Varejo registra queda no mês de novembro e black friday não animou o setor

13/03/2023 11:01

Guilherme Ronchi Razzini[*]

A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC-IBGE) divulgada em janeiro/23 e com dados referentes ao mês de novembro de 2022, ilustra que no índice do mês em relação ao mês imediatamente anterior com ajuste sazonal o varejo registrou queda de -0,5% no volume de vendas no referido mês. Já no estado catarinense houve registro de expansão de 0,1% no volume de vendas. Da perspectiva da série interanual, houve queda de -1,4% no cenário nacional e de -0,3% no cenário estadual.

Nos cenários regionais, na comparação mês a mês com ajuste sazonal houve retração em 14 das 27 Unidades da Federação (UFs) pesquisadas, as maiores quedas se concentraram nos estados de Alagoas (-7,4%), Amapá (-4,9%) e Minas Gerais (-3%). Em contraste, houve expansão em 13 das 27 UFs, de forma mais intensa nos estados do Tocantins (7,7%), Sergipe (3,1%) e Rondônia (2,9%).

Com os dados de novembro é possível estimar os resultados para o ano de 2022, no varejo ampliado o saldo é de retração de -0,6% no período de janeiro a novembro desse ano. Cabe ainda destaque para o desempenho abaixo do esperado para as promoções de Black Friday, que não impulsionam as vendas do setor, que registrou desempenho inferior ao verificado no ano anterior. Os resultados evidenciam o impacto dos altos juros no setor, uma vez que os ramos com os piores resultados são justamente aqueles que exigem crédito.

Deste modo, no presente analisa-se o desempenho do comércio varejista ampliado no Brasil e em Santa Catarina com base nos dados disponibilizados pela PMC-IBGE, considerando-se o contexto do atual estágio da pandemia e a própria conjuntura macroeconômica do país.

Atividade comercial no Brasil em novembro de 2022

A Tabela 1 apresenta as quatro séries da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) ao longo dos últimos doze meses. No indicador mês a mês com ajuste sazonal, o que melhor caracteriza o ritmo da atividade no curto prazo, foi registrada retração de -0,5% no volume de vendas. No indicador que compara o resultado com o mesmo mês do ano anterior, houve retração ainda maior de  -1,4%, reforçando os péssimos resultados acumulados no mês de novembro.

Tabela 1: Variação do volume de vendas do comércio varejista ampliado no Brasil (dezembro de 2021 a novembro de 2022).

Fonte: PMC-IBGE (2023). Elaboração NECAT-UFSC.

No índice acumulado no ano, houve variação de -0,5% para 0,+% no volume de vendas. Deste modo, tal indicador no presente ano ainda está em patamares inferiores ao do ano anterior e sem sinais de que o acumulado tende a reverter o resultado no último mês do ano. No acumulado em doze meses, houve variação positiva de -1,0% para -0,8%, indicando uma melhora no indicador com o resultado do mês de novembro.

A queda no mês de novembro pode ser explicada pela reaceleração do nível inflacionário no período, mais intensa nos setores de vestuário e transportes. Além do encarecimento do crédito, com o aumento contínuo das taxas de juros, nas operações de crédito livremente contraídas por pessoas físicas a taxa média de juros dos empréstimos e financiamentos atingiu 59%, maior patamar desde agosto de 2017, segundo o Banco Central.

Com apenas um mês para fechar o ano, o setor ainda apresenta saldo negativo no acumulado do ano, refletindo uma piora no cenário para o setor que esperava consolidar uma trajetória de crescimento no presente ano e superar as dificuldades da pandemia. Entretanto, o recuo das taxas de juros deve demorar a acontecer, o que poderá dificultar o cenário para o próximo ano.

A Tabela 2 ajuda a compreender de forma mais detalhada os resultados das atividades do setor, a partir dos resultados mensais com ajuste sazonal. Foram registradas expansões em quatro das 10 atividades do varejo ampliado, com destaque para as expansões nos segmentos de material de construção (5,2%), moveis e eletrodomésticos (1,9%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (1,5%). Por outro lado, houve forte retração nas atividades de combustíveis e lubrificantes (-5,4%), livros, jornais e revistas (-3,5%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-3,4%).

 

Tabela 2: Variação mês a mês com ajuste sazonal do volume de vendas no comércio varejista ampliado e suas subdivisões no Brasil (janeiro de 2022 a novembro de 2022).

Fonte: PMC-IBGE (2023). Elaboração NECAT-UFSC.

Novamente, o setor de tecidos, vestuário e calçados registrou variação negativa, conformando um quadro em que os impactos da inflação e do encarecimento do crédito se explicitam mais fortemente, feto que contribui para reduzir as expectativas para o segmento.

