Mercado formal de trabalho catarinense sofre forte queda em dezembro, mas fecha 2021 com alta de 8%

23/03/2022 14:34

Victor Hugo Azevedo Nass[*]

Dando sequência aos acompanhamentos mensais publicados no blog do Necat, o objetivo deste texto é analisar o comportamento do mercado formal de trabalho do Brasil e de Santa Catarina em dezembro de 2021, a partir dos resultados do Novo CAGED[1]. Para isso, serão analisados os saldos mensais e as variações relativas do emprego formal por grupamento de atividade econômica, gênero, escolaridade, faixa de remuneração e mesorregião geográfica.

De acordo com a Tabela 1, em dezembro o Brasil apresentou saldo negativo de 265,8 mil vínculos formais de trabalho, retraindo os estoques em 0,6% no mês. Já Santa Catarina teve saldo negativo de 36,6 mil vínculos, uma retração de 1,6% em seu estoque de vagas formais. É comum que em dezembro os saldos sejam negativos, por conta das reestruturações internas das empresas, mas esse ano o resultado foi particularmente ruim, inclusive na comparação com 2020. Nacionalmente foram perdidas aproximadamente 100 mil vagas a mais do que no ano anterior, enquanto em Santa Catarina a retração foi duas vezes  maior do que a ocorrida em dezembro de 2021.

Tabela 1 – Evolução mensal de estoque, admissões, desligamentos, saldo e variação percentual (Brasil e Santa Catarina, janeiro de 2020 a dezembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

O ano de 2021[2] foi marcado pela recuperação das vagas perdidas em 2020. No agregado do último ano, foram abertas no Brasil 2,7 milhões de vagas de trabalho formal, o que representa uma variação de 7,1%. Santa Catarina abriu 167,8 mil vagas em 2021, seguindo a mesma tendência vista nacionalmente, mas com um ritmo um pouco mais acelerado, visto que o estado obteve um crescimento de 7,9%.

Evolução do emprego formal no Brasil

Conforme os dados contidos na Tabela 2, o setor que apresentou o maior tombo foi o de serviços, com um saldo negativo de 104 mil vínculos, um decrescimento 0,5%. As demissões na área de educação foram as principais responsáveis por deprimir tanto o saldo, sendo que foram fechadas 62,5 mil vagas só nesse segmento. O único subsetor de serviços que teve saldo positivo foi o de alojamento e alimentação, abrindo 20,1 mil vínculos formais. Todavia, no acumulado do ano o resultado do setor foi positivo, com alta de 6,7%.

Tabela 2 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Brasil, dezembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

Na sequência, o segundo pior resultado mensal foi na indústria, com 92 mil postos formais de trabalho fechados. Nesse setor a queda foi generalizada, mas houve três subsetores que fecharam mais de dez mil vagas cada um, que foram: fabricação de produtos alimentícios (-13,1 mil vagas), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-12,6 mil vagas) e preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-10,9 mil         vagas). As três atividades somam 40% da perda mensal do setor. Tomada em seu conjunto, a indústria sofreu uma  retração de 1,1% no mês, acumulando o pior resultado no ano entre todos os setores, com 6,3% de crescimento.

A construção fechou 2021 com o melhor desempenho setorial, com alta de 11,6%. Porém, seu saldo em dezembro foi de -52 mil vínculos, uma queda de 2,2%, que foi distribuída de maneira parecida entre as atividades do setor.

A agropecuária obteve saldo negativo de 26 mil vagas no mês, registrando um decrescimento da ordem de 1,5%. Os destaques negativos foram para: o cultivo de cana-de-açúcar (-3,7 mil vagas), por conta do fim da colheita na região centro-sul do país; atividades de apoio à agricultura (3,5 mil vagas); e o cultivo da maçã (-2,8 mil vagas), devido ao fim dos cuidados pré colheita. No período de 12 meses, o setor agropecuário registrou crescimento de 8,8%.

O setor de comércio foi o único que atingiu saldo  positivo, ainda que diminuto, com 9 mil novas vagas, uma alta de apenas 0,1%. Esse resultado foi bastante heterogêneo entre seus subsectores: enquanto o comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios e os super e hipermercados abriram 8,3 e 5 mil vagas, respectivamente, o comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas e outros comércios varejistas fecharam 2,5 e 3,1 mil vagas, respectivamente. No acumulado do ano o setor cresceu 7%.

A Tabela 3 apresenta o saldo de vínculos formais de trabalho por sexo no Brasil. As perdas de dezembro foram maiores entre os homens, que tiveram uma retração de 164 mil vagas, contra 101 mil vagas  femininas perdidas. Todavia, no acumulado de 12 meses a situação é diferente, com o sexo masculino liderando o saldo de novas vagas, com uma diferença de 165,7 mil postos formais de trabalho.

