O cenário do mercado de trabalho catarinense no 2º trimestre de 2021

16/09/2021 11:45

Por: Vicente Loeblein Heinen[1] e Lauro Mattei[2]

Recentemente o IBGE divulgou os resultados da PNAD Contínua relativos ao segundo trimestre de 2021. Os principais indicadores dessa pesquisa são construídos com base no conceito de força de trabalho, que é a soma da população ocupada (que estava trabalhando na semana de referência da pesquisa) e desocupada (que não estava trabalhando, mas que procurou trabalho no mês de referência da pesquisa e que estava disponível para assumir uma vaga, caso encontrasse).

Considerando-se que o cenário estadual também é impactado pelas condições macroeconômicas do país, apresenta-se uma breve síntese de situação geral do mercado de trabalho brasileiro, a qual foi fortemente agravada durante a pandemia. Com relação aos dados do segundo trimestre de 2021, nota-se que a população ocupada chegou a 87,8 milhões de pessoas, sendo composta por 65,1% de empregados, 28,3% de pessoas que trabalham por conta própria, 4,3% de empregadores e 2,3% de trabalhadores familiares auxiliares. Com isso, o nível de ocupação do país – que mede a quantidade de pessoas ocupadas em relação às pessoas em idade de trabalhar – passou a ser de 48,4%, sendo que o estado do Mato Grosso apresentou o maior nível (58%), com Santa Catarina em segundo lugar (57,4%).

Quanto à taxa de desocupação, observou-se uma redução de 0,6 ponto percentual entre o primeiro e segundo trimestres de 2021. Com isso, essa taxa passou de 14,7% para 14,1% – o que ainda representa um nível muito elevado na comparação com o período pré-pandemia, quando esse indicador figurava em torno dos 12%. Segundo o IBGE, essa queda foi induzida pelo desempenho das regiões Sudeste e Centro-Oeste do país. Já entre os dez estados com as maiores taxas de desocupação, nove deles se localizavam nas regiões Norte e Nordeste, chamando atenção o caso de Pernambuco, que apresenta o pior nível de desemprego (21,6%) entre todas as unidades da federação.

Outro aspecto importante a ser observado diz respeito às medidas de subutilização da força de trabalho, que podem ser interpretadas como um indicador do desemprego oculto no estado. A PNAD Contínua capta três medidas de subutilização. A primeira delas é propriamente o desemprego tradicional. A segunda é a força de trabalho potencial, que é composta pelas pessoas que desejariam estar trabalhando, mas que não procuram emprego ou estavam temporariamente impossibilitadas de assumir uma vaga de trabalho. A terceira é a subocupação por insuficiência de horas trabalhadas, que abrange as pessoas que necessitariam trabalhar mais horas do que trabalham atualmente.

No segundo trimestre de 2021 esse indicador foi de 28,6%, totalizando 32,2 milhões de pessoas. Essa taxa é extremamente heterogênea entre as regiões do país, indo de 41,7% no Nordeste a 16,4% no Sul. Dentre as unidades com as maiores taxas, destacam-se o estado do Piauí (46,6%) e do Maranhão (46,3%). Já na ponta oposta, encontram-se os estado do Mato Grosso (15%) e de Santa Catarina, com a menor taxa de todo o país (10,9%).

A PNAD Contínua revelou, ainda, que existiam no país 5,6 milhões de pessoas classificadas como desalentadas, sendo que 19,7% delas estavam no Maranhão; 16,5% em Alagoas e 12,8% no estado da Bahia. Já os menores percentuais se localizavam nos estados do Mato Grosso (1,3%), Rio Grande do Sul (1,3%) e Santa Catarina (0,9%).

Por fim, a última pesquisa revelou que a taxa de informalidade da população ocupada no país foi de 40,6%, porém com estados atingindo a marca dos 60%, como foram os casos do Pará e do Maranhão. Esse cenário reflete as tendências históricas da incidência do trabalho informal no território nacional, que é historicamente mais elevada nas regiões Norte e Nordeste, e relativamente menor na região Sul. Neste caso particular, destaca-se o estado de Santa Catarina, com percentual de 26,9%, a menor taxa de informalidade do país.

