Emprego formal em Santa Catarina: comércio e serviços compensam perdas da indústria em novembro

10/02/2022 10:27

Por: Victor Hugo Azevedo Nass[1]

Dando sequência aos acompanhamentos mensais publicados no blog do Necat, o objetivo deste texto é analisar o comportamento do mercado formal de trabalho do Brasil e de Santa Catarina em novembro de 2021, a partir dos resultados do Novo CAGED[2]. Para isso, serão analisados os saldos mensais e as variações relativas do emprego formal por grupamento de atividade econômica, gênero, escolaridade, faixa de remuneração e mesorregião geográfica.

De acordo com a Tabela 1, em novembro o Brasil apresentou saldo positivo de 324 mil vínculos formais de trabalho. Já Santa Catarina teve saldo de 17,8 mil novos vínculos.  Ambas as regiões registraram uma alta de 0,8% no mês.

Tabela 1 – Evolução mensal de estoque, admissões, desligamentos, saldo e variação percentual (Brasil e Santa Catarina, dezembro de 2020 a novembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

No acumulado de 12 meses[3], continua havendo uma reverberação das diferenças que o reprocessamento de toda a base de dados do Novo Caged causou, onde foram achatados os saldos e estoques passados[4]. Contando com tal redução na base de comparação, o Brasil gerou 2,8 milhões de novos postos formais de trabalho, o que representa uma variação anual de 8,4% no estoque nacional. O mercado formal de trabalho catarinense seguiu as tendências nacionais durante todo o período analisado, todavia com um ritmo de geração de vagas mais intenso. O estado acumulou uma variação de 10,4% no último ano, com saldo de 189 mil vagas. Esses dados mostram uma expressiva expansão do emprego formal no estado no último ano, para além dos níveis pré-pandemia.

Evolução do emprego formal no Brasil

Conforme os dados contidos na Tabela 2, os serviços ficaram mais uma vez com o melhor desempenho no país em novembro, com saldo de 180 mil vínculos e crescimento de 0,9%. Esse resultado se deve em grande medida ao avanço da vacinação que potencializa as contratações nos segmentos que dependiam da circulação de pessoas. Exemplos disso são as atividades administrativas e serviços complementares e o subsetor de alojamento e alimentação, que tiveram saldos de 72 mil e 36 mil vínculos formais de trabalho em novembro, respectivamente. Apesar do desempenho mensal, vale destacar que o setor de serviços tem o segundo menor crescimento anual entre os setores, de 6,9%, ficando à frente apenas da indústria.

Tabela 2 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Brasil, novembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

O setor de comércio gerou 139 mil vínculos formais de trabalho em novembro, o que representou um crescimento de 1,4%. Esse resultado foi fortemente influenciado pelos subsetores do comércio varejista de vestuário e acessórios (26.302) e super e hipermercados (24.699). No acumulado de um ano, o comércio registrou crescimento de 7,4%.

O setor de construção continua obtendo o melhor desempenho relativo no acumulado em 12 meses, com crescimento de 11,4%. Seu saldo em novembro foi de 12,5 mil vínculos, o que corresponde a uma alta de 0,5%. Com o aumento da taxa básica de juros (que encarece o custo de novos investimentos imobiliários), é perceptível que o ritmo de crescimento do setor vem arrefecendo desde setembro (quando registrou crescimento de 1%).

Prejudicada pela escassez e elevado preço de insumos, bem como pela desaceleração da demanda, a indústria criou apenas 8 mil postos de trabalho formais em novembro, um terço do que tinha gerado em outubro. No mês, os subsetores destacados são os de: manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (4.698); fabricação de máquinas e equipamentos (2.259); e confecção de artigos do vestuário e acessórios (1.913). Tomado em seu conjunto, o crescimento do setor industrial foi de 0,1% no mês, e de 6,8% no acumulado em 12  meses.

A agropecuária obteve saldo negativo de 16,7 mil vagas no mês, registrando um decrescimento de 0,9%, o que representa o pior resultado relativo dentre todos os setores. Os destaques negativos foram o cultivo de cana-de-açúcar (-5.709) e atividades de apoio à agricultura (-5.054). No período de 12 meses, o setor agropecuário registrou crescimento de 8,3%.

A Tabela 3 apresenta o saldo de vínculos formais de trabalho por sexo no Brasil. O resultado de novembro contou com maior participação de mulheres, que tiveram saldo de 197 mil vagas, contra 126 mil vagas masculinas. Isso porque as mulheres foram favorecidas com a retomada das contratações  nos setores de serviços, comércio e indústria vestuária, enquanto a queda na agricultura foi concentrada em postos de trabalho masculinos . Todavia, no acumulado de 12 meses a situação é diferente, com o sexo masculino liderando o saldo de novas vagas, com uma diferença de 165,7 mil postos.

