Sazonalidade de setembro oculta desaceleração do mercado de trabalho formal catarinense
Pedro Henrique Batista Otero*
Joana Lara Fernandes Feller**
Segundo os dados do Novo Caged referentes a setembro, o mercado formal de trabalho no Brasil e em Santa Catarina continua em expansão, com criação de 211,8 mil e 12 mil novas vagas, respectivamente. Em ambos os casos, a variação relativa foi de 0,5% na análise mensal, conforme demonstrado na Tabela 1. Tal resultado conta com forte componente sazonal, como é comum nos terceiros trimestres do ano. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, o cenário é de desaceleração na abertura de vagas[1].
Tabela 1 – Saldo de vínculos formais de trabalho no Brasil e em Santa Catarina
* Estoque de empregos em set/23 vs. estoque em dez/22
** Estoque de empregos em set/23 vs. estoque em set/22
Fonte: Novo Caged (2023); Elaboração: NECAT/UFSC
Observando o desempenho do acumulado do ano (janeiro a setembro), o Brasil registrou um acréscimo de 3,8% no volume de empregos formais, enquanto em Santa Catarina o crescimento foi de 3,5%. No acumulado de 12 meses, o estado catarinense apresentou variação de 2,3%, frente a 3,4% da média nacional. Essa diferença pode ser atribuída, principalmente, ao fato do Brasil ser mais dependente do consumo das famílias, já que os serviços prestados às famílias, em especial, desempenham um papel mais significativo na composição de seus empregos em comparação com Santa Catarina.
Mais uma vez, o setor de serviços foi o principal responsável pelo aumento de empregos no mercado de trabalho de Santa Catarina, como demonstrado na Tabela 2. Em setembro, o setor contribuiu com a criação de 7,1 mil novos postos formais de trabalho, registrando aumento de 0,8%. Dentre os empregos gerados, 1,4 mil foram em empresas especializadas na contratação de mão de obra temporária, modalidade que segue em contínua expansão desde a aprovação da contrarreforma trabalhista. Outro destaque foram os serviços de escritório e apoio administrativo, cujo saldo de quase 900 vagas pode ser atribuído, em parte, à redução do trabalho remoto e à consequente retomada do trabalho presencial, resultando em um maior número de funcionários nas instalações das empresas[2]. Além disso, é importante destacar o crescimento sazonal dos subsetores de alojamento e alimentação e transportes, ambos com mais de mil vagas abertas no mês.
Tabela 2 – Saldo de empregos formais por setor de atividade econômica no Brasil e em Santa Catarina
* Estoque de empregos em set/23 vs. estoque em dez/22
Fonte: Novo Caged (2023); Elaboração: NECAT/UFSC
No setor de comércio, houve a criação de 2,3 mil novos empregos, com um aumento de 0,5%. No entanto, é importante observar que esse aumento é de natureza sazonal. Quando comparado com o mesmo período de 2022, o resultado é inferior, o que sinaliza que o setor de comércio segue desacelerando. No acumulado do ano, o saldo do setor foi de 5,2 mil novas vagas.
O setor industrial apresentou crescimento de 0,2% em setembro, sendo responsável pela geração de 1,5 mil novos postos formais de trabalho. O principal destaque recai sobre a fabricação de produtos de material plástico e panificados, que apresentaram resultados positivos devido à manutenção do ritmo de consumo das famílias. Apesar da sazonalidade positiva na indústria alimentícia (produção de sorvetes e bebidas para o final de ano, por exemplo), o desempenho desse subsetor pode ser considerado fraco em setembro, refletindo, em especial, a redução na demanda externa por carne suína. Além disso, as atividades de confecção seguem contribuindo negativamente para os resultados do setor. No acumulado do ano, a indústria catarinense abriu 18,5 mil vagas.
Em setembro, o setor agropecuário apresentou 614 novas vagas formais e obteve a maior expansão no volume de empregos formais entre os setores no estado, com crescimento na ordem de 1,3%. Destaque para a abertura de vagas nas lavouras temporárias de milho, que registraram safras positivas no período. No acumulado do ano, o setor apresentou saldo de 518 vagas.
O setor de construção gerou 458 novos postos formais de trabalho, apresentando expansão de 0,4%. O destaque principal recai sobre as obras de montagem industrial, sobretudo no município de Tubarão, que sozinho gerou 263 novas vagas neste subsetor. Destaque negativo para o setor de construção de edifícios, que fechou 111 vagas. Esse resultado contrasta com o saldo positivo no mesmo período do ano passado, o que corrobora a percepção de que o ciclo de expansão do setor imobiliário, iniciado ao final de 2020, pode ter chegado ao fim. No acumulado do ano, o saldo do setor de construção foi de 12,5 mil vagas.
A média salarial real de admissão no estado apresentou seu primeiro recuo mensal no ano, de 0,4%. Com isso, o indicador atingiu R$2.037,82. Na análise interanual, foi registrada desaceleração pelo quinto mês consecutivo, com crescimento real em setembro de apenas 1,2%, na comparação com o mesmo período de 2022.
Análises mais aprofundadas a respeito do mercado de trabalho formal catarinense e informações relativas ao Novo Caged de setembro de 2023 serão publicadas em breve no informativo NECAT.
* Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. E-mail: phbo2000@gmail.com
**Graduanda em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. E-mail: joanalarafernandesfeller@gmail.com.
[1] Em setembro de 2022, houve expansão de 0,7% no estoque de empregos nacional e de 0,6% no estadual.
[2] Diversos estudos têm registrado essa tendência em 2023. Ver, por exemplo, levantamentos divulgados pelo Valor Econômico e pela CNN.