Volume de serviços catarinense segue em expansão, porém em menor ritmo

01/11/2022 10:19

Guilherme Ronchi Razzini*

Matheus Rosa**

Os dados recentemente divulgados neste mês pela Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE (PMS-IBGE) sobre o desempenho das atividades de serviços em agosto de 2022 mostram novamente um avanço, sendo este o quarto mês consecutivo de resultados positivos no cenário nacional na série com ajuste sazonal, com expansão de 0,6% frente ao mês anterior. No estado catarinense houve uma leve expansão de 0,1% no volume de serviços, deste modo ambos os cenários registram o volume de serviços mais alto desde o início da pandemia.

Nos dados estaduais, houve expansão na comparação com o mês imediatamente anterior com ajuste sazonal em 18 das 27 Unidades da Federação (UFs), com destaque para as maiores expansões nos estados de Amapá (6,2%), Acre (6,1%) e Distrito Federal (5%). Em contraste houve retração em 8 das 27 UFs, com as maiores quedas nos estados de Paraná (-7,1%), Goiás (-3,4%) e Mato Grosso do Sul (-1,3%).

Tal cenário de resultados majoritariamente expansivos reflete a ampliação da mobilidade das pessoas e a volta das atividades presenciais, o setor tem apresentado os melhores resultados na retomada econômica posterior à pandemia, com a normalização das atividades há também a vazão da demanda represada durante o período pandêmico. Entretanto, a ainda elevada e persistente e o desemprego elevado tem afetado a capacidade em registrar expansões mais sólidas.

Deste modo, o presente artigo tem como objetivo ilustrar o desempenho do setor de serviços no Brasil, e em Santa Catarina, a partir dos dados disponibilizados pela PMS-IBGE, no contexto do atual estágio da pandemia e da conjuntura macroeconômica. Para além dos resultados, tal análise tem o objetivo de comentar os resultados consolidados no setor e nas atividades de serviços, e as perspectivas que se formam para um futuro próximo.

A atividade de serviços no Brasil em agosto de 2022

O Gráfico 1 apresenta a trajetória do índice de volume de serviços ao longo do período de vigência da pandemia. Assim como nos demais setores, os meses de março e abril de 2020 foram responsáveis pelas maiores quedas nos níveis de atividade, o que se relaciona com a aplicação das medidas de isolamento social e com os impactos diretos que o elevado nível de incerteza ocasionou no mercado de trabalho. Na sequência, um movimento de recomposição das perdas se instalou e durou até janeiro/21. A superação efetiva do patamar pré-pandemia, porém, só foi se verificar em junho/21, quinze meses após a deflagração da pandemia e posterior à retomada da indústria (set/20) e do comércio (jul/20), o que indica que a demanda das atividades de serviços ficou represada durante um período relativamente longo, sendo a disseminação das vacinas o elemento viabilizador da retomada a partir do segundo semestre de 2021. O gráfico ilustra que durante o início do ano de 2022 existe uma leve queda no volume de serviços, porém nos períodos seguintes a curva apresenta uma trajetória de expansão, solidificando os resultados positivos do setor no corrente ano.

Gráfico 1: Índice de volume de serviços com ajuste sazonal de janeiro de 2020 a agosto de 2022 (jan/20 = 100), Brasil

Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC

Em relação ao desempenho nos últimos doze meses, a Tabela 1 apresenta um sumário dos resultados a partir das bases de comparações presentes na pesquisa. Pela perspectiva mês a mês, o resultado de 0,7% representa a quarta variação positiva no ano, reforçando as ligeiras variações de junho (0,9%) e julho (1,3%), meses imediatamente anteriores. No saldo do ano fica o registro de um crescimento lento, ainda que positivo, sendo de 3,5% a expansão do índice na comparação com o volume de serviços em dezembro de 2021.

Tabela 1: Variação do volume de serviços no Brasil em diversos períodos

Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC

A comparação com os resultados mensais de 2021 também retorna resultados positivos. Em agosto, a expansão de 8% na comparação com o mesmo mês do ano anterior mantém a tendência positiva nessa série, que registrou expansão em todos os meses. É de se destacar, contudo, que o ritmo dessas expansões vinha de ritmo de redução desde março, alterado agora pela expansão no saldo. Nas UFs, houve majoritariamente saldos positivos, com 24 das 27 UFs com expansão no índice, com destaque para Amapá (29,6%), Roraima (20,2%) e Tocantins (14,1%). Em contraste, foram registradas retrações nos estados de Paraná (-6%), Sergipe (-4,3%) e Distrito Federal (-0,6%).

