%, os serviços profissionais, administrativos e complementares cresceram 8,7% e outros serviços cresceram 5,5%.

Tabela 2: Evolução do volume de serviços no mês de janeiro, segundo grupos de atividades no Brasil

T2Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Considerando apenas o mês de janeiro, no total, mais de 65% dos 166 diferentes tipos de serviços investigados apresentaram crescimento. Nesse intervalo as receitas das empresas de transporte rodoviário de cargas, transporte coletivo de passageiros, transporte aéreo de passageiros, as das responsáveis pela gestão de portos, navegação e apoio marítimo tiveram o maior peso na contribuição.

Outro ponto importante a ser ressaltado é que o subsetor de serviços profissionais, administrativos e complementares consegui superar os índices pré-pandêmicos. Pela primeira vez, marcando 99,51 p.p., este grupo de atividades superou os 98,17 p.p. de fevereiro de 2020. É pouco mais de 1,3% acima, mas o patamar deve ser ressaltando, ainda que abaixo dos 100% do início da série em 2018. Destarte, o único subsetor que apesar de estar crescendo, segue abaixo dos níveis pré-pandemia, é o setor de serviços prestados às famílias. Em fevereiro de 2020 o seu número índice alcançava 105,28 p.p. e agora em janeiro de 2022 segue com 91,40 p.p.; são ainda mais de 13,88 p.p. de diferença.

Um caso interessante é o do grupo de “outros serviços” que já se recuperou da pandemia, mas em alguns momentos perde volume de negócios e acaba voltando para um patamar abaixo dos 115,94% de fevereiro de 2020. Um desses períodos aconteceu agora em janeiro quando o setor caiu para 115,21 p.p. Além desse grupo, os “serviços de informação e comunicação” tiveram sua trajetória marcada por uma queda expressiva, saindo de 117,65% em dezembro para 112,16% em janeiro.

Entre as unidades da federação, quase metade (12 das 27) apresentaram retração na passagem de 2021 para 2022. Na região sul do país todos os resultados assinalaram queda: Santa Catarina (-1,7%) foi o estado com o pior resultado percentual, já o Rio Grande do Sul obteve déficit de -1,1% e o Paraná decresceu -0,9%.

Os maiores impactos negativos vieram do Distrito Federal (-9,1%), do Rio de Janeiro (-1,2%) e de Minas Gerais (-1,9%). Apesar da Tabela 3 exibir os estados do Tocantins (-6,3%), da Paraíba (-4,8%) e do Rio Grande do Norte (-3,2%) com resultados ainda menores, as economias fluminense e mineira contabilizam no final do mês um volume de serviços muito maior do que as anteriormente citadas. Seja em função da sua população maior, seja em função da complexidade e amplitude dos serviços prestados ou por outros fatores, essas duas economias ainda caracterizam um peso maior no setor de serviços como um todo. Em termos de impactos superavitários sobressaíram-se os estados de São Paulo (0,6%) e Goiás (4,5%).

Em relação a comparação com janeiro de 2021, apenas Tocantins (-2,2%) e Distrito Federal (-1,8%) atingiram percentuais negativos. Os demais estados acompanharam o resultado positivo do Brasil (9,5%) sendo que São Paulo (12,2%), Mato Grosso (45,8%), Rio Grande do Sul (11,3%), Bahia (13,6%) e Minas Gerais (4,7%) granjearam a maior participação em termos de impacto. Alagoas (23%), Goiás (17,5%), Ceará (15%) e Mato Grosso do Sul (15,4%) apresentaram bons resultados acima dos 15%.

Tabela 3: Variação (%) do volume de serviços entre os estados brasileiros no mês de janeiro de 2022

TAB3

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

No acumulado anual, que nesta pesquisa conta apenas com o mês de janeiro, os resultados são os mesmos da série de comparação do “mesmo mês ano anterior”. Já no acumulado dos últimos doze meses todos as evoluções regionais são positivas. Os maiores valores percentuais se encontram em Alagoas (22,8%), Roraima (21,3%) e Tocantins (17,7%). Os maiores impactos ficam com São Paulo (13,1%), Rio de Janeiro (8%), Minas Gerais (14,3%), Rio Grande do Sul (14%), Santa Catarina (14,7%), Paraná (9,7%) e Bahia (12,4%).

