Menor participação no mercado de trabalho sustenta queda do desemprego catarinense na primeira metade de 2023

27/11/2023 18:16

Pedro Henrique Batista Otero*

Joana Lara Fernandes Feller**

Ao longo dos últimos anos, o Necat/UFSC tem acompanhado de perto a conjuntura do mercado de trabalho catarinense, expondo e discutindo a situação do emprego e do desemprego no estado, à luz do cenário nacional. O objetivo deste texto é retomar essa análise a partir dos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, referentes ao 2º trimestre de 2023.

Conjuntura do mercado de trabalho brasileiro

No Brasil, a taxa de desemprego recuou para 8% no 2º trimestre de 2023, conforme ilustra a Tabela 1. Tal resultado representa uma queda de 0,8 p.p. com relação ao trimestre imediatamente anterior. Já na comparação interanual (relacionada ao mesmo trimestre do ano anterior), houve um recuo de 1,3 p.p. nesse indicador.

Tabela 1 – Força de trabalho e seus indicadores (Brasil, 2º trim/23, mil pessoas)

Fonte: PNADC/T (2023); Elaboração: Necat/UFSC

A queda no desemprego foi puxada, majoritariamente, pela expansão da população ocupada. Na série dessazonalizada, a população ocupada aumentou em 475 mil pessoas na comparação com o trimestre anterior, o que representa uma expansão de 0,5%. Com relação ao mesmo trimestre de 2022, houve um saldo de 641 mil pessoas ocupadas, representando uma expansão de 0,7% neste indicador. Esse movimento foi sustentado, em grande medida, pelo consumo das famílias, beneficiado pelo aumento das políticas de transferência de renda, pelo recente reajuste do salário mínimo real e pelo processo de desinflação (principalmente de alimentos). O consumo do governo também impactou positivamente neste resultado, em função da ampliação dos serviços públicos[1].

Quanto à força de trabalho, foi registrada uma queda de 0,1% no trimestre, enquanto a variação interanual foi de -0,7%. Desse modo, a trajetória de queda na taxa de participação na força de trabalho (61,6% no 2º trim./23, contra 62,6% no 2º trim./2022) vem refletindo o arrefecimento da força de trabalho brasileira. Esse indicador também segue abaixo do patamar pré-pandemia, em decorrência das mudanças de renda, perfil ocupacional e hábitos causadas pela crise da Covid-19[2].

Na série dessazonalizada, a geração de novos empregos fez a população desocupada se reduzir em 226 mil pessoas no trimestre. Já na análise interanual, o recuo foi de 1,4 milhão de pessoas desocupadas. A força de trabalho potencial também segue sendo enxugada, tendo uma redução de 1,5 milhão de pessoas comparado ao mesmo trimestre de 2022. Neste período, a subocupação por insuficiência de horas também apresentou queda, da ordem de 1,4 milhão de pessoas, refletindo uma diminuição da ociosidade da economia, mas também o processo de saída da força de trabalho dos trabalhadores mais precarizados, no que o aumento permanente do nível de transferências de renda joga um papel fundamental. Com isso, a subutilização da força de trabalho (junção dessas três medidas) recuou para 17,8% no trimestre, uma redução de 3,4 p.p. em relação ao mesmo período de 2022.

Emprego e desemprego em Santa Catarina

A taxa de desemprego catarinense ficou em 3,5% no 2º trimestre de 2023, registrando queda de 0,2 p.p. em relação ao trimestre anterior, na série dessazonalizada. Na comparação com o mesmo período de 2022, houve recuo de 0,4 p.p. Esse valor representa o patamar mais baixo de desemprego no estado desde 2014. A evolução histórica da dinâmica do desemprego é ilustrada pelo Gráfico 1.

Gráfico 1 – Taxa de desocupação (Santa Catarina, 2014-2023)

Fonte: PNADC/T (2023); Elaboração: Necat/UFSC

A trajetória de queda do desemprego no estado está associada a uma expansão da população ocupada, que no 2ºtrim./2023 chegou à marca de 3,9 milhões de pessoas, conforme ilustra a Tabela 2. Descontados os efeitos sazonais, houve um saldo de 55 mil novas ocupações em relação ao trimestre anterior. Já na comparação interanual, houve estabilidade na população ocupada e recuo de 0,6 p.p. no nível da ocupação,(64,9%),uma vez que onúmero de ocupações geradas não foi suficiente para absorver o crescimento da população em idade ativa.