No saldo acumulado no ano, o cenário é positivo, apesar da continuidade das quedas no saldo desde março, o setor ainda apresenta saldo de 8,4% de expansão na comparação com o mesmo período do ano anterior. No acumulado dos últimos doze meses, o saldo é de expansão de 8,9%, e assim como no acumulado no ano o saldo vem caindo de forma consecutiva nos últimos meses.

Com isso, é nítido que a tendência delineada pelo setor é positiva e mantenedora da estabilidade que viabilizou o melhor resultado relativo das atividades de serviços no pós-pandemia na comparação com os demais setores da atividade econômica. A falta de tração do ritmo mensal, contudo, indica que os entraves macroeconômicos – destacadamente a manutenção dos juros elevados, têm desacelerado as expansões.

A distribuição setorial dos resultados é ilustrada pela Tabela 2, a partir da série mensal com ajuste sazonal. Entre os cinco macrossetores de serviços foram registradas três variações positivas, uma estabilidade e uma retração, sendo positivos os destaques de outros serviços (6,7%), serviços prestados às famílias (1%) e serviços de informação e comunicação (0,6%). Negativamente despontara a atividades de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (-0,2%), e estabilidade no setor de serviços profissionais, administrativos e complementares (0%).

Tabela 2: Variação do volume de serviços por atividades de serviços, mês a mês com ajuste sazonal

Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

Ao analisar os resultados das atividades de serviços pela desagregação dos macrossetores. Por essa perspectiva, aparecem como destaques positivos de agosto os desempenhos de serviços de tecnologia de informação e comunicação (2%), serviços de alojamento e alimentação (1,8%) e telecomunicações (1,5%), conforme mostra a Tabela 2. Outros serviços prestados às famílias (-4,4%), serviços audiovisuais, de edição e agências de notícias (-2,4%) e transporte terrestre (-0,7%), por outro lado, apresentaram os piores resultados. A correspondência de cada uma dessas atividades com os macrossetores do setor de serviços está também presente na Tabela 2.

O setor de informação e comunicação apresentou exerceu a segunda maior contribuição para o avanço do setor no período, e atingiu o ponto mais alto de sua série, o setor teve crescimento robusto durante a pandemia com a implantação do home office e a digitalização dos serviços.

O desempenho fraco do comércio e da indústria tem afetado e freado alguns dos setores de serviços como a atividade de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio que tem um papel de apoio logístico de insumos e produtos acabados, tal setor apresentou leve retração no mês de agosto em comparação com o mês anterior com ajuste sazonal.

Gráfico 2: Volume de serviços por atividades de serviços, acumulado no ano, Brasil

Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

O Gráfico 2 ilustra o desempenho do volume de serviços por atividades de serviços no acumulado no ano no mês de agosto de 2022, no mês apenas dois setores registram saldo de retração na comparação com o mesmo período do ano anterior, sendo as atividades de telecomunicações (-7,3%) e outros serviços (-5%). Por outro lado, os restantes das atividades registraram saldo de expansão durante o corrente mês, com destaque para os maiores saldos nas atividades de transporte aéreo (40%), serviços de alojamento e alimentação (33,6%) e serviços prestados à família (32,2%).

Tais resultados podem ser explicados em parte pela alta demanda registrada no ano anterior em comparação com o atual período, como no setor de telecomunicações, ou pela demanda represada nos últimos meses que impulsionaram o setor como na atividade de transporte aéreo.

O volume de serviços em Santa Catarina em agosto de 2022

A trajetória recente do setor de serviços catarinense é ilustrada pelo Gráfico 3. Após as retrações de março e abril de 2020, na sequência da deflagração da pandemia, o setor adentrou numa tendência eminentemente expansiva, com poucos momentos de retrações consolidadas. Nos primeiros oito meses de 2022, se manteve a tônica expansiva, porém em ritmo ligeiramente inferior ao verificado nos anos anteriores. A estabilidade expansiva, contudo, fez com que o índice se mantivesse sustentavelmente acima do nível pré-pandêmico de fevereiro de 2020, sendo a comparação com esse patamar do índice positiva em 18,6%.

