Taxa de desemprego de Santa Catarina registra estabilidade no 3º trimestre de 2023

14/12/2023 19:29

Pedro Henrique Batista Otero*

Joana Lara Fernandes Feller**

O IBGE divulgou recentemente os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua referentes ao 3º trimestre de 2023, os quais trazem atualizações importantes sobre a conjuntura do mercado de trabalho. A partir de tais dados, o objetivo deste texto é analisar a evolução dos níveis de ocupação e de desemprego em Santa Catarina, à luz do cenário nacional.

Desemprego segue em queda no Brasil

No Brasil, a taxa de desemprego recuou para 7,7% no 3º trimestre de 2023, conforme ilustra a Tabela 1. Tal resultado representa uma queda de 0,3 p.p. com relação ao trimestre imediatamente anterior, na série livre de efeitos sazonais. Já na comparação interanual (relacionada ao mesmo trimestre do ano anterior), houve um recuo de 1 p.p. nesse indicador.

Tabela 1 – Força de trabalho e seus indicadores (Brasil, 3º trim/23, mil pessoas)

Fonte: PNADC/T (2023); Elaboração: Necat/UFSC

Na análise trimestral, a queda do desemprego esteve associada à geração de novas vagas de trabalho, absorvendo as pessoas que estavam procurando emprego. Nesse cenário, houve um saldo de cerca de 600 mil pessoas ocupadas, o que levou a taxa de desemprego ao patamar de 7,7% no 3º trim/23. Esses dados refletem a tendência do crescimento da economia brasileira em 2023, que se concentrou em setores intensivos em trabalho, com destaque aos serviços prestados às famílias[1]. O resultado do trimestre difere da tendência observada nos trimestres anteriores, em que a queda do desemprego estava associada a uma menor procura por trabalho. Na análise interanual 1,1 milhão de pessoas deixaram a condição de desemprego, mas somente 569 mil foram incorporadas em novas ocupações.

Dessa forma, a taxa de participação na força de trabalho ficou em 61,8%, voltando a crescer após quatro trimestres consecutivos de queda. Apesar disso, esse indicador segue abaixo do patamar do mesmo período de 2022 (62,1%) e do pré-pandemia (63,6%), refletindo mudanças nas fontes de renda, no perfil ocupacional e nos hábitos causadas pela crise da Covid-19[2].

A força de trabalho potencial[3] também segue sendo enxugada, tendo uma redução de 1,3 milhão de pessoas comparado ao mesmo trimestre de 2022. Neste período, a subocupação por insuficiência de horas também apresentou queda, da ordem de 869 mil pessoas, em decorrência de uma diminuição da ociosidade da economia, mas também do processo de saída da força de trabalho dos trabalhadores mais precarizados, no que o aumento permanente do nível de transferências de renda jogou um papel fundamental. Com isso, a taxa de subutilização da força de trabalho (junção dessas três medidas) recuou para 17,6% no trimestre, uma redução de 2,5 p.p. em relação ao mesmo período de 2022.

Desemprego fica estável em Santa Catarina, mas participação no mercado de trabalho melhora

A taxa de desemprego catarinense ficou em 3,5% no 3º trimestre de 2023, registrando estagnação em relação ao trimestre anterior, na série dessazonalizada. Esse valor representa o patamar mais baixo de desemprego no estado desde 2014. Na comparação com o mesmo período de 2022, houve recuo de 0,2 p.p. A evolução histórica da dinâmica do desemprego é ilustrada pelo Gráfico 1.

Gráfico 1 – Taxa de desocupação (Santa Catarina, 2014-2023)

Fonte: PNADC/T (2023); Elaboração: Necat/UFSC

A exemplo do que ocorreu no restante do país, no estado também houve uma expansão da população ocupada no 3º trimestre, conforme ilustra a Tabela 2. Descontados os efeitos sazonais, foram geradas 45 mil novas ocupações em relação ao trimestre anterior. Já na comparação interanual, o crescimento foi de 1%. Mesmo com o aumento do emprego, houve recuo de 0,4 p.p. no nível da ocupação (65,3%), uma vez que o número de ocupações geradas não foi suficiente para absorver o crescimento da população em idade ativa.