Tabela 3 – Saldo por sexo (Brasil, novembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 4 apresenta a distribuição do emprego formal por nível de escolaridade. Em novembro, aproximadamente 80% dos postos formais de trabalho criados foram ocupados por pessoas que têm ensino médio completo (262.672 vagas). Embora em muito menor medida, outros níveis de escolaridade que obtiveram crescimento considerável foram o de ensino médio incompleto (24.068) e o ensino superior completo (21.208 vagas). No acumulado de 12 meses, é notável que a expansão do emprego foi puxada principalmente por vagas para ensino médio completo (2.123.619 novos vínculos).

Tabela 4 – Saldo por nível de escolaridade (Brasil, novembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 5 apresenta a distribuição do emprego formal por faixa de remuneração. Em novembro, foram criadas 289 mil vagas com remuneração entre 1 a 2 salários mínimos, o que corresponde a quase 90% do saldo mensal. O segundo maior saldo por faixa salarial foi a de 2 a 3 salários mínimos (24.457 vagas), que representou somente 7,5% do saldo de novembro. A faixa de meio a um salário mínimo continua sua tendência de queda, com perda de 24 mil postos formais de trabalho no mês. Em relação ao acumulado de 12 meses, observa-se que a faixa entre 1 e 2 salários mínimos representou quase a totalidade das vagas geradas (2,8 milhões), revelando uma forte concentração do emprego formal nessa faixa salarial.

Tabela 5 – Saldo por faixa de remuneração (Brasil, novembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

Nota: Faixas de remuneração em salários mínimos de 2021 (R$ 1.100).

Evolução do emprego formal em Santa Catarina

Em novembro, os serviços mais uma vez apresentaram o maior saldo mensal no emprego formal do estado, com 9 mil novas vagas e variação de 0,9%. E os subsetores mais importantes para esse resultado mensal foram: atividades administrativas e serviços complementares (2.505 vagas), alojamento e alimentação (2.715 vagas); e transporte, armazenagem e correio (867 vagas). No acumulado de 12 meses,  o setor fechou com um crescimento de 9,6%.

 Tabela 6 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Santa Catarina, novembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

 O comércio criou 8 mil vagas, chegando a um crescimento de 1,7%. Os subsetores que mais se destacaram foram o de  hiper e supermercados (1.976 vínculos) e comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios (1.210). Beneficiado pela retomada da circulação de pessoas e pelas vendas de final de ano, o setor praticamente dobrou o saldo de vagas gerado a cada mês entre setembro e novembro, o que contribuiu para ter registrado crescimento de 8,3% no acumulado de 12 meses.

Já a agropecuária criou apenas 274 novas vagas no mês, ou seja, teve um crescimento praticamente nulo. No ano, o setor apresentou o menor crescimento entre os setores (3,8%).

De forma semelhante, a construção cresceu somente 0,5% neste mês, com um saldo de apenas 194 vínculos. A exemplo do que ocorre no restante do país, esse resultado reflete uma desaceleração do setor, prejudicado pela retirada dos estímulos monetários. Tal cenário contrasta enormemente com o que se observou no restante do ano, quando as baixas taxas de juros praticadas fizeram com que o emprego formal no setor crescesse a uma taxa de 13,0%, o que ainda representa o melhor desempenho setorial em termos relativos.

Outro setor que se encontra em desaceleração é a indústria. Após apresentar resultados fracos em outubro (2,5 mil vagas, sendo que entre julho e setembro seu saldo variou entre 4 e 6 mil ), em novembro o setor migrou para o campo negativo, perdendo 67 vagas. As maiores perdas se deram nos subsetores de: fabricação de produtos têxteis (-395); confecção de artigos do vestuário e acessórios (-233 vagas); fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-227 vagas); e fabricação de móveis (-116). Já os positivos ficaram por conta da fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias (166 vagas) e da fabricação de produtos do fumo (153 vagas). Em relação ao acumulado em 12 meses, o setor apresentou alta de 8,3%.

Conforme a Tabela 7, das quase 18 mil vagas abertas em novembro, 10,8 mil foram ocupadas por mulheres e 7 mil por homens. As mulheres tiveram novamente um saldo maior, principalmente pelas contratações nos subsetores de: alojamento e alimentação; atividades administrativas e serviços complementares; e comércio. No acumulado anual as mulheres também registram um saldo maior que os homens, com alta de 100,3 mil vagas, face às 88,6 mil vagas masculinas.

Tabela 7 – Saldo por sexo (Santa Catarina, novembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

Conforme indicam os dados contidos na Tabela 8, mais de 2/3 dos empregos formais gerados em novembro de 2021 foram ocupados por trabalhadores com ensino médio completo (12.302). O segundo maior saldo é o da faixa de ensino médio incompleto, com 1.999 vagas. No acumulado de 12 meses, segue a tendência de concentração do emprego na faixa de ensino médio completo, cujo saldo de mais de 118 mil vínculos representa cerca de 60% do total de vagas geradas no período. Em seguida, aparece a faixa de ensino médio incompleto (26 mil vagas), com 12% do agregado.