Gráfico 3: Índice de volume de serviços com ajuste sazonal de janeiro de 2020 a agosto de 2022 (jan/20 = 100), Santa Catarina

Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC

A síntese dos últimos doze meses é apresentada na Tabela 3. Em agosto, a variação mensal em relação ao mês imediatamente anterior foi de 0,1%, mantendo o sinal registrado em julho, porém em ritmo inferior. Com isso, a série mensal registrou 4 expansões e 4 retrações em 2022, com ligeira vantagem expansiva, sendo a comparação com janeiro positiva em 5,0%. O comparativo desse resultado mensal com as demais UFs pode ser conferido no Gráfico 4.

Tabela 3: Variação do volume de serviços em diversos períodos, Santa Catarina

Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC

A comparação com agosto de 2021, por sua vez, registrou bom resultado, com expansão de 7,2%. Esse é o sexto resultado positivo do ano na comparação com os meses de 2021, tendo sido negativo apenas o volume de serviços registrado em fevereiro. Assim, fica claro o sinal expansivo para o setor de serviços catarinenses na comparação interanual, consolidando a tendência positiva que está consolidada desde a superação dos impactos iniciais da pandemia.

Gráfico 4: Variação do volume de serviços por UF, mês a mês, ago/22

Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

As séries acumuladas apontam na mesma direção. Pela perspectiva anual, a expansão em agosto foi de 4,9%, mantendo o movimento positivo na série que ainda não registrou retrações em 2022. Já a série de 12 meses apresentou expansão de 6,8%, também confirmando a tendência expansiva, ainda que em ritmo ligeiramente inferior ao verificado nos meses anteriores do ano.

A estratificação por setores de atividades de serviços mostra forte disparidade, como ilustra a Tabela 4. Em agosto, 4 dos 5 agrupamentos setoriais registraram expansões nos acumulados anuais, sendo a mais expressiva registrada em serviços prestados às famílias. Outros serviços (8,2%), transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (7,7%) e serviços de informação e comunicação (6,1%) também expandiram em bom ritmo. Assim como nos meses anteriores, as atividades de serviços profissionais, administrativos e complementares (-17,8%) registraram retração, mantendo a tônica de fortes perdas em relação ao acumulado de 2021.

Tabela 4: Variação do volume de serviços por atividades de serviços, acumulado no ano, Santa Catarina

Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

Considerações finais 

A dinâmica do setor de serviços em agosto de 2022 foi de continuidade do ritmo expansivo verificado nos últimos meses, com expansões em nível nacional e estadual. No agregado nacional há maior estabilidade, porém os resultados são pouco expressivos na série mensal, sendo as expansões dos últimos quatro meses de pouca magnitude. Em Santa Catarina, o resultado de agosto aponta uma estagnação frente julho, enquanto no restante dos meses do ano a tônica foi de instabilidade, tendo sido registradas 4 expansões e 4 retrações ao longo do ano.

Em termos setoriais, as atividades de serviços prestados às famílias continuam na liderança. Nacionalmente o setor acumula expansão de 32,2% frente o acumulado de 2021, enquanto em Santa Catarina a alta na mesma série é de 28,1%, evidenciando que essas atividades que despontaram a partir da vacinação da população continuam como catalisadoras do crescimento do volume de serviços.

A despeito das altas acumuladas em relação a 2021, é notório que a trajetória de curto prazo mostra sinais vacilantes em decorrência dos gargalos de demanda da atual conjuntura macroeconômica, notoriamente os que provém do ciclo de alta da taxa básica de juros. O desemprego, a inflação e as quedas nos níveis de renda dos trabalhadores, da mesma forma, também são fatores desestimulantes e que tem marcado a trajetória do setor de serviços em 2022, mesmo com o início de uma trajetória de melhora nesses indicadores. Para o restante do ano, espera-se que o ritmo atual se mantenha, uma vez que esses indicadores que desestimulam o desempenho deverão se perpetuar até dezembro.

Referências

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal de Serviços. Rio de Janeiro (RJ): IBGE, agosto de 2022.


*Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista no Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (Necat/UFSC). E-mail: guilhermerazzini33@gmail.com

**Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (Necat/UFSC). E-mail: matheusrosa.contato@outlook.com.