Volume de vendas do comércio catarinense apresenta retração pelo terceiro mês consecutivo

15/12/2021 19:05

Por: Matheus Rosa[1] e Guilherme Razzini[2]

Os dados relativos ao desempenho do comércio divulgados pela Pesquisa Mensal do Comércio (PMC-IBGE) na última semana, com dados referentes a outubro, mostram um cenário de quedas generalizadas no volume de vendas nacional e estadual. Este saldo negativo se apresentou através das quedas mensais, observadas na série mês a mês com ajuste sazonal e também na comparação com o desempenho de outubro de 2021. Já em relação aos acumulados, contudo, continua o cenário de variações positivas.

Com isso, o comércio varejista ampliado nacional registrou queda pelo terceiro mês consecutivo, consolidando saldo de retração de -5% desde o índice registrado em julho. Nesse mesmo período, a retração acumulada nos dados de Santa Catarina é ainda mais significante, com saldo de -10,8% após a retração de outubro. Ambos os saldos expressam as dificuldades do setor comercial na manutenção do nível de vendas a partir do segundo semestre desse ano, o que se relaciona, principalmente, com a desaceleração econômica e o avanço do movimento inflacionário.  

A partir dos dados divulgados pela pesquisa, esse breve texto se direciona à análise do desempenho geral da atividade comercial no Brasil e em Santa Catarina.

A Atividade Comercial no Brasil em Outubro de 2021

A Figura 1 apresenta a trajetória do Volume de Vendas do Comércio Varejista no Brasil de janeiro de 2010 a outubro de 2021. De acordo com os movimentos gerais da economia brasileira na última década, observa-se uma primeira trajetória de crescimento que se estende até o segundo semestre de 2014, seguida por uma queda brusca, até o segundo semestre de 2016, e uma posterior expansão vacilante que se mantém até o início do primeiro semestre de 2020.

A partir de 2020 é possível perceber os efeitos da pandemia no volume de vendas do comércio varejista ampliado, o primeiro efeito constatado pelo IBGE está em março de 2020 quando o volume de vendas esteve em patamar inferior a janeiro de 2010, início da série retratada. Após a queda acentuada, é possível perceber uma rápida recuperação no volume de vendas impulsionado pelo programa de auxílio emergencial implantado pelo governo federal, este patamar de vendas se mantém até novembro de 2020. Posteriormente, com a redução dos programas emergenciais de incentivo ao consumo é possível perceber certa instabilidade no volume de vendas no primeiro semestre de 2021, e tendência de queda registrada a partir de julho de 2021 com as variações sucessivas registradas na série mês a mês.

Figura 1 – Volume de vendas no comércio varejista ampliado do Brasil (índice base fixa com ajuste sazonal, 2010=100, janeiro de 2010 a setembro de 2021)

F1

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC. 

A Tabela 1 expõe as variações no volume de vendas, a partir das quatro séries mantidas pelas pesquisas. No índice em comparação ao mês imediatamente anterior foi registrada uma queda de 0,9%, com isso o volume de vendas do comércio ampliado obteve resultados negativos em 6 dos 10 primeiros meses do ano. Em âmbito regional, foi registrado quedas em 17 das 27 Unidades da Federação quando comparado com o mês imediatamente anterior com destaque para: Rio de Janeiro (-5%), Amapá (-4%) e Goiás (-3,8%), entre as UFs com expansão se destacam Tocantins (8%), Alagoas (4,4%) e Rio Grande do Sul (2,2%).

Vale ressaltar ainda a expressiva queda de 7% em outubro de 2021 quando comparado com outubro de 2020, resultado que reforça o prognóstico de queda nos índices quando comparado ao segundo semestre de 2020, período em que foi registrada trajetória sustentada de expansão, sendo assim as bases de comparação elevadas. Nas UFs também é possível notar as brutas quedas neste mesmo índice, com retração registrada em 23 dos 27 estados pesquisados. As maiores quedas foram registradas no Amapá (-14,9%), Amazonas (-12,4%) e Paraná (-11,7%), em contraste a este cenário foram registradas expansões apenas nos seguintes estados: Pernambuco (9,4%), Tocantins (2,2%), Pará (1,1%) e Alagoas (0,4%).

