O mercado de trabalho catarinense ao final do terceiro trimestre de 2021

17/12/2021 20:10

Por: Lauro Mattei[1] e Victor Hugo Azevedo Nass[2]

Breves notas sobre o cenário geral do emprego no país

Ao final de novembro/21 o IBGE divulgou os resultados da PNAD Contínua relativa ao terceiro trimestre de 2021. Os principais indicadores desse instrumento estatístico são construídos com base no conceito de força de trabalho, que é a soma da população ocupada (que estava trabalhando na semana de referência da pesquisa) e desocupada (que não estava trabalhando, mas que procurou trabalho no mês de referência da pesquisa e que estava disponível para assumir uma vaga, caso encontrasse).

Considerando-se que o mercado de trabalho de Santa Catarina continua sendo impactado pelos movimentos gerais da economia do país, apresenta-se inicialmente uma breve síntese de situação geral do mercado de trabalho brasileiro em tempos de pandemia.  Em primeiro lugar, se constata que a taxa de desocupação sofreu uma queda de 1,6 ponto percentuais em relação ao segundo trimestre de 2021, passando de 14,2% (Trimestre anterior) para 12,6% (3º Trimestre/21). Em termos absolutos, isso significou a existência de 13,5 milhões de pessoas desocupadas.

Espacialmente, observou-se uma redução de tal taxa em 20 das 27 Unidades da Federação (UFs) pesquisadas, sendo que as maiores taxas foram verificadas em PE (19,3%), BA (18,7%), AP (17,5%) e AL (17,1%).  Já as menores taxas de desocupação foram registradas em SC (5,3%), MT (6,6%) e MS (7,6%). Todavia, quando essas informações são cruzadas por gênero e raça, as disparidades se tornam bastantes expressivas no conjunto do país. Enquanto a taxa de desocupação para os homens foi de 10,1%, para as mulheres atingiu o patamar de 15,9%. Já em relação à raça, essa taxa dos brancos foi de 10,3% e a dos pretos 15,8%.

A PNAD Contínua revelou, ainda, que mais de 5 milhões de pessoas foram classificadas como desalentadas (desistiram de procurar emprego), o que correspondia a 4,6% dessa categoria no total da Força de Trabalho. Os maiores percentuais se encontravam no Maranhão (17,6%) e em Alagoas (15,1%). Já os menores percentuais se localizavam nos estados de Santa Catarina (0,7%) e Mato Grosso (1,2%).

A taxa de informalidade da população ocupada no âmbito do país foi de 40,6%, sendo que as maiores taxas foram registradas nos estados do Pará (62,2%), Amazonas (59,6%) e Maranhão (59,3%), destacando-se que essas unidades da federação vêm se mantendo com percentuais bastante elevados. Já as menores taxas foram auferidas nos estados de Santa Catarina (26,6%), São Paulo (30,6%) e Distrito Federal (31,8%).

Por fim, nota-se que houve um aumento de 4,0% da população ocupada, a qual chegou a 93 milhões de pessoas. Com isso, o nível de ocupação do país – que mede a quantidade de pessoas ocupadas em relação às pessoas em idade de trabalhar – passou a ser de 54,1%, um aumento de 2% em relação ao trimestre imediatamente anterior.

O mercado de trabalho em Santa Catarina no 3º Trimestre de 2021

Os dados do 2º trimestre de 2021 já tinham revelado uma retomada consistente do mercado de trabalho catarinense[3]. Depois de sofrer a expressiva perda de postos de trabalho no primeiro ano da pandemia, durante o ano de 2021 o estado foi recuperando gradualmente as vagas perdidas, conforme é mostrado por meio da Tabela 1, que destaca o comportamento desses indicadores em Santa Catarina nos últimos dois anos. Inicialmente é importante registrar que houve uma variação positiva da ordem de 1,3% no terceiro trimestre de 2021 em relação ao trimestre imediatamente anterior, implicando em uma expansão de 48 mil empregos. Em consequência, a população desocupada caiu 9,2% em relação ao trimestre anterior, sendo que essa redução significou, em termos absolutos, 21 mil desocupados a menos no estado.

Tabela 1 – Estoque e variações da força de trabalho em SC (2019-2021, mil pessoas)

T1

Fonte: PNADC/T (2021). Elaboração dos autores.

Quando se compara os últimos doze meses (3º trimestre de 2020 com idêntico trimestre de 2021) nota-se que nesse intervalo ocorreu um crescimento de 5,3% no total dos postos de trabalho, implicando em um número absoluto de 186 mil empregos. Todavia, destaca-se que essa aceleração está em curso desde o primeiro trimestre do corrente ano, porém com maior fôlego nos últimos dois trimestres. Isso fez com que o número de desocupados caísse 18,2%, o que corresponde a 46 mil pessoas que deixaram a condição de desocupados.

De uma maneira geral, essas informações mostram que a população que retornou ao mercado de trabalho durante o ano de 2021 de fato está encontrando emprego, fato que corrobora para que Santa Catarina detenha no momento uma das menores taxas de desemprego do país (5,3%). De alguma forma, esse processo de recuperação do mercado do trabalho catarinense está disposto no Gráfico 1, que apresenta a evolução, tanto da taxa de desocupação como da taxa de participação na força de trabalho[4]. É importante verificar que a taxa de participação na força de trabalho no 3º trimestre de 2021 retornou ao mesmo patamar anterior ao início da pandemia, ou seja, ao início de 2020. Todavia, quando se compara a situação atual com o ano de 2019, nota-se que ainda existe uma defasagem considerável da taxa de participação na força de trabalho.