Tabela 2 – Força de trabalho e seus indicadores (Santa Catarina,2º trim/23, mil pessoas)

Fonte: PNADC/T (2023); Elaboração: Necat/UFSC

No que diz respeito à força de trabalho, nota-se também uma estagnação no trimestre, com a manutenção do total de 4,1 milhões de pessoas. No entanto, os trimestres anteriores foram de queda nesse indicador, de modo que no 2ºtrim./23 ele se encontra com 18 mil pessoas a menos do que no mesmo período de 2022. Ressalta-se que o encolhimento da força de trabalho se deu em função da redução da população desocupada, combinada à estagnação da população ocupada. Em outras palavras, a queda do desemprego se deve a um novo processo de saída do mercado de trabalho, não ao aumento do nível de ocupação[3]. A conjunção desses fatores fez com que a taxa de participação caísse de 68,4%, no 2º trim./22, para 67,2%, no mesmo período de 2023, encontrando-se em patamar inferior ao período pré-pandemia.

De acordo com os dados contidos na Tabela 2, a queda do desemprego observada no 2º trimestre de 2023 foi acompanhada por um recuo da subutilização da força de trabalho, da ordem de 33 mil pessoas. Esse resultado se deve à diminuição de 20 mil subocupados e de 17 mil desocupados, que saíram do mercado de trabalho.

No entanto, houve aumento de 4 mil pessoas na força de trabalho potencial[4]. No caso particular do desalento – quando o motivo da não procura por trabalho é a falta de perspectiva em encontrar – o aumento foi de 2 mil pessoas, revertendo a tendência de queda nesse indicador.

Tabela 3 – Medidas de subutilização da força de trabalho (Santa Catarina, 2º trim/23, mil pessoas)

Fonte: PNADC/T (2023); Elaboração: Necat/UFSC

Com tais resultados, a taxa de subutilização da força de trabalho estadual atingiu o menor patamar desde 2019, abrangendo 6,3% da força de trabalho ampliada[5]. Em que pese essa redução, vale destacar que Santa Catarina ainda conta com 143 mil desempregados, 53 mil subocupados e 64 mil pessoas na força de trabalho potencial, sendo 18 mil delas desalentadas, conforme demonstra a Figura 1.

Figura 1 – Fluxos do mercado de trabalho (Santa Catarina, 2º trim/23 e variação vs. 2º trim/22)

Fonte: PNADC/T (2023); Elaboração: Necat/UFSC

Considerações finais

A taxa de desemprego é a razão entre a população desocupada (pessoas que não trabalham, mas procuram emprego e estariam disponíveis para assumir uma vaga) e a força de trabalho (que por sua vez é composta pelos próprios desocupados, mais aqueles que estão trabalhando, isto é, os ocupados). Sendo assim, a queda do desemprego pode ocorrer quando as pessoas que estão procurando trabalho conseguem uma vaga, ou quando elas deixam de procurar, saindo, portanto, da força de trabalho. O primeiro movimento reflete, geralmente, um maior dinamismo da atividade econômica, enquanto o segundo pode estar associado a diversos fatores, como a menor expectativa de encontrar trabalho, antecipação de aposentadorias, baixa remuneração do trabalho em comparação com outras fontes de renda, entre outros.

No caso catarinense, no 2º trim./2023, a queda na taxa de desemprego se deu pelo segundo destes caminhos, ou seja, as pessoas que saíram da condição de desocupadas não migraram para alguma ocupação, mas saíram da força de trabalho. O recuo da força de trabalho subutilizada seguiu esse mesmo viés, na medida em que o declínio da subutilização não foi reflexo de um aumento da ocupação, mas, antes, do encolhimento da força de trabalho.


*  Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. E-mail: phbo2000@gmail.com

**Graduanda em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. E-mail: joanalarafernandesfeller@gmail.com.

[1] IPEA. Nota de Conjuntura 33, n.60, 2023.

[2]  Para uma discussão inicial sobre o tema, ver artigo publicado no blog do IBRE/FGV.

[3] Esse fenômeno foi analisado em diversas ocasiões no Blog do Necat. Ver, por exemplo, Heinen (2021).

[4] A força de trabalho potencial é composta pelas pessoas que não procuraram emprego, embora necessitassem trabalhar, ou procuraram, mas não puderam assumir no período de referência.

[5] A força de trabalho ampliada consiste na soma de pessoas que já estão na força de trabalho acrescida ao número de pessoas que estão na força de trabalho potencial.

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