Notas gerais sobre as tendências de emprego e desemprego em Santa Catarina

Os dados recentes indicam uma aceleração da retomada do mercado de trabalho de Santa Catarina no 2º trimestre de 2021. Entretanto, essa afirmação deve ser interpretada com certa cautela, pois não significa que o estado já recuperou todas as perdas ocorridas em 2020, em decorrência da crise da Covid-19. Nesse sentido, o Gráfico 1 apresenta o comportamento de alguns desses indicadores para Santa Catarina nos últimos dois anos.

Gráfico 1 – Crescimento trimestral da população ocupada, desocupada e da força de trabalho (2019-2021, mil pessoas).

g1

Fonte: PNADC/T (2021); Elaboração própria.

Inicialmente, nota-se que o estado sofreu uma forte perda de postos de trabalho nos três primeiros trimestres de 2020 (-270 mil ao todo). Após esse período, teve início o processo de recuperação da população ocupada, que registrou saldo positivo no 4º trimestre de 2020 (48 mil), uma queda meramente sazonal no 1º trimestre de 2021 (-36 mil) e um novo crescimento no 2º trimestre (107 mil ocupações)[3]. Com isso, de fato há uma aceleração na retomada do emprego no estado, todavia é importante destacar que ela ainda não é completa, uma vez que o número de catarinenses ocupados no 2º trimestre de 2021 (3,542 milhões de pessoas) ainda é inferior ao nível atingido no mesmo trimestre de 2019 (3,608 milhões), ou seja, antes da pandemia.

Em grande medida, esse déficit de ocupações se deve à lentidão com que a população que saiu da força de trabalho na fase inicial da pandemia tem retornado a ela. Embora aproximadamente 100 mil catarinenses tenham feito esse retorno (voltando a trabalhar ou a procurar emprego) no último trimestre, o mercado de trabalho estadual ainda conta com 80 mil pessoas a menos da quantidade existente antes da pandemia.

Diversos estudos já publicados no Blog do NECAT levantaram hipóteses para esse fenômeno, dentre as quais podemos destacar: a escassez de vagas adequadas disponíveis, o temor pela situação sanitária, afastamentos provisórios do emprego habitual e, especialmente no caso das mulheres, a necessidade de cuidar de afazeres domésticos[4]. Associado a isso, é possível que as mudanças na forma de captação da PNAD Contínua durante a pandemia tenham provocado algumas distorções nesse indicador[5].

Seja qual for a razão pela qual o mercado de trabalho catarinense tenha se encolhido tanto, o fato é que isso contribuiu para manter a taxa de desemprego relativamente baixa ao longo de 2020, uma vez que menos pessoas realizaram busca efetiva por trabalho. Já em 2021, o que se observa é que a população que voltou ao mercado de trabalho de fato encontrou emprego, de modo que o número de desempregados permaneceu praticamente constante. Dessa forma, a taxa de desemprego estadual ficou em 5,8% no 2º trimestre de 2021, registrando queda de 0,4 pontos percentuais (p.p.) em relação ao trimestre anterior e de 1,1 p.p. na comparação com o mesmo período de 2020, quando a crise da Covid-19 atingia seu auge. Essa dinâmica é ilustrada pelo Gráfico 2, que relaciona a evolução da taxa de desemprego e da taxa de participação na força de trabalho em Santa Catarina[6].

Gráfico 2 – Evolução da taxa de desocupação e da taxa de participação na força de trabalho (2014-2021, em %).

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Fonte: PNADC/T (2021); Elaboração própria.

De acordo com os dados contidos no Gráfico 3, a retomada do emprego observada no 2º trimestre de 2021 foi acompanhada por um recuo da subutilização da força de trabalho, da ordem de 42 mil pessoas. Esse resultado se deve à incorporação de 9 mil desocupados, 28 mil pessoas que se encontravam na força de trabalho potencial e 5 mil subocupados.

