Vale do Itajaí comanda geração de empregos formais em junho e já concentra 30% do saldo anual de vagas no estado

12/08/2021 11:08

Por: Victor Hugo Azevedo Nass[1]

Dando sequência aos acompanhamentos mensais publicados no blog do NECAT, o objetivo deste texto é analisar o comportamento do mercado formal de trabalho do Brasil e de Santa Catarina em junho de 2021, a partir dos resultados do Novo CAGED[2]. Para isso, serão analisados os saldos mensais e as variações relativas do emprego formal por grupamento de atividade econômica, gênero, escolaridade, faixa de remuneração e mesorregião geográfica.

De acordo com a Tabela 1, em junho o Brasil apresentou saldo positivo de 309.114 vínculos formais de trabalho, registrando alta de 0,8%. Já Santa Catarina criou 14.966 vínculos no mesmo período, com variação mensal de 0,7%. Com isso, ambas as regiões apresentaram uma leve aceleração  no ritmo de crescimento face ao mês anterior.

Tabela 1 – Evolução mensal de estoque, admissões, desligamentos, saldo e variação percentual (Brasil e Santa Catarina, junho a junho de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

No acumulado de 12 meses[3], o Brasil gerou 2.914.885 novos postos formais de trabalho, o que representa uma variação de 7,7% no estoque de empregos formais. O mercado formal de trabalho catarinense seguiu as tendências nacionais durante todo o período analisado, todavia com um ritmo de geração de vagas mais intenso. O estado acumulou uma variação de 11,4% entre junho de 2020 e de 2021, com saldo de 234.146 vagas. Em grande medida, essas taxas elevadas se devem ao fato de que os estoques de emprego formal estavam muito baixos durante o mesmo período em 2020, por conta da crise da Covid-19, contudo, demonstram uma recuperação consistente dos postos perdidos.

Evolução do emprego formal no Brasil

Conforme os dados contidos na Tabela 2, em valores absolutos, os serviços foram novamente o setor com melhor desempenho no país em junho. Seu saldo foi de aproximadamente 125 mil vínculos, sendo puxado principalmente pelas contratações nos subsetores de: Atividades Administrativas e Serviços Complementares (26.920); saúde humana e serviços sociais (16.459 vagas); e Atividades Profissionais, Científicas e Técnicas (14.733). Em termos relativos, os serviços tiveram alta mensal de 0,6% e de 4,6% no acumulado de 12 meses.

Tabela 2 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Brasil, junho de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Em termos relativos, a construção continuou obtendo o melhor desempenho no acumulado em 12 meses, com crescimento de 15,2%. Seu saldo em junho foi de 22.460 vínculos, o que corresponde a uma alta de 0,9% no mês. Esse resultado foi bem distribuído entre os seus subsetores.

Quanto à variação mensal, a agropecuária obteve o melhor desempenho, registrando alta de 2,5% em junho. Esse crescimento equivale a um saldo de 38.005 vínculos, localizados principalmente na colheita de soja, café, cana-de-açúcar e laranja, com saldos de 5.452; 5.227; 3.436; e 3.644 postos, respectivamente. No acumulado de 12 meses, o setor registra o terceiro melhor resultado, com alta de 9,3%.

A indústria criou mais de 50 mil empregos formais no mês de junho, com destaque para os subgrupos de: fabricação de produtos alimentícios (9.598); confecção de artigos do vestuário e acessórios (4.946); fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (4.040); e a fabricação de produtos minerais não-metálicos (3.790), que juntos correspondem por 50% do saldo mensal do setor. Tomado em seu conjunto, o crescimento do setor industrial foi de 0,6% no mês, e de 9,6% em comparação com o estoque de junho de 2020.

O setor de comércio gerou 73 mil vínculos formais de trabalho em junho, o que representou um crescimento de 0,8%. Esse resultado esteve muito concentrado no segmento varejista, que concentra 70% do estoque do setor. No  acumulado de um ano, o comércio registrou crescimento de 8,3%.

A Tabela 3 apresenta o saldo de vínculos formais de trabalho por sexo no Brasil. O resultado de junho foi positivo em 171.745 vínculos para os homens e em 137.369 vínculos para as mulheres, ou seja, pouco mais da metade dos postos gerados foram ocupados por homens. Já no acumulado de 12 meses, mais de 60% das vagas foram ocupadas por homens.