Em janeiro de 2022 Santa Catarina atinge seu pior resultado (-1,7%) desde outubro de 2021 quando marcou (-2,5%)

Começando o ano de 2022, Santa Catarina acompanha o resultado negativo no volume de serviços prestados no Brasil. O estado barriga verde descreveu -1,7%, obtendo o menor percentual também entre os estados da região sul.

Apesar da retração, a série temporal elaborada pelo NECAT, que tem 2018 como ano base, mostra o volume de serviços catarinense operando a 14,5% acima do patamar pré-pandêmico de fevereiro de 2020. Ao analisar o Gráfico 2, pode-se observar que em janeiro o número índice do estado alcançou 117,69 p.p. frente aos 103,15 p.p daquele período.

Gráfico 2: Índice do volume de serviços, Santa Catarina (2018=100, com ajuste sazonal)

GRA2

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Analisando a Tabela 4, pode-se perceber um padrão de forte crescimento seguido de meses de decréscimos. Em fevereiro de 2021 o setor de serviços crescia a 4,1% quando dois meses de quedas seguiram: março (-3,7%) e abril (-2%). Logo após houve uma recuperação bimestral com os bons resultados de maio (2,9%) e junho (3,4%) seguida de quedas combinadas com estagnações em julho (-0,1%), agosto (0,5%), setembro (0,1%) e outubro (-2,5%). Por fim, mais uma vez o ciclo se repete: um bom resultado em novembro (3,9%), seguido de um crescimento não tão expressivo em dezembro (0,7%) e uma queda em janeiro (-1,7%).

Na variação entre janeiro de 2022 e janeiro de 2021, este foi o pior resultado dos últimos doze meses. Com um total de 5,2% o volume de serviços comparado conseguiu ser menor do que o de outubro de 2021 (5,5%) que estava sendo comparado com outubro de 2020. No que se refere a variação acumulada no ano, o mesmo resultado de 5,2% também foi o pior dos últimos 12 meses. Isso acontece não apenas pelo desempenho fraco no mês de janeiro, mas também pelo fato de que janeiro de 2021 já estava em um patamar alto, sendo uma base de comparação mais forte, do que por exemplo, janeiro de 2020. E no acumulado dos últimos doze meses, o resultado segue superavitário (14,7%) em razão do crescimento necessário ao longo do ano de 2021 que foi um ano de recuperação posterior aos impactos mais negativos das restrições da pandemia de Covid-19.

Tabela 4: Variação (%) do volume de serviços de Santa Catarina em diversos períodos

T4

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Em suma, os fatores que desembocaram em um 2021 de fechamento positivo, com um saldo acumulado superavitário e com o setor definitivamente recuperado do tombo de 2020 não significam que os mesmos resultados se repetiram em 2022. As quedas mensais de 2021 não foram alarmantes, nem consecutivas e tampouco figuraram uma queda livre como vista no Gráfico 2 para o ano de 2020. Mas, o cenário era outro, a inflação mensal em dezembro de 2021 era de 0,73% e em janeiro chegou a 0,54%. Este último é o maior valor para o mês de janeiro desde 2016 quando marcou 1,76%. Em janeiro o maior impacto no índice veio do setor de alimentação e bebidas, uma alta de 1,11% (BARROS, 2022).

Desde maio de 2020 quando se inicia a recuperação do setor foram sete taxas mensais de déficit: novembro e dezembro de 2020, março, abril, julho e outubro de 2021 além de janeiro de 2022. Ou seja, sete taxas negativas e quatorze taxas positivas, 33,33% de queda e 66,6% de crescimento. Predominam os meses de crescimento, mas não é possível afirmar se estes resultados marcarão um ponto de inflexão na curva vista no Gráfico 2 ou se o padrão supracitado de crescimento e queda continuará se repetindo e elevando positivamente a variação do volume de serviços prestados, tanto no Brasil como em Santa Catarina.

Na região sul do país, os serviços catarinenses lograram o resultado mais desfavorável entre os três estados. Com déficit de -1,7%, Santa Catarina desempenhou 0,8 p.p. a menos do que o Paraná e 0,6 p.p. a menos do que o Rio Grande do Sul. Mas, todos tiveram resultados negativos em janeiro; o primeiro -0,9% e o segundo -1,1%. Segundo as estimativas do último trimestre, de novembro até janeiro, Santa Catarina continua com o maior saldo positivo de 2,9%, enquanto o Rio Grande do Sul está com 2,4% e o Paraná acumula um pequeno crescimento de 0,2%.