Gráfico 3 – Crescimento trimestral da população subutilizada, por medida de subutilização (2019-2021, mil pessoas).

g3

Fonte: PNADC/T (2021); Elaboração própria.

Com tais resultados, a taxa de subutilização da força de trabalho estadual voltou aos patamares prévios à pandemia, abrangendo 10,9% da força de trabalho ampliada[7]. Em que pese essa redução, vale destacar que Santa Catarina ainda conta com 219 mil desempregados, 96 mil subocupados e 94 mil pessoas na força de trabalho potencial, sendo 34 mil delas desalentadas (quando o motivo para a não procura por trabalho é a falta de perspectiva em encontrá-lo)[8], conforme demonstra o Organograma 1.

Organograma 1 – Fluxos do mercado de trabalho de Santa Catarina (2º trimestre de 2021).

g4

Fonte: PNADC/T (2021); Elaboração própria.

Nota: Números entre parênteses indicam a variação absoluta do indicador com relação ao 1º trimestre de 2021.

Considerações Finais

No âmbito geral do mercado de trabalho catarinense, atualmente destaca-se o desempenho de alguns indicadores. Do ponto de vista do nível de ocupação, nota-se que o estado detém a segunda maior taxa do país, com 57,4%, sendo que para o conjunto do país esse percentual é da ordem de 48,4%. Após atingir 7% em meados de 2020, a taxa de desemprego estadual fechou o quarto trimestre do referido ano em patamares inferiores aos de 2019, com 5,3%. No no primeiro trimestre de 2021, essa taxa sofreu uma pequena aceleração, porém se estabilizando em 5,8% no trimestre seguinte. Diante da elevada taxa de desocupação do país (14,1%), o cenário catarinense do emprego pode ser considerado relativamente baixo, embora sujeito aos impactos da crise econômica em curso no país.

Por fim, Santa Catarina conta historicamente com as menores taxas de informalidade dentre todas as unidades da federação, cenário que se manteve ao final do primeiro semestre de 2021. Neste caso, nota-se que, enquanto o Brasil detém um percentual de 40,6% da força de trabalho ocupada na informalidade, o estado apresenta um percentual de 26,9%.


[1] Estudante de Economia da UFSC e bolsista do Necat/UFSC. E-mail: vicenteheinen@gmail.com.

[2] Professor titular do curso de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador geral do Necat/UFSC e pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. E-mail: l.mattei@ufsc.br.

[3] Considerando a série histórica com ajustes sazonais, a população ocupada fica praticamente estagnada no 4º trimestre de 2020, mas tem saldos positivos já a partir do 1º trimestre de 2021.

[4] HEINEN, V. L.; MATTEI, L. Mesmo com baixo desemprego, Santa Catarina perdeu 220 mil postos de trabalho em 2020: como isso foi possível? 2021.

[5] Em decorrência da pandemia, as entrevistas da PNAD Contínua passaram a ser realizadas por telefone a partir do 2º trimestre de 2020. Estudos recentes têm sugerido que isso modificou a composição da amostra da pesquisa, podendo subestimar o tamanho da força de trabalho. Sobre isso, ver CORSEUIL, C; RUSSO, F. A redução no número de entrevistas na PNAD Contínua durante a pandemia e sua influência para a evolução do emprego formal. Carta de Conjuntura, IPEA n. 50, 2021.

[6] A taxa de desemprego corresponde ao percentual da força de trabalho que se encontra desocupada. A taxa de participação na força de trabalho corresponde à parcela da população em idade ativa (14 ou mais anos de idade) que se encontra na força de trabalho, isto é, ocupada ou desocupada.

[7] A força de trabalho ampliada é a soma da população na força de trabalho e na força de trabalho potencial.

[8] O IBGE classifica como desalentadas as pessoas que desejariam trabalhar, mas que estavam fora da força de trabalho por um dos seguintes motivos: não conseguir trabalho; não possuir experiência; ser muito jovem ou muito idoso/a; ou não encontrar trabalho na localidade. Os desalentados são um subgrupo da força de trabalho potencial.