Atividade comercial em Santa Catarina em novembro de 2022

Os resultados da PMC para o estado catarinense estão presentes na Tabela 3, que apresenta as quatro principais séries temporais da pesquisa: dados da série mês em relação ao mês imediatamente anterior com ajuste sazonal; na comparação do mês com o mesmo mês do ano anterior; no acumulado do ano em relação ao mesmo período do ano anterior; e no acumulado dos últimos doze meses.

No estado catarinense foi registrada expansão no volume de vendas na comparação com o mês imediatamente anterior com ajuste sazonal, com a tímida alta de 0,1%, resultado que contrasta com o cenário nacional. Apesar do crescimento fraco, o setor mantém alta no acumulado no ano, diferente do cenário nacional que apresenta saldo negativo na comparação.

Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, foi registrada queda de -0,3% no volume de vendas, ilustrando um desempenho inferior ao do ano anterior. No acumulado do ano houve leve queda no saldo com variação de 2,9% para 2,6%. Deste modo o presente ano apresenta volume superior de vendas em comparação ao mesmo período do ano anterior, porém este saldo tem apresentando retração nos últimos meses, o que pode estar indicando uma queda do desempenho geral no presente ano.

O acumulado em doze meses, no entanto, tem acumulado saldo levemente inferior, uma vez que também apresentou queda no saldo na passagem do mês, variando de 2,9% para 2,6%. Tal valor surpreende e reflete o fraco desempenho do setor no mês de novembro, que não teve o desempenho esperado com as promoções de Black Friday.

Tabela 3: Variação do volume de vendas do comércio varejista ampliado em Santa Catarina (dezembro de 2021 a novembro de 2022).

Fonte: PMC-IBGE (2023); Elaboração NECAT-UFSC.

A Tabela 4 apresenta os saldos acumulados no ano (janeiro de 2022 a novembro de 2022) em Santa Catarina para os dez grupos de atividade que compõem o comércio varejista ampliado.

Dentre as 10 atividades pesquisadas, seis delas apresentaram variação negativa no saldo do indicador, com destaque para os saldos acumulados nos setores de livros, jornais, revistas e papelaria (21,6%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (21,2%), e combustíveis e lubrificantes (15,2%). Por outro lado, destaque para as variações negativas nos setores de material de tecidos, vestuário e calçados (-9,6%) e material de construção (-8,2%).

Novamente no estado catarinense as atividades com mais sensibilidade ao crédito apresentaram maiores dificuldades frente às atividades mais sensíveis à renda. Deste modo, as atividades de bens duráveis como material de construção e veículos, motocicletas apresentaram retração no volume de vendas no indicador, refletindo a restrição do acesso ao crédito e o alto endividamento das famílias.

Tabela 4: Variação do volume de vendas por grupo de atividades do comércio varejista ampliado em Santa Catarina, acumulado no ano em 2022 (em %).

Fonte: PMC-IBGE (2023). Elaboração NECAT-UFSC.

Considerações finais

Os dados da PMC de novembro de 2022 permitem observar que o comércio nacional poderá fechar o ano de 2022 com saldo negativo no volume de vendas, enquanto o estado de Santa Catarina deverá apresentar uma expansão abaixo do desempenho histórico. Apesar da melhora no cenário sanitário da pandemia do Covid-19 decorrente do relaxamento das medidas, o setor de varejo ainda apresenta dificuldades em estabelecer um ritmo sólido de crescimento.

De um modo geral, a retração obervada no mês de novembro pode ser explicada pelo aumento das taxas de juros para o consumidor, cujos efeitos diretos enfraquecem o poder de compra e dificultam o acesso ao crédito, componente fundamental para o consumo na dinâmica do segmento varejista.

Neste contexto, as perspectivas futuras não são otimistas, uma vez que as taxas de juros devem permanecer em patamar elevado, ao mesmo tempo em que a reaceleração da inflação deve afetar as vendas novamente. Tais indicadores afetam, principalmente, aqueles setores que dependem mais do acesso ao crédito, como os segmentos de bens duráveis que sofrem com o recuo no volume de vendas desde o início da pandemia.

Deste modo, após a publicação da próxima pesquisa mensal será possível definir um histórico mais completo para o ano de 2022, além de ser possível elencar algumas perspectivas para o ano de 2023. De todo modo, nota-se que o setor varejista, juntamente com o setor industrial, tem apresentado resultados bem tímidos nos últimos meses, enquanto o segmento de serviços acabou sendo determinante para a geração de resultados bastante positivos, inclusive superando as expectativas iniciais.

REFERÊNCIAS

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal do Comércio. (PMC). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, novembro de 2022.


[*] Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. E-mail: guilhermerazzini33@gmail.com