Tabela 2 – Força de trabalho e seus indicadores (Santa Catarina, 3º trim/23, mil pessoas)

Fonte: PNADC/T (2023); Elaboração: Necat/UFSC

No que diz respeito à força de trabalho, a variação trimestral foi de 1,3%, o que reverteu a tendência de queda da taxa de participação no mercado de trabalho observada desde meados de 2022.  Mesmo com o crescimento da força de trabalho no trimestre, a taxa de participação caiu em 2 p.p. no recorte interanual, chegando a 65,3% no 3º trim/23.

De acordo com os dados contidos na Tabela 3, a queda do desemprego observada no 3º trimestre de 2023 foi acompanhada por um recuo das demais medidas de subutilização da força de trabalho. Na análise interanual, houve diminuição de 9 mil subocupados e de  12 mil pessoas na força de trabalho potencial. No caso particular do desalento (quando o motivo da não procura por trabalho é a falta de perspectiva em encontrar) a queda foi de 7 mil pessoas, retomando a tendência de queda nesse indicador.

Tabela 3 – Medidas de subutilização da força de trabalho (Santa Catarina, 3º trim/23, mil pessoas)

Fonte: PNADC/T (2023); Elaboração: Necat/UFSC

Com tais resultados, a taxa de subutilização da força de trabalho estadual atingiu o menor patamar desde 2014, em 6,1%. Em que pese essa redução, vale destacar que Santa Catarina ainda conta com 147 mil desempregados, 55 mil subocupados e 53 mil pessoas na força de trabalho potencial, sendo 14 mil delas desalentadas, conforme demonstra a Figura 1.

Figura 1 – Fluxos do mercado de trabalho (Santa Catarina, 3º trim/23 e variação vs. 3º trim/22)

Fonte: PNADC/T (2023); Elaboração: Necat/UFSC

Nota: Valores entre parênteses indicam variação absoluta em relação ao mesmo período do ano anterior.

Considerações finais

No Brasil, a queda do desemprego no recorte trimestral esteve associada à geração de novas vagas de trabalho, absorvendo as pessoas que estavam à procura de trabalho. Esse processo reflete o crescimento da economia brasileira em 2023, com ênfase em setores intensivos em trabalho. O resultado difere da tendência observada nos trimestres anteriores, em que a queda do desemprego estava associada a uma menor procura por trabalho, ou seja, um processo de saída do mercado de trabalho.

Já em Santa Catarina, a taxa de desemprego registrou estagnação em relação ao trimestre anterior, na série dessazonalizada. A taxa ficou em 3,5%, representando o patamar mais baixo de desemprego no estado desde 2014. A população ocupada cresceu no trimestre, porém o número de ocupações geradas não foi suficiente para absorver o crescimento da população em idade ativa, resultando em queda no nível da ocupação. Além disso, mesmo que a força de trabalho tenha se ampliado no trimestre, esse resultado não reverteu a tendência de queda da taxa de participação no mercado de trabalho observada desde meados de 2022.


*  Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. E-mail: phbo2000@gmail.com

** Graduanda em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. E-mail: joanalarafernandesfeller@gmail.com.

[1] De acordo com as Contas Nacionais, o consumo das famílias foi o principal componente do PIB em 2023, com crescimento de 3,4% no acumulado até o 3º trimestre do ano.

[2]  Para uma discussão inicial sobre o tema, ver artigo publicado no blog do IBRE/FGV.

[3] A força de trabalho potencial é composta pelas pessoas que não procuraram emprego, embora necessitassem trabalhar, ou procuraram, mas não puderam assumir no período de referência.

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