Tabela 5: Comparação da variação (%) do volume de serviços na região sul e no Brasil

T5

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Na comparação com o mesmo mês do ano anterior todos os estados seguem com saldo positivo, Rio Grande do Sul com 11,3%, Paraná com 5,3% e Santa Catarina (SC) com 5,2%. E na série acumulada dos últimos doze meses SC obtém o melhor resultado percentual, são 14,7% frente aos 14% dos serviços gaúchos e 9,7% dos paranaenses.

A Tabela 6 que mostra as variações por subsetor de atividades não acompanha o mesmo cenário brasileiro. No estado apenas serviços profissionais, administrativos e complementares foram deficitários, com um alto impacto negativo de -19% na comparação com janeiro de 2021. Esta é a quinta taxa negativa consecutiva, desde outubro do ano passado que o subsetor apresenta déficits com mais de dois dígitos negativos, exceto pelo mês de dezembro de 2021 (-7,3%).

No mesmo período serviços de transportes e correio (15,1%), serviços prestados às famílias (14,6%), outros serviços (10,9%) e serviços de informação e comunicação (1%) assinalaram resultados positivos. Já no acumulado dos últimos doze meses, até janeiro deste ano todos as subdivisões de serviços apresentam resultados positivos, destaque para serviços prestados às famílias com 19,2% acumulado e serviços de transportes e correio com 19,4%.

Tabela 6: Variação (%) do volume das atividades de serviços em Santa Catarina entre novembro de 2021 e janeiro de 2022

T6

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

No mesmo sentido do Brasil, que foi afetado pela queda do segmento de tecnologia da informação (T.I), Santa Catarina parece ter perdido espaço no volume de serviços de informação e comunicação que também envolve T.I e além disto, também segue com perdas fortes nas atividades administrativas, profissionais e auxiliares. Segundo o responsável pela pesquisa, Rodrigo Corrêa Lobo, o segmento de telecomunicações é o que tem maior peso na pesquisa dentre as 166 atividades pesquisadas (GOMES, 2022).

Por outro lado, uma perspectiva positiva pode ser vista no setor de serviços prestados às famílias que, apesar de ser ainda o único a não se recuperar totalmente da queda brusca dos tempos pandêmicos, tem apresentado uma sequência de taxas positivas. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior em Santa Catarina, esta já é a décima taxa positiva seguida desde abril de 2021 quando marcou 68,2%. É claro, que a partir de abril as taxas são positivas pois estão sendo comparadas com abril de 2020, quando todos os setores iniciam a trajetória de queda em razão das restrições aos serviços não essenciais. Contudo, destaca-se que no Brasil, entre abril e dezembro de 2021 houve um crescimento acumulado de 60% deste subsetor (GOMES, 2022).

Este recuo dos serviços prestados às famílias tem influências na situação conjuntural das famílias: renda fragilizada ou total falta de renda além da escalada de preços dos produtos mais básicos, principalmente os de alimentação. A necessidade de destinar a maior parte, ou até mesmo toda a renda para comer e sobreviver não deixa espaço nos orçamentos familiares para a aquisição de outros tipos de produtos ou serviços.

Outro fator influente que também pode ter impacto a retração de janeiro é o impacto do avanço da variante ômicron que obrigou parte da população brasileira a se isolar novamente restringindo o consumo de serviços presenciais.

Considerações Finais

Em um cenário de juros básicos mais altos e inflação persistente, as projeções para a atividade econômica brasileira convergem para uma perda de fôlego. Em janeiro de 2022, segundo o IBGE o volume de serviços brasileiro segue 7% acima do patamar pré-pandemia, apesar da retração de -0,1%. No acumulado anual o acréscimo foi de 9,5% em relação a janeiro do ano passado e o acumulado nos últimos doze meses chegou a 12,2%. Nos últimos meses os serviços prestados às famílias e os serviços de comunicação e informação que usualmente apresentam resultados muito positivos acabaram ganhando destaque pelos seus déficits.

Setorialmente, os pesos dos subgrupos que compõem os serviços de informação e comunicação (-4,7%), tais quais telecomunicações e T.I , foram cruciais para a retração total. Os serviços prestados às famílias (-1,4%) e as atividades de corretagem de seguros, previdência complementar, saúde e administração de fundos, abarcados em “outros serviços” (-1,1%) também contribuíram para o déficit do mês. Entre as atividades que contribuíram mais negativamente estão as operadoras de TV por assinatura por satélite, serviços de T.I, suporte técnico e manutenção, logística de transportes além dos serviços de recuperação de materiais plásticos.

