Desemprego recua em quatro das seis mesorregiões catarinenses no 2º trimestre de 2023

21/08/2023 09:15

Vicente Loeblein Heinen*

Em maio deste ano, o IBGE incluiu novos indicadores à divulgação de sua principal pesquisa sobre o mercado de trabalho, a PNAD Contínua. A mudança, consolidada em um painel interativo, incluiu indicadores regionais, trazendo dados desagregados para quase todas as mesorregiões de Santa Catarina[1].

Aproveitando-se desses novos indicadores, o objetivo deste texto é analisar a conjuntura do mercado de trabalho catarinense do ponto de vista regional, particularmente no que diz respeito à evolução do desemprego e do nível de ocupação no 2º trimestre de 2023.

Oeste registra menor taxa de desemprego do estado, enquanto Grande Florianópolis e Norte se mantêm com os piores índices

A taxa de desemprego em Santa Catarina ficou em 3,5% no 2º trimestre de 2023, o que representou um recuo de 0,3 ponto percentual em relação ao trimestre anterior, mesmo descontando efeitos sazonais sobre o indicador. Esse movimento se repetiu em quatro mesorregiões: Oeste, Vale do Itajaí, Sul e Serrana, sendo mais intenso nos dois últimos casos, cujos resultados são divulgados de forma agregada, para garantir significância estatística. Por outro lado, houve aumento do desemprego, da ordem de 0,6 ponto percentual, na Grande Florianópolis e no Norte Catarinense.

Tabela 1 – Taxa de desemprego por mesorregião em Santa Catarina

Fonte: PNADC/T (2023); Elaboração do autor.

Na análise interanual, isto é, na comparação com o 2º trimestre de 2022, o desemprego estadual recuou 0,4 ponto percentual. Nessa base de comparação, houve melhora nos indicadores das mesorregiões Oeste, Grande Florianópolis, Sul e Serrana, mas piora no Vale do Itajaí e no Norte. Com isso, o Oeste registrou a menor taxa de desemprego do estado no 2º trimestre de 2023, com 1,9%. Em seguida, aparecem as regiões Sul e Serrana (2,2%, com resultado muito influenciado pelo maior peso da região Sul) e o Vale do Itajaí (3,0%). Contando com as cidades mais populosas do estado, as regiões da Grande Florianópolis e do Norte seguem apresentando os piores índices de desemprego, de 5,8% e 4,7% no 2º trimestre de 2023, respectivamente.

Com exceção do Vale do Itajaí, queda do desemprego se deve à menor participação no mercado de trabalho

A taxa de desemprego é a razão entre a população desocupada (pessoas que não trabalham, mas procuram emprego e estariam disponíveis para assumir uma vaga) e a força de trabalho (que por sua vez é composta pelos próprios desocupados, mais aqueles que estão trabalhando, isto é, os ocupados). Sendo assim, a queda do desemprego pode ocorrer quando as pessoas que estão procurando trabalho conseguem uma vaga, ou quando elas deixam de procurar, saindo, portanto, da força de trabalho. O primeiro movimento reflete, geralmente, um maior dinamismo da atividade econômica, enquanto o segundo pode estar associado a diversos fatores, como a menor expectativa de encontrar trabalho, antecipação de aposentadorias, baixa remuneração do trabalho em comparação com outras fontes de renda, entre outros[2].

O primeiro desses movimentos pode ser identificado no Vale do Itajaí, onde o número de trabalhadores ocupados aumentou em 55 mil no 2º trimestre de 2023, impulsionado pela geração de vagas nos setores de transportes, serviços administrativos e comércio. O resultado dá sequência ao dinamismo observado na região desde 2021. Nos últimos três anos, o Vale do Itajaí foi responsável por cerca de ¾ de todas as ocupações geradas no estado, tendo ampliado sua participação na população ocupada de 24% para 28% ao longo desse período.

Conforme ilustra o Gráfico 1, outras duas regiões tiveram aumento da população ocupada no último trimestre: o Norte e a Grande Florianópolis. No primeiro caso, o incremento foi de 29 mil pessoas, compensando parcialmente as perdas observadas nos trimestres anteriores. Setorialmente, destaque para a abertura de vagas na educação e nas indústrias de eletrodomésticos e de material plástico da região de Joinville. Na Grande Florianópolis, foram geradas 4 mil vagas, as quais se concentraram nos serviços prestados às famílias. No entanto, em nenhuma dessas duas regiões a abertura de vagas foi suficiente para suprir o aumento da procura por trabalho, o que se refletiu em aumento da taxa de desemprego.

Gráfico 1 – População ocupada por mesorregião em Santa Catarina (2019-2023, mil pessoas)

Fonte: PNADC/T (2023); Elaboração do autor.

O dado aparentemente contraditório da conjuntura é que, tanto no Oeste, quanto nas regiões Sul e Serrana, o recuo do desemprego foi acompanhado por queda no número de trabalhadores ocupados. No Oeste Catarinense, 12 mil ocupações foram perdidas, com contribuições negativas dos setores de saúde, construção, indústria e comércio. Também houve perdas importantes na região Serrana, especialmente na indústria madeireira e nas atividades pecuaristas da microrregião dos Campos de Lages. O que explica como foi possível o desemprego ter caído, mesmo com menos gente trabalhando, é que houve, nessas regiões, uma saída ainda maior de pessoas do mercado de trabalho, ou seja, a procura por trabalho diminuiu devido a um aumento da inatividade.

Considerações finais

Os novos indicadores regionais da PNAD Contínua oferecem uma visão mais detalhada do mercado de trabalho catarinense, evidenciando os principais problemas enfrentados em cada região do estado. Conjunturalmente, a análise desses indicadores revela que a queda recente do desemprego no estado tem sido puxada pela forte geração de empregos no Vale do Itajaí, mas também pela intensificação do processo de saída do mercado de trabalho nas demais regiões do estado, em particular no Oeste e na Serra catarinenses.


[*]Economista pela Universidade Federal de Santa Catarina e membro colaborador do Necat/UFSC. E-mail: vicenteheinen@gmail.com.

[1] A exceção são as regiões Sul e Serrana, cujos indicadores são divulgados de forma agregada. Isso ocorre devido aos elevados intervalos de confiança dos dados para essas regiões, particularmente na Serrana, que é a menor do estado em termos populacionais.

[2] Para uma discussão sobre o processo recente de saída da força de trabalho em Santa Catarina, ver capítulo intitulado “Pandemia e trabalho em Santa Catarina: balanço dos impactos da crise da COVID-19 sobre o mercado de trabalho entre 2020 e 2022”, contido no livro “O legado econômico e social da COVID-19 no Brasil e em Santa Catarina”, organizado pelo prof. Lauro Mattei e publicado em 2022.

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