Tabela 3 – Saldo por sexo (Brasil, dezembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 4 apresenta a distribuição do saldo de empregos formais por nível de escolaridade. Em dezembro, a maior parte das perdas foram em vagas onde os trabalhadores possuem ensino superior completo (-76,1 mil vagas). Logo atrás está a faixa dos com trabalhadores com ensino médio completo (-75,8 mil). A terceira maior perda ficou por conta da faixa com ensino fundamental incompleto (-48,4 mil). Todas as outras faixas também tiveram resultados negativos no mês. Inversamente, no acumulado de 2021 todas as faixas de escolaridade registraram expansão, com destaque para as vagas cujos trabalhadores possuem ensino médio completo, que representam mais de 70% do saldo anual.

Tabela 4 – Saldo por nível de escolaridade (Brasil, dezembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 5 apresenta a distribuição do emprego formal por faixa de remuneração. Em dezembro, foram fechadas 145,4 mil vagas com remuneração entre 1 a 2 salários mínimos, o que corresponde a mais de 50% do saldo mensal. O segundo menor saldo por faixa salarial foi a de 2 a 3 salários mínimos, onde foram fechadas 42,1 mil vagas. Em relação ao acumulado do ano, observa-se que as ocupações com remuneração  entre 1 e 2 salários mínimos representaram quase a totalidade das vagas geradas (2,6 milhões), revelando uma forte concentração do emprego formal nessa faixa salarial.

 Tabela 5 – Saldo por faixa de remuneração (Brasil, dezembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

Nota: Faixas de remuneração em salários mínimos de 2021 (R$ 1.100).

Evolução do emprego formal em Santa Catarina

Em dezembro a indústria foi o setor que mais sofreu perdas em Santa Catarina, fechando 17,8 mil vagas, uma queda de 2,3%. As atividades que mais contribuíram para o saldo mensal foram as de: confecção de artigos do vestuário e acessórios (-4 mil vagas), fabricação de produtos têxteis (-2,1 mil vagas), fabricação de produtos alimentícios (-1,6 mil vagas) e a fabricação de produtos de produtos de madeira (-1,2 mil vagas), que juntos representam 50% das perdas do setor no mês. No acumulado de 2021,  o setor fechou com um crescimento de 7,6%, levemente abaixo da média estadual.

Tabela 6 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Santa Catarina, dezembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

Na sequência, aparece o setor de serviços, que teve uma retração de 1,6%, fechando  quase 14 mil vagas. Essas perdas estiveram bastante concentradas na administração pública (-6,3 mil vagas no mês) e nas atividades de organizações associativas (-3,1 mil). A exceção ao cenário de queda foi o subsetor de alojamento e alimentação, que continua apresentando saldo positivo, tendo aberto 2,1 mil vagas. Em um ano, foi o setor que mais teve destaques ao longo dos meses e cresceu 8,4%.

A construção apresentou saldo negativo de 4,2 mil empregos formais, equivalente a um decrescimento de 3,6% no mês. Essa queda foi muito concentrada na construção de edifícios, que fechou 2,5 mil vagas. No acumulado do ano, o setor foi o que mais cresceu em Santa Catarina, com alta expressiva de 12,6%.

A agropecuária fechou 1,3 mil vagas formais de trabalho em dezembro, sendo quase 1,1 mil deles somente no cultivo da maçã, que passou pelos últimos processos antes da colheita, como podas verdes e tratamentos fitossanitários. No mês, o setor retraiu-se em 3,1% e, no acumulado do ano, foi o que menos cresceu, apenas 3,1%.

O comércio foi o único que mostrou saldo positivo, mesmo que modesto, de somente 642 vagas. Assim como visto nacionalmente, o setor mostrou comportamentos distintos nas suas atividades: enquanto os super e hipermercados apresentaram saldo positivo de 1,2 mil vagas, o comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas e o comércio varejista de equipamentos de informática e comunicação fecharam 494 e 311 vagas, respectivamente. Esse comportamento representou uma estagnação do setor no mês. Já no acumulado do ano, o setor cresceu 7,2%.

Conforme a Tabela 7, das mais de 36,6 mil vagas fechadas em dezembro, 19,6 mil eram ocupadas por mulheres e 17 mil por homens. No saldo acumulado anual as mulheres registram leve vantagem sobre os homens, com alta de 87,1 mil vínculos formais de trabalho, contra 80,7 mil.

Tabela 7 – Saldo por sexo (Santa Catarina, dezembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

Conforme indicam os dados contidos na Tabela 8, a faixa de escolaridade que mais fechou postos formais de trabalho foi a do ensino médio completo, com menos 10,6 mil vagas. Na sequência vem a faixa dos trabalhadores com ensino superior completo, onde o saldo foi negativo em 8,3 mil vagas. A terceira maior perda foi na faixa do ensino médio incompleto, onde 6,3 mil trabalhadores ficaram sem emprego em dezembro. No panorama anual, a faixa do ensino médio completo representa mais de 60% das vagas abertas, com um saldo de 107,1 mil novos vínculos . O segundo melhor resultado acumulado foi da faixa de ensino médio incompleto, que concentrou 24,2 mil vagas, 14% do saldo.