Tabela 3 – Saldo por sexo (Brasil, junho de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 4 apresenta a distribuição do emprego formal por nível de escolaridade. Em junho, cerca de 70% dos postos formais de trabalho criados foram ocupados por pessoas que têm ensino médio completo (213.542). Embora em menor medida, outros níveis de escolaridade que tiveram crescimento considerável foram o superior completo (22.836) e ensino médio incompleto (22.694). No acumulado de 12 meses, é notável que a retomada do emprego foi puxada principalmente por vagas para ensino médio completo (2.197.446).

Tabela 4 – Saldo por nível de escolaridade (Brasil, junho de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 5 apresenta a distribuição do emprego formal por faixa de remuneração. Em junho de 2021, foram criadas 283.277 vagas com remuneração entre 1 a 2 salários mínimos, o que corresponde a quase 90% do saldo mensal. A faixa de 2 a 3 salários mínimos também registrou crescimento notável, embora mais contido, de 21.532 vagas. A única faixa que registrou queda no mês foi novamente a de meio a 1 salário mínimo, com a perda de 20.753 postos formais de trabalho. No acumulado de 12 meses, observa-se que a faixa entre 1 e 2 salários mínimos (2.831.984) representou quase a totalidade das vagas geradas, revelando uma tendência de concentração do emprego formal nessa faixa salarial.

Tabela 5 – Saldo por faixa de remuneração (Brasil, junho de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Nota: Faixas de remuneração em salários mínimos de 2021 (R$ 1.100).

Evolução do emprego formal em Santa Catarina

Diferentemente do que ocorreu no restante do país, onde se observou a reaceleração dos serviços, o principal responsável pelo crescimento do emprego formal em Santa Catarina em junho de 2021 foi o setor industrial, criando 5.822 novos vínculos formais de trabalho no mês, o que lhe conferiu uma alta de 0,8%. Esse resultado foi bem distribuído dentro da indústria de transformação, com saldos levemente maiores nos subsetores de: confecção de artigos do vestuário e acessórios (988); fabricação de produtos alimentícios (736); fabricação de máquinas e equipamentos (531); e fabricação de produtos têxteis (514). No acumulado em 12 meses, o setor industrial tem o maior crescimento do estado, com expressivos 14% de aumento no emprego formal.

 Tabela 6 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Santa Catarina, junho de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A construção obteve novamente o maior crescimento relativo do mês, com uma alta de 0,9% e saldo de 1.164 vínculos. Esse crescimento concentrou-se nos subsetores de serviços especializados para construção (eletricistas, encanadores, pintores, etc), que abriu 610 vagas e construção de edifícios, com 474 vagas criadas. No acumulado de um ano o número de empregos formais no setor cresceu 11,6%.

O setor de serviços registrou saldo de 5.822 vínculos e variação relativa de 0,5%. O resultado mensal foi puxado pelos subsetores de: administração pública, defesa, seguridade social, educação e saúde humana e serviços sociais (1.359 vagas) e transporte, armazenagem e correio (985 vagas). Quanto ao acumulado de 12 meses, visto a importância dos serviços no estado, o setor fechou com um importante crescimento, de 10,2%.

O comércio registrou um crescimento de 0,8% em junho, com criação de 3.730 vínculos. Mais de 2/3 desses vínculos estão concentrados no setor varejista, que apresentou um saldo de 2.588 vagas. Em 12 meses, o crescimento do setor comercial também foi de 10,2%.

A agropecuária registrou saldo de somente 125 vagas. E esse saldo se deve à baixa expressão do setor na estrutura do mercado formal de trabalho, à excessão de safras temporárias, como as observadas nos meses anteriores. Com isso, a agropecuária registrou o menor crescimento setorial tanto no mês (0,3%), quanto no acumulado de 12 meses (4,2%, menos da metade de qualquer outro setor).

Conforme a Tabela 7, 7.913 das vagas abertas em junho foram ocupadas por mulheres e  7.053 por homens, ou seja, as mulheres tiveram um saldo ligeiramente maior no mês. Esse desempenho está relacionado ao crescimento das vagas nos ramos têxtil-vestuário e nos serviços de educação e saúde. Apesar disso,  no saldo de 12 meses os homens seguem com clara vantagem, com alta de 121.971 vagas, face às 112.175 vagas femininas.

Tabela 7 – Saldo por sexo (Santa Catarina, junho de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Conforme indicam os dados contidos na Tabela 8, mais da metade dos empregos gerados em junho de 2021 foram ocupados por trabalhadores com ensino médio completo (9.389 vagas). Além disso, destaca-se o bom desempenho nas faixas com ensino médio incompleto (2.304 novos vínculos) e ensino superior completo (1.214). No acumulado de 12 meses, segue a tendência de concentração do emprego na faixa de ensino médio completo, cujo saldo de 148.708 vínculos representa cerca de 2/3 do total de vagas geradas no período. Em seguida, aparece a faixa de ensino médio incompleto (31.329).