Ademais, em relação às séries acumuladas é possível perceber uma tendência na queda dos indicadores, o que também é consequência do carrego estatístico da segunda metade do ano passado. Na série acumulada no ano foi obtido expansão de 6,3%, seguindo tendência de queda do índice desde maio de 2021. Ao considerar o acumulado nos últimos doze meses a expansão registrada é de 5,7%.

Tabela 1: Variação do volume de vendas do comércio varejista ampliado no Brasil (outubro de 2020 a outubro de 2021)

T1

Fonte: PMC-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC. 

Assim, ficam nítidas as dificuldades enfrentadas atualmente pelo setor comercial. Com o volume de vendas instável durante o primeiro semestre de 2021 e com o fim dos programas de incentivo ao consumo, o panorama para o segundo semestre de 2021 é de retração, como fica evidenciado pelas três retrações seguidas na série mensal a partir de agosto. Em consequência dessas três quedas, o saldo do comércio varejista ampliado nacional está abaixo dos níveis pré-pandemia, com retração consolidada de -2,8% em relação a fevereiro de 2020. Resultado que é decorrente e potencializado pela crise econômica brasileira, que hoje é caracterizada pela manutenção do desemprego, pela crescente inflação e pelo alto endividamento das famílias, fatores que corroem o poder de compra e causam instabilidade no setor. (IEDI, 2021). Confirmando essa avaliação, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) revisou de +3,6% para +3,1% sua expectativa de variação do volume de vendas do comércio varejista para este ano e passou a projetar avanço de apenas 1,2% para o setor em 2022.

Uma análise mais concreta sobre o desempenho da atividade comercial pode ser exposta através dos dados setoriais, como mostra a Tabela 2, que traz os dados de outubro de 2020 a outubro de 2021 na comparação mês/mês imediatamente anterior. A partir dos dados é possível aferir que das oito atividades pesquisadas cinco apresentaram queda, sendo destaque para: livros, jornais, revistas e papelaria (-1,1%), móveis e eletrodomésticos (-0,5%), combustíveis e lubrificantes (-0,3%), e hipermercados, supermercados (-0,3%). Apenas três setores apresentaram expansão no período analisado, sendo os setores de equipamentos e materiais para escritório (5,6%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (1,4%) e tecidos, vestuário e calçados (0,6%).

Vale destacar que alguns setores, em especial, preocupam por repetirem retrações mês após mês. É o caso de combustíveis e lubrificantes, móveis e eletrodomésticos, equipamentos para informática e materiais para escritório e materiais de construção, todos setores que com o resultado de outubro consolidam o quarto mês seguido de retrações. A reversão da trajetória desses setores deverá ser de primeira importância para que, em nível agregado, seja estabelecida uma tendência de crescimento com estabilidade.

Tabela 2: Variação mês/mês imediatamente anterior do volume de vendas no comércio varejista ampliado e suas subdivisões para o Brasil

T2

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

A Figura 2 possibilita ampliação a compreensão do quadro setorial. Na comparação com o volume de vendas em outubro de 2021 com o patamar de fevereiro de 2020 apenas três setores apresentam expansão, sendo artigos farmacêuticos (11,7%), material de construção (10,9%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (7,6%). Em contraste a expansão, os setores com maior retração no mesmo período são: livros, jornais, revistas e papelaria (-38%), equipamentos e materiais para escritório (-13,2%) e combustíveis e lubrificantes (-11,1%). Essa forte retração da maioria dos setores e a fraca recuperação localizada demonstra a dificuldade do comércio brasileiro em reagir à crise econômica e estabelecer um ritmo de crescimento sustentado e contínuo.

Figura 2 – Variação acumulada em 12 meses no volume das atividades de venda no comércio varejista ampliado e suas subdivisões para o Brasil

F2

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

Por fim, pode-se observar a composição absoluta da variação do comércio ampliado para se ter uma noção sobre a importância de cada setor de atividades na taxa agregada. A Tabela 3 mostra essa relação, destacando que, a partir da comparação com outubro de 2020, é o setor de hipermercados e supermercados que puxa a queda agregada, com participação de -1,8 p.p na retração global de -7,1%.[3] Também contribuíram com destaque móveis e eletrodomésticos (-1,6 p.p. de participação na taxa agregada) e materiais de construção (-1,5 p.p de participação na taxa agregada). Apenas artigos farmacêuticos e livros, jornais, revistas e papelaria não foram negativamente significantes para a formação da variação total, indicando ambos 0,0 p.p. de contribuição.