Gráfico 1 – Evolução da taxa de desocupação e da taxa de participação na força de trabalho (2019-2021, em %).

G1

Fonte: PNADC/T (2021). Elaboração dos autores.

Outro aspecto importante a ser observado quanto ao processo de recuperação do mercado de trabalho catarinense diz respeito às medidas de subutilização da força de trabalho, que podem ser interpretadas como um indicador do desemprego oculto no estado. A PNAD Contínua capta três medidas de subutilização. A primeira delas é o desemprego tradicional propriamente dito. A segunda é a força de trabalho potencial, que é composta pelas pessoas que desejariam estar trabalhando, mas que não procuraram emprego ou estavam temporariamente impossibilitadas de assumir uma vaga de trabalho. A terceira é a subocupação por insuficiência de horas trabalhadas, que abrange as pessoas que necessitariam trabalhar mais horas do que trabalham atualmente.

De acordo com os dados contidos na Tabela 2, a retomada do emprego observada no 3º trimestre de 2021 foi acompanhada por um recuo da subutilização da força de trabalho, da ordem de 21 mil pessoas, comparativamente ao trimestre imediatamente anterior. Esse resultado se deve à incorporação de 21 mil desocupados e 10 mil subocupados, além das 10 mil pessoas que entraram na força de trabalho potencial.

Tabela 2 – Saldos e variações das medidas de subutilização da força de trabalho (2020-2021, mil pessoas)

T2

Fonte: PNADC/T (2021); Elaboração própria.

Quando se compara o trimestre atual ao mesmo trimestre do ano anterior, verifica-se que ocorreu uma redução da subutilização da força de trabalho da ordem de 101 mil pessoas, ou seja, uma variação negativa da ordem de 20,2%. Tal fato decorreu da incorporação de 46 mil pessoas desocupadas, sendo que os subocupados permaneceram no mesmo patamar.

Com tais resultados, a taxa de subutilização da força de trabalho estadual voltou aos patamares prévios à pandemia, abrangendo 9,9% da força de trabalho ampliada[5]. Em que pese essa redução, vale destacar que Santa Catarina ainda conta com 207 mil desempregados, 88 mil subocupados e 103 mil pessoas na força de trabalho potencial, sendo 29 mil delas desalentadas (quando o motivo para a não procura por trabalho é a falta de perspectiva em encontrá-lo)[6], conforme demonstra o Organograma 1.

Organograma 1 – Fluxos do mercado de trabalho de Santa Catarina (3º trimestre de 2021).

O1

Fonte: PNADC/T (2021); Elaboração própria.

Nota: Números entre parênteses indicam a variação absoluta do indicador com relação ao 2º trimestre de 2021.

Considerações Finais

No âmbito geral do mercado de trabalho catarinense destacam-se, atualmente, o desempenho de alguns indicadores. Do ponto de vista do nível de ocupação, nota-se que das 5,9 milhões de pessoas em idade de trabalhar, 3,7 milhões estavam ocupadas. Isso indica uma recuperação acelerada do mercado de trabalho catarinense no ano de 2021, especialmente nos dois últimos trimestres.

Em grande medida, esse movimento está causando efeitos positivos sobre a taxa de desocupação, uma vez que esta caiu 9,2% em relação ao trimestre anterior; 18,2% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior e 8,8% em relação ao início da pandemia. Com isso, a população desocupada ao final do terceiro trimestre de 2021 estava estimada em 207 mil pessoas, uma redução de mais de 21 mil pessoas em relação ao segundo trimestre do mesmo ano. Diante da elevada taxa de desocupação do país (12,6%), o cenário catarinense do emprego pode ser considerado relativamente confortável, embora sujeito aos efeitos perversos da crise econômica em curso no país.

Por fim, destaca-se que Santa Catarina vem se mantendo com as menores taxas de informalidade dentre todas as unidades da federação, fato que voltou a se repetir ao final do terceiro trimestre de 2021. Neste caso, nota-se que, enquanto o Brasil detém um percentual de 40,6% da força de trabalho ocupada na informalidade, o estado apresenta o menor percentual (26,6%) dentre todas as unidades da federação.


[1] Professor titular do curso de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador geral do Necat/UFSC e pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. E-mail: l.mattei@ufsc.br.

[2] Estudante de Economia da UFSC e bolsista do Necat/UFSC. E-mail: victorhugonass@gmail.com.

[3] Vide artigo de Heinen, V. L.; Mattei, L. O cenário do mercado de trabalho catarinense ao final do 2º trimestre de 2021. www.necat.ufsc.br/blog

[4] A taxa de desemprego corresponde ao percentual da força de trabalho que se encontra desocupada. Já a taxa de participação na força de trabalho corresponde à parcela da população em idade ativa (14 ou mais anos de idade) que se encontra na força de trabalho, isto é, ocupada ou desocupada.

[5] A força de trabalho ampliada é a soma da população na força de trabalho e na força de trabalho potencial.

[6] O IBGE classifica como desalentadas as pessoas que desejariam trabalhar, mas que estavam fora da força de trabalho por um dos seguintes motivos: não conseguir trabalho; não possuir experiência; ser muito jovem ou muito idoso/a; ou não encontrar trabalho na localidade. Os desalentados são um subgrupo da força de trabalho potencial.

Tags: mercado de trabalho