Tabela 8 – Saldo por nível de escolaridade (Santa Catarina, junho de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 9 apresenta a distribuição do emprego formal por faixa de remuneração. Em junho, 11.218 vagas formais foram criadas na faixa entre 1 e 2 salários mínimos, que concentrou cerca de 75% do saldo mensal. Além disso, parte expressiva do saldo mensal também localizou-se na faixa de 2 a 3 salários mínimos (1.910 vagas). Com relação ao acumulado de 12 meses, percebe-se que Santa Catarina tem um comportamento muito similar ao visto nacionalmente, com um crescimento das vagas extremamente concentrado na faixa entre 1 e 2 salários mínimos (202.860 vagas), que corresponde a quase 90% do saldo total.

Tabela 9 – Saldo por faixa de remuneração (Santa Catarina, junho de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.       

Com relação à distribuição mesorregional dos empregos formais (Tabela 10), podemos observar que a região do Vale do Itajaí apresentou o melhor desempenho em junho, em termos absolutos e relativos. Puxado pelo bom desempenho da indústria metalúrgica e os serviços de correios, a região registrou alta da ordem de 0,9%, correspondente ao saldo de 5.219 novos postos formais de trabalho. Em 12 meses, o Vale do Itajaí acumula um saldo de mais de 70 mil vagas, com alta de 12,9%. Com isso, a região já concentra 30% de todas as vagas geradas em Santa Catarina ao longo deste período.

Tabela 10 – Saldo por mesorregião (Santa Catarina, junho de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

O segundo melhor desempenho mensal ficou por conta da região Oeste, que obteve um saldo de 2.702 vagas em junho, uma alta de 0,7% no seu estoque de empregos formais. Os principais determinantes desse desempenho são o crescimento da indústria de alimentos e os serviços de correios e administração pública. Em relação aos últimos 12 meses, a região obteve um crescimento de 9,6%, concentrado na indústria de alimentos.  Na sequência, a Grande Florianópolis registrou alta de 0,6%, que corresponde a um saldo de 2.653 vagas. Em grande medida, esse resultado se deve à retomada do setor de serviços – que tem uma forte presença na região. No acumulado de 12 meses, a Grande Florianópolis apresenta um crescimento de 10,1%.

A região Serrana também apresentou crescimento da ordem de 0,6% em junho, representando um saldo de 1.412 vagas, muito em decorrência da criação de empregos na indústria de celulose, papel e produtos de papel. No acumulado de 12 meses, a região apresenta alta de 7,7%, sendo este o menor resultado entre as mesorregiões catarinenses.

Já a região Norte cresceu 0,5%, com 2.450 vagas criadas em junho. Esse saldo é sustentado principalmente pelo bom desempenho da indústria da região, destacadamente nos segmentos metal-mecânico e elétrico. Em relação ao desempenho em 12 meses, a região Norte acumula um crescimento de 12%.

Em que pese o bom desempenho do Vale do Itajaí e do Norte Catarinense, a região Sul permanece com o melhor crescimento acumulado em 12 meses, registrando alta de 13%. Apesar do crescimento abaixo da média (0,5%, referente à geração de 1.412 vagas), a região manteve essa posição em junho. O comércio varejista, bem como a indústria de confecção de roupas são os principais responsáveis pelos expressivos saldos observados na região.

Em síntese, os dados de junho indicam que o emprego formal em Santa Catarina continua em expansão, em ritmo semelhante ao observado nos últimos meses. Os setores da indústria e de serviços tiveram papel muito importante nesse processo. Outro dado importante é o saldo superior de empregos femininos no estado em junho, ainda que as tendências recentes do mercado formal de trabalho tenham favorecido mais os homens. Quanto à qualidade dos postos de trabalho gerados, destaca-se a forte presença de vagas com baixa remuneração (na faixa entre 1 e 2 salários mínimos) e de baixa qualificação da mão-de-obra. Por fim, destaca-se o forte desempenho da região do Vale do Itajaí, que desponta como a maior dinamizadora do mercado formal de trabalho catarinense.


[1] Estudante de Economia na UFSC e bolsista do Necat.

[2] Todos os dados apresentados neste texto foram coletados junto à base de dados do Ministério da Economia em 31 de julho e 2 de agosto de 2021. Em razão das declarações fora do prazo e das revisões periódicas da base de dados, os dados podem divergir ligeiramente dos divulgados nas análises anteriores.

[3] A variação acumulada em 12 meses refere-se ao crescimento do estoque de empregos formais entre junho de 2020 e junho de 2021.