Tabela 3: Composição absoluta da taxa de variação do comércio varejista ampliado e suas subdivisões, outubro de 2021 frente a outubro de 2020

T3

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

O Desempenho do Comércio Varejista de Santa Catarina em setembro de 2021

O comércio varejista ampliado em Santa Catarina apresenta uma trajetória de expansão desde 2010, com pequenos intervalos de queda, como mostra a Figura 3. O registro expõe sucessivas expansões especialmente a partir de 2016, com curtos períodos de retração, que se manteve até o início dos impactos da pandemia no primeiro trimestre de 2020. Devido aos impactos econômicos causados pela incerteza diante do cenário pandêmico, os meses de março e abril de 2020 registraram quedas agudas no volume de vendas do comércio catarinense, assim como em outros setores da economia. No segundo semestre de 2020 foram registradas fortes expansões em razão dos programas de incentivo ao consumo que impulsionaram uma rápida recuperação do setor neste período, porém com o racionamento destes programas o ano de 2021 apresenta instabilidade nos resultados, com momentos de expansão até julho de 2021 e quedas a partir deste mês até o último registro da pesquisa.

Figura 3 – Volume de vendas no comércio varejista ampliado de Santa Catarina (índice base fixa com ajuste sazonal, 2010=100, janeiro de 2010 a setembro de 2021)

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Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

A Tabela 4 sintetiza os resultados da PMC em outubro em Santa Catarina, a partir das quatro séries históricas da pesquisa. Na comparação com o mês imediatamente anterior, o estado registrou queda de 0,6%, apesar do resultado negativo o volume de vendas em outubro de 2021 ainda é 6,7% maior que no patamar pré-pandemia, saldo que indica que o estado conseguiu se recuperar e manter a tendência expansiva apresentada no período anterior a pandemia.

Cabe ainda ressaltar a retração de 3,7% na comparação com o mesmo mês do ano anterior encerrando um ciclo de sucessivas expansões na série intra-anual, dado que reforça a tese de retrações na série devido a elevada base de comparação do segundo semestre de 2020, ainda assim, a variação catarinense ficou acima do resultado nacional. A retração na série deve ocorrer nos próximos meses tendo em vista os resultados expressivos no último trimestre do ano anterior e a falta de perspectiva de resolução dos problemas que corroem o consumo das famílias.

Tabela 4 – Variação do volume de vendas do comércio varejista ampliado em Santa Catarina (setembro de 2020 a setembro de 2021)

T4

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

Por fim, as séries acumuladas continuam a registrar expansão, porém em ritmo mais desacelerado do que o constatado no mês anterior. Ao que tange ao acumulado do ano, em comparação ao mesmo período de 2020, a expansão é de 10,1%, saldo que sofreu retração em relação à pesquisa anterior, porém ainda permanece sendo a décima expansão do ano na série que apresentou crescimento sucessivo até julho deste ano. Em relação ao acumulado em 12 meses, o saldo acumulado é de 9,2%, sendo também o décimo resultado positivo no ano.

A Figura 4 facilita uma compreensão mais objetiva na comparação do cenário regional com o nacional, enquanto o país acumula alta de 6,3% no ano em comparação com o mesmo período do ano anterior no estado temos alta de 10,1%, sendo assim Santa Catarina é o décimo primeiro estado com o melhor desempenho neste indicador. Nesta mesma base de comparação apenas o Distrito Federal apresenta saldo negativo de 0,3%, a hegemonia de resultados positivos se deve em virtude da base de comparação considerar os piores meses da crise econômica, como o primeiro trimestre de 2020.