Tabela 8 – Saldo por nível de escolaridade (Santa Catarina, dezembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 9 apresenta a distribuição do emprego formal por faixa de remuneração. Em dezembro, 18,6 mil vagas formais foram fechadas na faixa entre 1 e 2 salários mínimos, que concentra metade da queda mensal. Na sequência, a faixa de 2 a 3 salários mínimos foi a segunda com menor saldo, -7,7 mil vagas, representando 21% do saldo mensal. No acumulado de 12 meses, a faixa entre 1 e 2 salários mínimos, que abriu 136,4 mil vagas, corresponde a mais de 80% do saldo total. Tais resultados indicam que sequer a menor taxa de desemprego registrada no estado – relativamente ao restante do país – tem sido suficiente para garantir melhores remunerações para os trabalhadores catarinenses, inclusive no recorte do mercado formal de trabalho. Além disso, vale lembrar que os registros do Caged dizem respeito ao salários nominais, de modo que o cenário é agravado pelo avanço da inflação, que encerrou o ano de 2021 com alta de 10,06%[3].

Tabela 9 – Saldo por faixa de remuneração (Santa Catarina, dezembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

Com relação à distribuição mesorregional dos empregos formais (Tabela 10), a região do Vale do Itajaí, com -13,1 mil novos empregos formais, e decrescimento de 2,1%. O que mais puxou esse saldo foram as demissões na administração pública, construção, confecção têxtil e fabricação de artigos do vestuário e acessórios. No acumulado, a região cresceu 9,1%.

Tabela 10 – Saldo por mesorregião (Santa Catarina, dezembro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2022); Elaboração: NECAT/UFSC.

Na sequência, a região Norte apresentou um saldo negativo de 8,5 mil vínculos, retraindo 1,9% em relação a novembro. Os subsetores que puxaram esse saldo foram principalmente as atividades administrativas e serviços complementares e vários ramos da indústria. Vale ressaltar que Joinville sozinha é responsável por mais de 75% dessa queda mensal.

No Oeste, o saldo regional foi de -8,2 mil vagas em dezembro, algo que representa uma retração de 2% do estoque de vagas formais da região. Esse resultado veio muito influenciado pelo encerramento de vagas na administração pública, na indústria alimentícia e até no cultivo da maçã. No acumulado do ano, a região é a com a menor taxa de crescimento, de 7%.

O Sul Catarinense perdeu 3,2 mil vagas em dezembro, diminuindo suas vagas formais de trabalho em 1,1%. A administração pública foi a atividade que mais colaborou com o saldo negativo na região. No acumulado anual, a região cresceu 8,1%.

A Grande Florianópolis encerrou quase 3 mil vagas no último mês do ano, uma perda de 0,7% dos seus postos formais de trabalho. Essa queda foi puxada principalmente pela construção e pela administração pública. No ano, a região cresceu vigorosos 9,3%.

Por último, a região Serrana teve a menor queda entre as mesos do estado, com um saldo de -1,9 mil vagas. O resultado foi bem distribuído entre as atividades da região, mas 1/4 da queda mensal se deu por conta do cultivo da maçã. No acumulado, a região cresceu 7,3% em 2021.

Em síntese, os dados de dezembro mostram um efeito sazonal, influenciado pelas  reestruturações de final de ano das empresas, que normalmente apresentam saldos negativos, mas mesmo assim, tanto regionalmente quanto nacionalmente, o saldo foi mais abaixo do que o esperado.

Sobre o ano como um todo, o emprego formal em Santa Catarina mostra uma virtuosa expansão, com destaque para o desempenho da região do Vale do Itajaí e da Grande Florianópolis. Os setores de serviços e a indústria foram os que mais geraram empregos formais durante o ano. Um aspecto importante é a distribuição do emprego entre os sexos, e as mulheres tiveram mais vagas do que os homens neste último ano, até por conta ainda da recuperação de postos perdidos na pandemia, principalmente no setor de serviços. Por último, cabe salientar a manutenção da tendência de geração de empregos de baixa qualidade: de baixa remuneração (salários mínimos entre 1 e 2) e baixa escolaridade.


[*] Estudante de Economia na UFSC e bolsista do Necat.

[1] Todos os dados apresentados neste texto foram coletados junto à base de dados do Ministério da Economia em 2/02/2022. Em razão das declarações fora do prazo e das revisões periódicas da base de dados, os dados podem divergir ligeiramente dos divulgados nas análises anteriores.

[2] A variação acumulada em 12 meses refere-se ao crescimento do estoque de empregos formais entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022.

[3] Agência Brasil. IBGE: inflação oficial fecha 2021 com alta de 10,06%, 2022.

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