Já o grupo de transportes e correio seguem se beneficiando do crescimento do comércio eletrônico. Seu nível está bem acima daquele visto em fevereiro de 2020 e apenas 2,7% abaixo do pico da série do IBGE visto em fevereiro de 2014 (GOMES, 2022). Entre os serviços que sustentaram a parte superavitária do índice estão o transporte rodoviário e aéreo de passageiros, de cargas, gestão de portos e terminais, hotéis, restaurantes, transporte coletivo, coleta de resíduos, serviços de hospedagem de websites online além dos provedores de conteúdo e serviços de informação na internet.

De acordo com o Índice de Confiança de Serviços (ICS) da Fundação Getúlio Vargas o resultado negativo de janeiro reflete a desaceleração já vista em dezembro e, claro, o cenário inflacionário e a falta de renda. Bem como a volta de algumas medidas de restrição devida à última onda de Covid-19 da variante ômicron. O ICS em dezembro marcava uma queda de -1,3% e em janeiro retrai menos três pontos além, chegando a -4,3% (FGV, 2022). Tal índice expressa a piora na avaliação das empresas sobre o cenário atual e suas expectativas para os próximos meses.

A perda de confiança é refletida pelo Índice de Situação Atual (ISA-S) que recuou 3,1 p.p. e também pelo Índice de Expectativas (IE-S) que caiu 5,5 p.p. Além das razões anteriormente citadas, o último surto de Influenza no Brasil também contribuiu para feriados como o carnaval serem adiados.

Para Santa Catarina o resultado foi ainda menos favorável. Não tanto como o Distrito Federal que recuou -9,1%, mas o estado desempenhou a maior queda na região sul, -1,7%. Muito devido aos seguidos resultados deprimidos do setor de serviços profissionais, administrativos e complementares, -19% em comparação com o mesmo mês do ano anterior. O observador e pesquisador mais atento poderá perceber que SC, apesar de ter se recuperado da pandemia, vem crescendo mensalmente, mas com meses seguintes de queda ou baixo crescimento. Um crescimento em trajeto de zig-zag: depois de um mês de bons resultados, os próximos não são favoráveis. Neste trajeto os serviços prestados às famílias e os serviços de transporte e correios favoreceram o estado barriga verde na comparação com o mesmo mês de janeiro de 2021.

O cenário para a atividade econômica de 2022 não é otimista devido aos recentes avanços da taxa básica de juros, da inflação e da permanente taxa de desemprego elevada. Como anteriormente explicitado, sem poder utilizar seus rendimentos para além da compra de produtos básicos, muitas das famílias e agentes consumidores estão deixando de utilizar demais serviços que não são fundamentais para a sua sobrevivência. Não porque não querem, mas por necessidade. Tal cenário de insegurança macroeconômica também poderá influenciar a queda no consumo nos próximos meses.

Referências

BARROS. Inflação tem alta de 0,54% em janeiro, maior para o mês desde 2016. Agência de Notícias, IBGE, 2022. Disponível em: < https://censoagro2017.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/32915-inflacao-tem-alta-de-0-54-em-janeiro-maior-para-o-mes-desde-2016 >. Acesso em 29 mar. 2022

FGV – Fundação Getúlio Vargas. Sondagem de Serviços: Índice de Confiança de Serviços (ICS).  Disponível em < https://portalibre.fgv.br/sites/default/files/2022-01/sondagem-de-servicos-fgv_press-release_jan22.pdf >. Acesso em 02 abr. 2022.

GOMES, Irene. Após dois meses em alta, setor de serviços varia -0,1% em janeiro. Agência de Notícias IBGE.  Pesquisa Mensal de Serviços, 2022. Disponível em: < https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/33227-apos-dois-meses-em-alta-setor-de-servicos-varia-0-1-em-janeiro >. Acesso em: 29 mar. 2022.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, janeiro de 2022. Disponível em: < https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=72419 >. Acesso em: 19 mar. 2022

SIDRA IBGE – Sistema IBGE de Recuperação Automática. Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, janeiro de 2022. Disponível em: < https://sidra.ibge.gov.br/home/pms/brasil >. Acesso em: 19 mar. 2022


[*] Graduando em Ciências Econômicas na UFSC, bolsista do NECAT, Internacionalista. Email: ide.andrey@gmail.com