Figura 4 – Variação acumulada em 12 meses do volume de vendas no comércio varejista ampliado para o Brasil e suas Unidades Federativas

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Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

Os resultados setoriais do comércio varejista ampliado de Santa Catarina podem ser observados na Tabela 5, no índice em comparação com outubro de 2020. Dos 10 setores pesquisados, seis apresentaram resultados negativos, reforçando a tendência hegemônica de queda no volume de vendas do comércio catarinense. Cabe ressaltar as acentuadas quedas nos setores de Móveis e Eletrodomésticos (-29,9%), Material de Construção (-16,3%) e Tecidos, Vestuário e Calçados (-9,9%). Entretanto, quatro setores registraram expansão nesta série da pesquisa, sendo eles: Equipamentos e Materiais para Escritório (23,9%), Livros Jornais, Revistas e Papelaria (21%), Artigos farmacêuticos (7,8%) e Veículos, motocicletas, partes e peças (6,1%).

Diante deste cenário, os resultados para o mês de outubro de 2021 expõem o cenário de desaceleração nos setores do comércio catarinense, o saldo negativo era esperado em virtude da alta base de comparação do quarto trimestre de 2020, momento em que foram registrados expansivos crescimentos no volume de vendas. As questões já citadas como o problema inflacionário afetam a recuperação econômica e promovem instabilidade nos dados setoriais.

Tabela 5: Variação mensal em relação ao mesmo mês do ano anterior do volume de vendas no comércio varejista ampliado e suas subdivisões em Santa Catarina (outubro de 2020 a setembro de 2021)

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Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC

Considerações Finais

Por fim, o diagnóstico geral sobre a atividade comercial no Brasil e em Santa Catarina é de uma clara tendência retrativa consolidada a partir do segundo semestre de 2021. A desaceleração econômica, a insolvência do problema do desemprego, o avanço da inflação e a permanência da instabilidade econômica no horizonte são os principais condutores desse cenário negativo para o setor. É a partir desse quadro que se explicam as retrações sucessivas no agregado nacional, que com o dado de outubro alcança o saldo regressivo de -5% no período entre julho e outubro. Da mesma forma é o caso catarinense, que nesse mesmo período acumula retração de -10,8%, evidenciando que as complicações desse segundo semestre têm se abatido de forma ainda mais pungente no contexto estadual.

Em relação a dinâmica dos setores de atividades, é também notório o cenário negativo. Em âmbito nacional, despontam como preocupações os desempenhos dos setores de combustíveis e lubrificantes e móveis e eletrodomésticos, que nos últimos meses obtiveram retrações sucessivas, sem denotar nenhum sinal de reversão tendencial. Em Santa Catarina, além do setor de móveis e eletrodomésticos que também no estado apresenta desempenho negativo, há também retrações consolidadas nas atividades relacionadas ao comércio de materiais de construção e no setor de tecidos, vestuário e calçados, esse último bastante importante para a dinâmica econômica interna de Santa Catarina.

Diante disso, para os próximos meses as expectativas apontam para a continuidade das retrações setoriais e, consequentemente, para a manutenção da instabilidade do volume de vendas, em nível nacional e estadual. Reverter essa tendência que mês após mês se apresenta com força renovada passará pelo enfrentamento dos entraves que hoje atravessam o contexto socioeconômico brasileiro, a saber: inflação, desemprego e queda dos níveis reais de renda da população trabalhadora. Sem essa agenda dificilmente poderá ser estabelecido um retorno sustentado da capacidade de consumo das famílias, o que, por consequência, significa a permanência do ritmo comercial vacilante.

Referências Bibliográficas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal do Comércio. (PMC). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, outubro de 2021.

IEDI – Instituto de Estudos para Desenvolvimento do Setor Industrial. Vendas sem crescimento. Disponível em: https://www.iedi.org.br/artigos/top/analise/analise_iedi_20211208_varejo.html. Outubro de 2021.

CNC – Confederação Nacional do Comércio. Inflação volta a castigar varejo e volume de vendas recua pelo terceiro mês. Disponível em: https://www.portaldocomercio.org.br/publicacoes/analise-cnc-da-pesquisa-mensal-do-comercio-outubro-de-2021/399452. Outubro de 2021.


[1] Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. Email: matheusrosa.contato@outlook.com

[2] Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. Email: guilhermerazzini33@gmail.com

[3] Note-se, ainda, que o setor de hipermercados e supermercados é o setor de atividade mais importante para a dinâmica da atividade comercial, de modo que sua inserção entre os setores com desempenho negativo é sempre um registro preocupante.