Tabela 8 – Saldo por nível de escolaridade (Santa Catarina, novembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 9 apresenta a distribuição do emprego formal por faixa de remuneração. Em novembro, 13,8 mil vagas formais foram criadas na faixa entre 1 e 2 salários mínimos, que concentrou mais de 3/4 do saldo mensal. Na sequência, a faixa de 2 a 3 salários mínimos foi a segunda com maior saldo (2,3 mil vagas), todavia representando apenas 13% do saldo mensal. No acumulado de 12 meses, percebe-se que Santa Catarina tem um comportamento muito similar ao visto nacionalmente, com um crescimento das vagas extremamente concentrado na faixa entre 1 e 2 salários mínimos (155,1 mil vagas), que corresponde a mais de 80% do saldo total. Tais resultados indicam que sequer a menor taxa de desemprego registrada no estado – relativamente ao restante do país – tem sido suficiente para garantir melhores remunerações para os trabalhadores catarinenses, inclusive no recorte do mercado formal de trabalho. Além disso, vale lembrar que os registros do Caged dizem respeito ao salários nominais, de modo que o cenário é agravado pelo avanço da inflação, que atingiu seu pico em novembro de 2021, com alta de 10,7%[5].

Tabela 9 – Saldo por faixa de remuneração (Santa Catarina, novembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

Com relação à distribuição mesorregional dos empregos formais (Tabela 10), a Grande Florianópolis teve o melhor desempenho (5,6 mil novas vagas) em novembro. A cidade de Florianópolis sozinha foi responsável por 3,4 mil vagas, principalmente por conta das contratações de serviços de locação de mão-de-obra temporária e o comércio varejista de vestuário e itens de viagem. Em termos relativos, a mesorregião apresentou alta mensal de 1,3%. No acumulado de 12 meses, o crescimento foi de 10,1%.

Tabela 10 – Saldo por mesorregião (Santa Catarina, novembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

Na sequência ficou o Vale do Itajaí, com 5,4 mil novos empregos formais, e crescimento de 0,9%. Os serviços administrativos e voltados aos escritórios e o comércio varejista sustentam esse saldo em novembro. Já a indústria da região não apresentou bons resultados, sendo decisiva para isso a retração do ramo têxtil. Em 12 meses, o Vale do Itajaí acumula saldo de mais de 58,3 mil vagas e crescimento de 10,1%, sendo este o maior do estado. Já a região Sul registrou saldo de 2,9 mil vagas no mês, uma notável alta de 1%. O setor que mais contribuiu para esse resultado foi o do comércio varejista. Em 12 meses, a região apresentou um crescimento da ordem de 9,2%.

A região Norte apresentou um saldo de 2,1 mil vínculos e cresceu 0,5% em relação a outubro. Joinville é responsável por cerca da metade desse saldo, com bom desempenho nos setores de serviços – notadamente os de limpeza em prédios e em domicílios –  e de comércio varejista em geral. Com o maior parque industrial do estado, a região foi prejudicada pelo mal desempenho da indústria de transformação, tendo sua maior queda no subsetor de fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos. Em relação ao desempenho em 12 meses, a região Norte acumula um crescimento de 8,2%.

A região Oeste obteve um saldo de mais de 0,9 mil vagas no mês, equivalente a uma alta de 0,5% no seu estoque de empregos formais. Em relação aos últimos 12 meses, a região obteve um crescimento de 6,4%, o que a coloca com o pior resultado estadual.

Por fim, a região Serrana apresentou um crescimento da ordem de 0,8% em novembro, representando um saldo de 734 vagas. No acumulado de 12 meses, a região apresenta alta de 7,9%.

Em síntese, os dados de novembro indicam que o emprego formal em Santa Catarina continua em expansão, com destaque para o desempenho da região da Grande Florianópolis e do Vale do Itajaí. Os setores de serviços e comércio foram os responsáveis pela maior parte dos postos formais de trabalho criados no mês, compensando a desaceleração da indústria, que voltou a registrar perdas. Um aspecto importante é a distribuição do emprego entre os sexos, que está em linha com a aceleração das contratações no setor de serviços, que se voltou mais para as mulheres nos últimos meses. Além disso,  segue intocada a tendência de geração de empregos de baixa qualidade: de baixa remuneração (salários mínimos entre 1 e 2) e baixa escolaridade.


[1] Estudante de Economia na UFSC e bolsista do Necat.

[2] Todos os dados apresentados neste texto foram coletados junto à base de dados do Ministério da Economia em 15/01/2022. Em razão das declarações fora do prazo e das revisões periódicas da base de dados, os dados podem divergir ligeiramente dos divulgados nas análises anteriores.

[3] A variação acumulada em 12 meses refere-se ao crescimento do estoque de empregos formais entre dezembro de 2020 e novembro de 2021.

[4] Para mais detalhes, ver MATTEI. Nova revisão do Caged reduziu em 27% o volume do emprego formal criado em Santa Catarina no ano de 2020, Blog do Necat, 2021.

[5] Agência IBGE. Inflação foi de 0,95% em novembro, maior para o mês desde 2015, 2021.

Tags: mercado de trabalho